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Candidatos ao GDF parecem subestimar eleitores brasilienses

Nenhum deles mostrou até agora, com clareza e objetividade, como vai melhorar a gestão e realizar o que propõe

Autor Hélio Doyle

atualizado

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Diagnósticos superficiais, soluções simplistas, afirmações demagógicas, respostas vazias. Assim tem sido, de modo geral, o conteúdo dos debates até agora realizados entre os candidatos a governador. Os programas de governo por eles apresentados à Justiça Eleitoral também se limitam a apontar problemas e apresentar soluções genéricas e mal fundamentadas, sem mostrar como, efetivamente, será realizado o que propõem.

É preciso admitir que o formato dos debates não ajuda a aprofundar, ainda mais para políticos habituados a falar muito e dizer pouco ou para os que desconhecem o poder da síntese. Então, fica mais fácil elaborar frases de efeito, criar conceitos que estão mais para slogans de propaganda e listar promessas e compromissos que agradam. De vez em quando, para impressionar a plateia, encenar um dedo em riste ou um tom de voz mais alto.

Parece que os candidatos que participaram dos debates na Band e na TV Brasília/Correio subestimam os eleitores, achando que serão escolhidos por eles porque criticam o governador Rodrigo Rollemberg com maior ênfase, agradam e bajulam mais aos servidores públicos ou prometem inúmeras obras e as soluções para todos os problemas. Já Rollemberg parece achar que justificará o mau governo que faz, segundo a avaliação de mais de 70% dos brasilienses, listando o que realizou, tentando impressionar com números e ironizando os adversários.

Permanece, entre os oposicionistas, o velho e demagógico discurso do “não falta dinheiro, falta gestão”, pois a realidade é que faltam ambos, e quem quiser fazer uma boa gestão terá de administrar a escassez e buscar alternativas viáveis. Na defensiva, o governador tenta mostrar que recebeu os cofres vazios (o que é verdade), não teve dinheiro suficiente durante o mandato (o que é meia verdade), mas fez boa gestão – o que, obviamente, não é verdade.

Falta objetividade
Nenhum dos candidatos mostrou até agora, com clareza e objetividade, como vai melhorar a gestão com o dinheiro que estará disponível ou que poderá ser obtido. Fingem que não sabem que, quando se tem um orçamento e se aumenta uma despesa, é preciso tirar o recurso de outra destinação. A soma dos gastos tem de caber no orçamento e na capacidade de endividamento. Cada real dado de aumento salarial a um servidor, por exemplo, está deixando de ser gasto em outra rubrica.

Os candidatos dizem, sempre de modo superficial, mas tentando passar convicção, que aumentarão a receita e assim terão recursos para financiar seus projetos e dar os aumentos salariais, o que seria ótimo. Ao mesmo tempo, prometem que não vão aumentar impostos, o que é bom. Mas não dizem de onde, então, virá o dinheiro e caem no vazio. Não adianta alardear, vagamente, que será combatendo a sonegação, melhorando a gestão e cortando cargos comissionados, sem mostrar o que isso significará realmente.

Alguns candidatos preveem, em seus programas, a concretização de parcerias público-privadas e concessões de serviços – uma maneira de haver investimentos quando o limite do Estado é curto – e nenhum deles admite privatizar ou extinguir empresas públicas. Esses temas não surgem nos debates, ou pelo temor de desagradar às corporações de servidores públicos e à esquerda tradicional, ou porque os candidatos que poderiam fazer essa discussão não são convidados.

O Instituto Hospital de Base se tornou um cabo de guerra. Entende-se que candidatos da esquerda sejam contra ele por considerarem que é uma maneira de privatizar a administração da saúde pública. Mas os candidatos tradicionalmente de direita e liberais não dizem, concretamente, sob que fundamentos defendem a extinção do instituto, e Rollemberg não mostra por que considera a experiência válida. É o achismo em sua mais clara expressão.

O que vai mudar?
Rollemberg é candidato à reeleição, mas ainda não disse o que mudará, no segundo mandato, para que faça pelo menos um bom governo. Como ele mesmo dizia na campanha de 2014: para fazer mais do mesmo, não vale a pena se candidatar. A arrumação da casa, de que tanto fala, não foi a faxina que deveria ter sido e não garante que a situação esteja melhor nos próximos anos – até porque muita sujeira foi simplesmente jogada para o próximo cômodo, ou seja, para os próximos anos.

Sem dinheiro real (o que existe na cabeça deles é virtual) e precisando melhorar a gestão, os candidatos que tiveram o privilégio de ir aos dois debates pós-registro deveriam dizer é como governarão. Se Rollemberg mantiver o mesmo estilo de governar que mostra, seu novo mandato será outro fracasso. Se seus adversários não mostrarem o que vão fazer diferente, daqui a quatro anos o vencedor da eleição estará, como o atual governador, tendo de explicar por que não cumpriu suas promessas.

O como governar, naturalmente, não se responde com a afirmação infantil e demagógica de que secretário flagrado no gabinete será demitido, ou que o governador despachará nos hospitais e escolas. E é preciso que os candidatos entendam que governar é mais do que administrar ou gerenciar e, alguns deles, que dirigir uma empresa privada nada tem a ver com comandar o Estado. Governador não é gerente.

Uma questão fundamental é se todos, inclusive Rollemberg, manterão as relações espúrias que ele e seus antecessores tiveram com a Câmara Legislativa, encobrindo a concessão de favores e benesses ilegítimos e imorais aos distritais com a capa de uma pretensa governabilidade. Se continuar o loteamento de secretarias e administrações regionais em troca de apoio político, ou até mesmo a criação de secretarias para favorecer futuros candidatos a deputado, como fez o governador, a ineficiência da gestão e a corrupção (sim, existe) continuarão e os planos que apresentam não sairão das telas dos computadores.

Nenhum dos candidatos reconhece publicamente que, sem mudanças radicais na máquina estatal montada para não funcionar e possibilitar a apropriação privada dos recursos públicos por pessoas jurídicas e físicas, nada funcionará de verdade. Isso inclui: a estrutura de governo, que é burocrática, ineficiente, improdutiva e redundante; os gastos inúteis e dispensáveis com o custeio dessa máquina; e as carreiras, mal estruturadas e formadoras de castas em detrimento de alguns setores do funcionalismo, como os professores, e da própria população.

Falta aos candidatos que têm ido aos debates coragem para falar de temas assim e se comprometer com princípios modernos de gestão e com a participação da população nas decisões e no controle dos recursos arrecadados e gastos. Não apenas declarando intenções, mas mostrando como. Se falta a eles coragem para isso, fica difícil para os eleitores esperar que enfrentem os inúmeros problemas que encontrarão com a atitude e firmeza que faltaram a Rollemberg nesses três anos e meio.

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