Barcelona 1992, a minha primeira lembrança olímpica. E que lembrança!
Sempre gostei de grandes eventos esportivos. O que me interessava mesmo era torcer por atletas que representassem o Brasil. A Olimpíada de Barcelona, em 1992, é a primeira que tenho uma recordação clara e, sem dúvida, a que guardo com mais carinho na memória
Fernando Braga
atualizado
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Desde criança, sempre gostei de grandes eventos esportivos. Não que eu fosse competitivo ou curtisse me envolver em torneios. O que me interessava mesmo era sentar na frente da TV e torcer por atletas que representassem o Brasil. Não me importava se a disputa era no pebolim ou na bocha. Se houvesse alguém de verde e amarelo lá estava eu, com os dedos cruzados e na torcida pela vitória. Foi assim que acompanhei, no auge dos meus 11 anos, a Olimpíada de Barcelona, em 1992. A primeira que tenho uma recordação clara e, sem dúvida, a que guardo com mais carinho na memória.
O primeiro momento “mágico” aconteceu ainda na cerimônia de abertura, quando um arqueiro lançou uma flecha na direção da pira olímpica, que, como num passe de mágica, fez o símbolo dos Jogos se acender. Mais tarde, soube que tudo não passava de um grande efeito e que o artefato não havia sido a responsável por iluminar a pira. Mas quer saber? Aquilo não precisava ser real para ser inesquecível.
Lembro de sair correndo da escola para acompanhar os jogos de vôlei daquele timaço comandado por José Roberto Guimarães. Apesar de ter começado a competição longe do favoritismo, a equipe brasileira mostrou porque viria a transformar o esporte em um dos mais queridos do país. Como não ficar extasiado com a brilhante atuação de Marcelo Negrão, Tande, Maurício, Carlão, Paulão e Giovane (sem esquecer de Talmo, Janelson, Pampa, Douglas, Amauri, Jorge e André) contra a fortíssima seleção dos Estados Unidos, nas semifinais? Aquele 3 x 1 comemorado aos gritos na sala da minha casa, ao lado de meus pais e irmãos, era a prova de que o restante do mundo deveria nos temer quando entrássemos em quadra. Essa geração, marcada como a primeira a conquistar um ouro em esportes coletivos para o país, provou que era possível ser gigante jogando bola com as mãos.
No judô, a alegria também foi grande ao ver um desconhecido brasileiro surpreendendo o mundo e chegando no lugar mais alto do pódio. Foi com Rogério Sampaio que tive o meu primeiro contato com expressões como wazari e ippon. E, depois que aprendi, não parei de repeti-las. Percebi com Rogério Sampaio que um franzino também poderia ser gigante e que o Brasil também era respeitado nos tatames.
Mas, sem dúvida, um dos momentos mais especiais da competição foi a medalha de prata de Gustavo Borges. Nunca uma prova de 100 metros na natação foi capaz de reunir tantas emoções. Ao contrário do vôlei brasileiro e de Rogério Sampaio, chegamos à Barcelona com chances reais de conquistar o pódio. Mas um erro no cronômetro quase pôs tudo a perder. Por isso o espanto ao ver o placar com o tempo em branco no fim da prova. O cara “voou” na piscina! Não era possível que o cronômetro iria acabar com as nossas esperanças. Não acabou. Após revisões no tempo, veio a confirmação de que Borges havia ficado atrás apenas do russo Alexander Popov. Aquela prata teve um sabor de ouro incrível.
Mas nem só de medalhas se vive uma Olimpíada. Lembro de ter acompanhado de perto as jogadas de Magic Paula e Hortência, aquela dupla extraordinária que me fez abrir os olhos para o basquete. No masculino, vi Oscar Schmidt e cia. serem atropelados pelo espetacular time dos Estados Unidos formado por Michael Jordan, Magic Johnson e Charles Barkley. Mas quem se importava? Era o Dream Team!
Sem contar o atletismo, que bateu na trave com Zequinha Barbosa e Róbson Caetano. Foram poucas medalhas, sim. Mas aqueles Jogos me marcaram de uma forma tão grande que não posso deixar de imaginar o que essa Olimpíada do Rio fará com milhões de crianças que terão o primeiro contato com um evento dessa proporção.
Faltou organização durante a preparação? Sem dúvida. As obras poderiam ser melhores? As delegações estrangeiras que o digam. Houve desvios? Bem, estamos no Brasil. Mas, apesar de todos os problemas, é chegada mais uma edição dos Jogos. E como adoro competições esportivas lá vou eu de novo para a frente da TV torcer pelo sucesso dos nossos atletas e para que o nosso país saiba tirar proveito de um evento dessa magnitude.