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Bullying na escola: quantos mais veremos morrer?

Com vontade política e planejamento estratégico, é possível reduzir a incidência de episódios violentos

Autor Rafael Parente

atualizado

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1 de 1 atentado tiros escola goyases - Metrópoles - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Na semana passada, um jovem que se sentia vítima de bullying levou uma arma para sua escola em Goiânia e a disparou contra colegas. Dois morreram e outros quatro foram feridos. Infelizmente, notícias relacionadas a violências de vários tipos, incluindo mortes, dentro ou ao redor de escolas brasileiras têm aumentado consideravelmente. Para agravar a situação, há fatos não noticiados publicamente, como o número de suicídios de jovens relacionados a agressões desconhecidas dos adultos, como as sexuais e a maioria das sofridas por alunas e alunos LGBTs.

Boa parte dessa violência poderia ser evitada se investíssemos mais em pesquisas e políticas públicas de qualidade, especialmente para melhorar as relações afetivas, para a educação de valores, a criação de comunidades escolares seguras e prevenção do bullying. Não temos, em nosso país, diagnósticos suficientes. Não sabemos os números; nem onde, porque ou como acontecem agressões com mais frequência. Tampouco temos recomendações oficiais de políticas públicas, melhores práticas ou sobre o que fazer para diminuir as ocorrências. Em uma das raras pesquisas relevantes sobre bullying, cientistas da FLACSO (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais) constataram que 40% dos alunos brasileiros sofreram violência física ou verbal dentro da escola no ano anterior. A agressão foi cometida por colegas em 65% dos casos.

O bullying é definido como uma atividade causada por comportamentos agressivos e repetitivos com a intenção de agredir uma outra pessoa fisicamente, mentalmente ou emocionalmente. Ele pode acontecer em diversos locais e contextos. O número de agressões chamadas de cyberbullying, ocorridas pela internet, nas redes sociais ou por telefones, tem crescido consideravelmente. Acontece em todo o mundo e não faz distinções socioeconômicas, étnicas ou culturais. Pesquisas internacionais estimam que de 20% a 30% dos alunos se envolvem agridem ou são vítimas. Os últimos, geralmente, são tímidos, mais fracos fisicamente ou menos competentes emocionalmente.

De acordo com dados da Prova Brasil de 2015, 74% dos diretores de escolas públicas do ensino fundamental dizem ter, em suas escolas, projetos relacionados à violência, e 83% alegam possuir projetos sobre bullying. No entanto, não temos informações sobre a abrangência ou a efetividade dessas ações. Em países norte americanos e europeus, pesquisas mostram que a quantidade de violências relacionadas à prática diminuí em consequência dos investimentos em pesquisas e políticas de prevenção. Esses países possuem informação adequada sobre os tipos de violência e o que fazer para combatê-los.

Já se sabe, por exemplo, que a abordagem clássica de dar aulas sobre os perigos do bullying, incluindo uma história triste e dramática para ilustrar, não é efetiva. Os alunos não buscam imitar o comportamento de figuras de autoridade, mas dos colegas admirados. Especialmente a partir da puberdade, os jovens precisam sentir que fazem parte de um grupo. Assim, eles vão deixar de praticar bullying e passarão a ter comportamentos mais positivos se esse for o exemplo de colegas mais influentes.

Uma pesquisa realizada no estado norte-americano de Nova Jersey pesquisou e comprovou que uma abordagem baseada nessa dinâmica funciona. As cientistas treinaram os alunos mais influentes para que eles espalhassem, com palavras e ações, mensagens contra o bullying e outros tipos de violência. Funcionou muito bem. Da mesma forma, há diversos programas e ações em outros países, como o Olweus na Noruega e o KiVa, na Finlândia, com bons resultados e ganhos de escala.

Não precisamos de milagres. Com vontade política e planejamento estratégico, poderemos investir no desenvolvimento de comunidades escolares mais coesas e seguras, onde os alunos sintam que fazem parte de uma família.

Precisamos que essas comunidades ensinem, pelo exemplo, como os alunos podem defender uns aos outros, ter responsabilidade sobre suas ações, emoções e sua vida acadêmica. Enquanto não fizermos esse investimento, continuaremos contribuindo para o aumento nos números de violências e de mortes em nossas escolas.

*Rafael Parente é PhD em educação (NYU), CEO da Aondê / Conecturma (empresa de educação e tecnologia), cofundador do Movimento Agora!, criador e apresentador do Canal Educação na Veia, membro do conselho do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (FGV/EBAPE Rio) e sócio-efetivo do Movimento Todos pela Educação

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