Alegria no Finados. Ou a incoerência de quem nasce no dia dos mortos
Na minha casa, esta data sempre trouxe alegria. Quis o destino que minha mãe e eu (primeira filha, parto normal) nascêssemos no Finados
PRISCILLA BORGES
atualizado
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Os mortos que me perdoem, mas hoje o dia é meu. Infelizmente, perdi muito mais gente querida do que gostaria. Fui ao cemitério mais vezes do que pretendia nesses meus 37 anos. Nunca, porém, fui prestar minha homenagem a eles na data dedicada a lembrá-los. Nascer em 2 de novembro tem dessas coisas.
Na minha casa, esta data sempre trouxe alegria. Quis o destino que minha mãe e eu (primeira filha, parto normal) nascêssemos no Dia de Finados. Ironicamente, ganhei mais um motivo para comemorar desde que comecei a namorar o meu marido: a madrinha dele também nasceu em 2 de novembro.
Quando era criança, me lembro de as pessoas se espantarem ao ouvir qual o dia do meu aniversário. Foram muitas caretas e “que pena” ouvidos. Em vez de traumatizada, sempre me senti sortuda de ter nascido num feriado. E acho que transformar uma data aparentemente triste ou mórbida em alegria combina com meu espírito otimista.
Muitas vezes, me questionei se estaria ofendendo alguém celebrando muito em uma data tão triste para quem a escolheu como momento de homenagear os que se foram. Depois, entendi que a vida gira depressa demais. Maior ofensa aos mortos, para mim, é não aproveitar agora o tempo que eles não puderam viver.
Por isso, no meu coração, eu relembro de cada um dos que perdi. Faço uma pequena prece, pedindo que estejam bem. Penso nas festas mexicanas de comemoração e me sinto acolhida. O dia dos mortos, para mim, é dia de vida.