Aceita que dói menos: funk é (muita) cultura
O estilo musical sofre com a perseguição e o preconceito de moralistas e elitistas
Luiz Prisco
atualizado
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As pérolas dos Legislativos local e nacional são, realmente, chocantes. Uma das mais recentes é a proposta que pretende criminalizar o funk. Isso mesmo, o projeto de lei, a ser debatido na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, afirma: o gênero musical destrói a infância, a adolescência e a família brasileira.
Uma grande besteira. Ninguém é obrigado a ouvir funk ou gostar do estilo. Porém, criminalizá-lo, ainda mais sob um argumento moralista, é inaceitável. O gênero musical é uma expressão da rica cultura brasileira. Tal qual foi o samba, no começo do século 20, sofre com a perseguição e o preconceito de uma parcela atrasada e elitista da sociedade.
Conheça alguns dos famosos funkeiros do país:
O argumento tacanho dos “haters” do funk fala que as músicas só falam de sexo, violência e drogas. Volto ao samba, aquele do começo do século 20. As letras tratavam do jogo do bicho, da violência e da malandragem. Ora, lá e cá, os músicos e compositores cantam o que vivem no dia a dia das periferias brasileiras: do morro carioca à favela paulista.
Anitta, que explode como a principal artista brasileira no mercado internacional, falou: mude a realidade dessas pessoa e elas cantarão sobre outras coisas. É evidente e lógico. O preconceito contra o funk se esconde atrás do moralismo para expor o elitismo de alguns brasileiros, que, dos apartamentos de luxo, têm certeza que são melhores que o pessoal da periferia.
O antropólogo Hermano Viana, um dos responsáveis por apresentar a indústria fonográfica ao Legião Urbana, é um dos teóricos mais importantes na defesa do funk como cultura popular. “Talvez seja a hora de deixar de lado os preconceitos e a procura da pureza perdida”, alerta em artigo. Defende o gênero como uma ressignificação musical essencialmente brasileira.
Teorias à parte, o fato é que o funk hoje é parte essencial da cultura brasileira. Ainda bem. O pancadão passa por cima de qualquer preconceito.
Luiz Prisco é jornalista cultural. Editor de entretenimento do Metrópoles