Até quando haverá o apagamento de artistas do Teatro Negro Brasileiro?
O Teatro Negro Brasileiro está cada vez mais pulsante, mas artistas ainda enfrentam desafios estruturais
Rodrigo França
atualizado
Compartilhar notícia
Na semana passada, tivemos uma das principais premiações do teatro brasileiro – o Prêmio Shell. Uma festa lindíssima, mas alguns nomes fundamentais para o evento não foram divulgados em parte da grande mídia. Mesmo a atriz Verônica Bonfim tendo brilhado na apresentação do evento junto à sua colega Marisa Orth, somente o nome da Marisa foi citado em alguns dos importantes jornais do país. A Cia dos Comuns ganhou o prêmio na categoria especial – pelos 22 anos de uma atuação continuada e imprescindível para a formação e o fortalecimento da cena teatral preta brasileira, contribuindo, de forma decisiva, para o fomento e a formação de artistas negros e para a luta antirracista em nossa sociedade. Também na mesma situação da Bonfim.
Até quando haverá o silenciamento e o apagamento de artistas que fazem o Teatro Negro Brasileiro? Vale ressaltar que está cada vez mais pulsante, com temporadas lotadas, mesmo com pouco ou nenhum patrocínio, porque a maioria continua fazendo na resistência. Sim, há também desigualdade nas fatias de patrocínio desse país.
É desonesto contar a história do teatro brasileiro sem falar de atrizes e atores negros, porém os espaços continuam ínfimos — mesmo com altíssima qualidade em suas produções.
Mas teatro não é teatro? Por que radicalizá-lo?
Porque há uma especificidade cultural em realizar a arte. Porque se entende plenamente sobre o Brasil por uma análise racializada.
Sempre me perguntam: O QUE É O TEATRO NEGRO?
Poderia conceituar, trazer centenas de teses sobre o “Teatro Experimental do Negro”, sobre a cultura de Griot.
O certo seria que todos aqueles que amam a arte brasileira fossem cônscios de tamanha grandeza e contribuição desse teatro. Porque, antes da celebração ao deus Dionísio, o povo africano já se fazia presente em performances. Cultura que também foi trazida para o Brasil. Deveria ser conteúdo obrigatório em qualquer curso de artes em geral. Deveria!
Somos movimento contínuo, traduzidos por Abdias do Nascimento, Aldri Anunciação, Alexandre Paz, André Muato, Antônio Pitanga, Antônio Pompêo, Aquilombamento Ficha Preta, Aretha Sadick, Babu Santana, Benjamin de Oliveira, Carmen Luz, Chica Xavier, Cia Black&Preto, Cia dos Comuns, Cia. Étnica de Dança e Teatro, Cida Moreno, Clementino Kelé, Coletivo Preto, Cridemar Aquino, Drayson Menezes, Elisa Lucinda, Grande Otelo, Grupo Bando de Teatro Olodum, Grupo Teatro de Abertura Lúdica, Haroldo Costa, Hilton Cobra, Léa Ferraz, Isabel Fillardis, Jane Tomé, Lana Feitas, Lázaro Ramos, Léa Garcia, Leandro Santana, Licínio Januário, Luana Xavier, Luiz Antônio Pilar, Maria Ceiça, Marina Miranda, Maurício Tizumba, Mercedes Batista, Mery Delmond, Milton Gonçalves, Naira Fernandes, Naruna Costa, Neusa Borges, Orlando Caldeira, Raquel Trindade, Reinaldo Júnior, Ricardo Brasil, Rubens Barbot, Ruth de Souza, Sarito Rodrigues, Sidney Santiago, Sol Menezes, Sol Miranda, Solano Trindade, Tainara Cerqueira, Taís Araújo, Teatro Experimental do Negro, Teatro Popular, Teatro Profissional do Negro, Ubirajara Fidalgo, Valéria Barcellos, Valéria Monã, Veluma de Obá, Verônica Bonfim, Zebrinha, Zenaide Djadille, Zezé Motta, Zózimo Bulbul… E milhares de artistas.
Se for preciso, a gente grita a nossa existência.