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Abusos e assédios destroem prestígio de Harvey Weinstein no cinema

As recentes denúncias contra o produtor são apenas parte do comportamento grotesco praticado pelo poderoso executivo

Autor Yale Gontijo

atualizado

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Rich Polk/Getty Images/Divulgação
Harvey Weinstein de terno
1 de 1 Harvey Weinstein de terno - Foto: Rich Polk/Getty Images/Divulgação

Os esqueletos do produtor de Hollywood Harvey Weinstein parecem ter sido finalmente retirados do armário. Recentemente, muitas mulheres resolveram declarar publicamente casos de assédio sexual cometidos contra elas por um dos nomes mais fortes e bem-sucedidos da indústria cinematográfica.

A atriz Ashley Judd saiu na linha de frente das acusações. Segundo a intérprete, Harvey a convidou para uma reunião de negócios em um hotel de Los Angeles. Ao chegar lá, o executivo apareceu vestido apenas de roupão e perguntou se ela não gostaria de lhe oferecer uma massagem ou vê-lo tomar banho. Ashley diz ter conseguido escapar do assediador.

A jornalista Lauren Sivan afirma que o manda-chuva da Weinstein Company teria se masturbado na sua frente. A repórter de televisão revelou ao Huffington Post que o produtor a teria levado para os fundos de um restaurante cubano e, então, cometido o ato e ejaculado perto dela.

Conheça os fatos sobre os Weinstein:

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<strong>"A Casa que Tarantino Construiu"</strong>: Harvey soltou a frase ao se referir a “Pulp Fiction – Tempo de Violência”, primeiro filme independente a bater o recorde dos US$ 100 milhões de bilheteria. Quentin Tarantino (à esquerda) tinha dirigido apenas “Cães de Aluguel” quando recebeu o aval para rodar a fita no verão de 1994
<strong>Seja lá quem for</strong>: no discurso de agradecimento pelo Globo de Ouro de Melhor Atriz de Comédia por “O Lado Bom da Vida”, em 2013, Jennifer Lawrence declarou em tom de piada: “Harvey, obrigada por matar seja lá quem você tenha matado para que eu estivesse aqui em cima [do palco] hoje!”. A plateia riu, mas foi de nervoso. Muitos sabiam das histórias de intimidações cometidas pelo produtor
<strong>Assédio sexual e moral</strong>: há relatos de funcionários da Weinstein Company que sofrem assédio moral desde quando a empresa foi criada, no final da década de 1970. São histórias de abuso de autoridade, maus-tratos e excesso de trabalho
<strong>Harvey Mãos de Tesoura</strong>: nos EUA, cineastas não têm direito ao corte final de seus filmes. No entanto, as decisões sobre montagem são feitas em equilíbrio entre os produtores e cineastas. Os acordos com Weinstein eram diferentes. São vários os realizadores que o acusam de mutilar películas sem dó. A mania lhe rendeu o apelido Harvey Mãos de Tesoura
<strong>Colecionador de vitórias</strong>: entre as estratégias para ganhar estatueta, estão presentes caríssimos e intimidações a membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Essas campanhas produziram “distorções”: os cinéfilos lembram com horror do prêmio dado ao fraquíssimo “Shakespeare Apaixonado”. A derrota da veterana brasileira Fernanda Montenegro (“Central do Brasil”) para a apagadinha da Gwyneth Paltrow ocorreu naquele mesmo ano
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Lobistas de sucesso: o lobby vitorioso dos irmãos Weinstein permitiu que cerca de 20 filmes produzidos por eles fossem indicados ao Oscar. Receberam a estatueta: “O Paciente Inglês (1996)”, “Chicago” (2002), “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” (2003) e “O Discurso do Rei” (2010) . “O artista”, produção francesa sem nenhum diálogo feita para homenagear o cinema mudo, foi apadrinhado por eles e faturou a estatueta em 2012

Christopher Polk/Getty Images
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"A Casa que Tarantino Construiu": Harvey soltou a frase ao se referir a “Pulp Fiction – Tempo de Violência”, primeiro filme independente a bater o recorde dos US$ 100 milhões de bilheteria. Quentin Tarantino (à esquerda) tinha dirigido apenas “Cães de Aluguel” quando recebeu o aval para rodar a fita no verão de 1994

Kevin Winter/Getty Images
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Seja lá quem for: no discurso de agradecimento pelo Globo de Ouro de Melhor Atriz de Comédia por “O Lado Bom da Vida”, em 2013, Jennifer Lawrence declarou em tom de piada: “Harvey, obrigada por matar seja lá quem você tenha matado para que eu estivesse aqui em cima [do palco] hoje!”. A plateia riu, mas foi de nervoso. Muitos sabiam das histórias de intimidações cometidas pelo produtor

Kevin Winter/Getty Images
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Assédio sexual e moral: há relatos de funcionários da Weinstein Company que sofrem assédio moral desde quando a empresa foi criada, no final da década de 1970. São histórias de abuso de autoridade, maus-tratos e excesso de trabalho

Weinstein Company/divulgação
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Harvey Mãos de Tesoura: nos EUA, cineastas não têm direito ao corte final de seus filmes. No entanto, as decisões sobre montagem são feitas em equilíbrio entre os produtores e cineastas. Os acordos com Weinstein eram diferentes. São vários os realizadores que o acusam de mutilar películas sem dó. A mania lhe rendeu o apelido Harvey Mãos de Tesoura

Kris Connor/Getty Images
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Colecionador de vitórias: entre as estratégias para ganhar estatueta, estão presentes caríssimos e intimidações a membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Essas campanhas produziram “distorções”: os cinéfilos lembram com horror do prêmio dado ao fraquíssimo “Shakespeare Apaixonado”. A derrota da veterana brasileira Fernanda Montenegro (“Central do Brasil”) para a apagadinha da Gwyneth Paltrow ocorreu naquele mesmo ano

Andreas Rentz/Getty Images

 

Uma matéria publicada no “The New York Times” sugere que o produtor pagou pelo silêncio de várias mulheres ao longo dos anos. Entre as que teriam assinado contratos de confidencialidade: Rose McGowan e a modelo italiana Ambra Battilana. Os casos teriam ocorrido em 1997 e 2015, respectivamente.

O escândalo causou a demissão do executivo da companhia que criou próprio criou ao lado do irmão, Robert Weinstein, em 1979. Na verdade, ambos fundaram a Miramax (a junção dos nomes de seus pais, Miriam e Max), que foi vendida para a Disney em 1993. Nos últimos anos, operavam a Weinstein Company.

Os produtores ficaram conhecidos por revolucionar o mercado cinematográfico americano ao alçar os filmes de produção independente no mercado de produções industrializadas. E também por serem responsáveis por uma série de mudanças de comportamento nos estúdios de Hollywood desde os anos 1990.

O historiador de cinema Peter Biskind esmiuçou a criação da distribuidora Miramax (mais tarde batizada como Weinstein Company) em um livro lançado em 2004. O objetivo inicial da obra “Down and Dirty Pictures” (ainda não publicada em português) era narrar a ascensão do cinema independente na indústria de Hollywood.

O escritor acabou desvendando o perfil sociopata dos irmãos Harvey e Bob Weinstein, conhecidos por terem cometido abusos de poder desde a fundação da companhia. Assédio moral e maus-tratos a funcionários são mato no mundo da companhia. Além disso, não são poucos os cineastas, atores e produtores com uma história ruim para contar sobre Harvey e Bob.

Por outro lado, claro, outros artistas têm muito a agradecer aos dois, que tiveram pulso para lançar filmes considerados incômodos ou vanguardistas para a época em que foram produzidos.

*Yale Gontijo é crítica de cinema, produtora e jornalista 

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