metropoles.com

Cartilha do PCC é afronta à sociedade civilizada

Documento lido em reuniões de presos e em células organizadas nas comunidades por familiares dos detentos tenta legitimar a criminalidade

miguel lucena

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Divulgação/Imagem ilustrativa
PCC-840×577
1 de 1 PCC-840×577 - Foto: Divulgação/Imagem ilustrativa

A cartilha que o grupo criminoso Primeiro Comando da Capital (PCC) lançou para os filiados (presos e familiares) e aliados (advogados, políticos, militantes de causas diversas e intelectuais) pode ser interpretada como um manual de orientação para a mobilização em prol da causa que os criminosos defendem. É um manifesto cujo conteúdo expressa o que Freud tratou como mal-estar na civilização: a neurose provocada pela contenção dos impulsos humanos em benefício da vida em sociedade.

Já o estatuto da organização criminosa, chamado de Código de Direito do PCC, detalha como funciona a facção criminosa e como devem pensar e agir seus membros. O estatuto e a cartilha são documentos distintos. Enquanto o primeiro tem caráter organizacional, o segundo busca doutrinar seus membros. É o contradiscurso de combate “a um sistema opressor”, e visa explicar e legitimar — para seus membros e para a sociedade — tanto a existência da organização quanto seus atos.

A cartilha é lida em reuniões de presos e em células organizadas nas comunidades por familiares dos detentos, como programa motivacional para a união do grupo e para demonstrar que o PCC “é o legítimo representante da resistência a um sistema opressor que impede a inserção dos mais pobres”.

Para viver em sociedade, o ser humano teve de renunciar a impulsos sexuais e agressivos, que o levavam a estuprar, roubar, ferir e matar. Os integrantes do PCC, no entanto, enxergam a contenção como opressão do poder instituído.

Pedem paz, justiça e liberdade. Paz entre eles, justiça e liberdade para eles.

Afora a conquista de um sistema penitenciário humanizado, o manual do PCC é um manifesto contra a civilização: as leis, os códigos e as superestruturas erguidas para dirimir os conflitos entre os indivíduos.

Os mais pobres, a quem o PCC alega defender, são os mais atingidos pela criminalidade: oprimidos em seus lares, obrigados a homiziar delinquentes e esconder drogas e armas, assaltados a caminho do trabalho e violentados na volta.

A liberdade apregoada é a de fazer o que lhes convier, sem serem importunados. Onde já se viu impedir o coitado do ladrão de exercer seu ofício?

A paz é entre as facções, para que elas possam transformar a vida das vítimas em um inferno, invadindo casas, violentando e subtraindo de quem insiste em ganhar a vida honestamente.

O PCC finaliza a cartilha tomando de empréstimo um slogan usado pelo guerrilheiro urbano Carlos Lamarca: “Ousar lutar, ousar vencer!”.

É, realmente, muita ousadia.

Miguel Lucena, delegado e diretor de Comunicação da Polícia Civil do Distrito Federal

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?