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A violência que existe em mim agride a violência que existe em você

Nosso problema atual não é falta de armas, mas de amor, compaixão e saúde mental

Autor Daniel Nahoum

atualizado

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RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES
ato em memória das vítimas de suzano_20 março
1 de 1 ato em memória das vítimas de suzano_20 março - Foto: RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES

Por mais que queiramos, não podemos negar: somos animais violentos. Isso está registrado com sangue em toda a história da humanidade. Como um Homo sapiens sensível, meu coração ainda está despedaçado e angustiado com o que aconteceu em Suzano (SP). Dói demais.

Não sinto ódio e sei que ele foi o motivo de tudo isso. Sinto preocupação e empatia por todos que estão sofrendo. A banalização do uso da arma dói. Arma serve para matar. Apenas. Serve para proteger também, claro. Mas estamos preparados para lidar com elas? Sem entrar no aspecto da lei, será que a sociedade brasileira tem inteligência emocional para portar uma arma? Só quem teve uma arma apontada para si e para quem ama pode entender.

O nosso problema atual não é falta de armas, mas de amor, compaixão e saúde mental. Precisamos saber onde está a sensibilidade, a compreensão, a arte e o esporte. O termo “cidadão de bem” muitas vezes é usado de forma hipócrita. Onde está o cuidado com a saúde mental de nossos jovens e da população em geral? Onde estão os programas eficazes de segurança?

Não, não são os videogames! E os filmes de ação, então? E a morbidez pela atração que as informações e detalhes das notícias violentas trazem? O buraco está muito mais embaixo – e também muito lá em cima, no poder

Professores, além de tudo, precisam usar armas? Se pessoas andassem armadas, teriam evitado o massacre? Pesquisas, como a realizada na Universidade de Stanford no ano passado, provam que armas nas mãos de civis, mesmo dos preparados, são um grande risco. Policiais nas portas das escolas podem ser uma solução. Ainda assim, triste. Triste por termos que chegar a esse ponto.

Com tantos avanços na sociedade, nossa mente não acompanhou as mudanças. A individualidade de uma era trabalha contra a empatia e cuidado mútuo. Não é só o corpo que precisa de cuidado. A mente não é tangível, é relativa, dizem. A internet também é, e nós damos a ela uma importância gigantesca.

Ainda tento digerir tudo o que aconteceu comigo e com o país nos últimos dias. Não foi apenas com Suzano, Brasília ou Nova Zelândia. Foi com todos nós. Nossa perplexidade diante dos fatos grita por mudança. Precisamos encarar a nós mesmos no espelho, enxergar nossa violência humana e batalhar por uma transformação interna. Cada um de nós.

*Daniel Nahoum é diretor audiovisual, jornalista, DJ e encantador de cães

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