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Mostra em Brasília traz uma forma diferente de enxergar a pintura

O Museu dos Correios abriga neste momento a mostra “Fronteiras da Pintura – Fronteiras da Ilusão”

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Bernardo Scartezini/Metrópoles
foto de abre
1 de 1 foto de abre - Foto: Bernardo Scartezini/Metrópoles

A morte e o ressurgimento da pintura já foram decretados ao menos uma dúzia de vezes no último século e meio. De modo que, hoje em dia, na nossa cotidiana contemporaneidade de galerias e ateliês, a ancestral pintura morre e ressurge um pouquinho a cada vez, de acordo com vocabulários, excentricidades e conveniências de determinado artista plástico, de determinado teórico da arte.

Vovó Pintura vai bem, obrigado, nesta segunda década de século 21. Mesmo que às vezes você, querido netinho bastardo das belas artes, se pegue duvidando diante de uma ou outra tela – e raios isso é pintura?

Vale ter o espírito desarmado quando se percorre o quarto andar do Museu dos Correios. O edifício do Setor Comercial Sul abriga neste momento a mostra “Fronteiras da Pintura – Fronteiras da Ilusão”.

Onice Moraes, colecionadora e proprietária da Referência Galeria de Arte, foi quem colocou esta mostra de pé. Trabalhando como curadora e servindo-se de uma abordagem teórica de Angélica Madeira, Onice reuniu aqui onze artistas plásticos brasileiros. Vindos de diferentes gerações e trazendo diferentes propostas, todos têm em comum o fato de estarem atualmente em plena atividade – e, claro, o fato de se valerem da pintura em um ou outro aspecto de seu trabalho.

André Santangelo, por exemplo, teve sua formação artística num ateliê de pintura. Mais tarde, quando abraçou a fotografia, de certa forma se viu no caminho inverso dos pintores que buscam o chamado fotorrealismo, pois a ele interessou mais emprestar camadas pictóricas ao objeto fotografia. André, por isso, é um dos artistas que agora está na “Fronteiras da Pintura”.

E outros tantos rumos podem ser espiados ao longo das paredes da mostra…

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Série de Helô Sanvoy: tinta acrílica e nanquim sobre papel manteiga
Série de Helô Sanvoy: tinta acrílica e nanquim sobre papel manteiga
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Helô Sanvoy é membro do Grupo EmpreZa. Tem afinidade, portanto, com o uso do próprio corpo como plataforma artística das mais extremas. E talvez tão importante: o artista goiano tem fluência nos mecanismos burocráticos e corporativos que formam o imaginário que o coletivo torpedeia.

Em seu trabalho solo, Sanvoy busca reordenar a linguagem do desenho – e nesse caminho atinge resultados pictóricos. Nas obras aqui presentes, ele recorre ao que de mais básico constituiu um desenho: superfícies e linhas. Usa papel vegetal, no caso, porque precisa de uma superfície que ao mesmo tempo retenha nela as marcações feitas em tinta nanquim e tinta acrílica, mas possa ter ainda certa transparência.

E o que seria o espaço de um texto, linhas horizontais sobre papel, é completamente obliterado. Donde se imaginaria um texto, uma comunicação verbal, surge apenas um risco. Ou um borrão. O negativo da informação.

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"Pomar de Adão" (2012), do Grupo Tres Pe: instalação interativa
"Pomar de Adão" (2012), do Grupo Tres Pe: instalação interativa
"Pomar de Adão" (2012), do Grupo Tres Pe: instalação interativa
"Pomar de Adão" (2012), do Grupo Tres Pe: instalação interativa
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"Pomar de Adão" (2012), do Grupo Tres Pe: instalação interativa

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"Pomar de Adão" (2012), do Grupo Tres Pe: instalação interativa

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"Pomar de Adão" (2012), do Grupo Tres Pe: instalação interativa

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"Pomar de Adão" (2012), do Grupo Tres Pe: instalação interativa

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"Pomar de Adão" (2012), do Grupo Tres Pe: instalação interativa

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Colega de Helô Sanvoy, a artista Marcela Campos se divide entre o Grupo EmpreZa, de Goiânia, e o Grupo Tres Pe, de Brasília, formado também por Marcela Hanna e Ana Camila de Almeida.

Dedicado a performances e a registros em vídeo, o Tres Pe desta feita propõe uma instalação interativa: “Pomar de Adão”. Sobre uma banqueta, balões vermelhos. Sobre outra banqueta, martelo e pregos bem grandinhos. Na parede, uma série de instruções deixadas pelo grupo para os visitantes. Primeira regra: “A ação deve ser executada por mulheres que já tenham menstruado (essa ação não é indicada para as crianças”.

Às crianças e aos homens é permitido ver os vídeos “Cor da Propina” (2017) e “Pinta Ponto” (2013), em que também fica evidente a temática política recorrente ao coletivo.

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Detalhes de "Aparecimento" (2014), fotografias da série "Estranhamentos", de Ursula Tautz: manipulação digital, pigmentos mineirais sobre papel
Detalhes de "Aparecimento" (2014), fotografias da série "Estranhamentos", de Ursula Tautz: manipulação digital, pigmentos mineirais sobre papel
Detalhes de "Aparecimento" (2014), fotografias da série "Estranhamentos", de Ursula Tautz: manipulação digital, pigmentos mineirais sobre papel
Detalhes de "Aparecimento" (2014), fotografias da série "Estranhamentos", de Ursula Tautz: manipulação digital, pigmentos mineirais sobre papel
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Detalhes de "Aparecimento" (2014), fotografias da série "Estranhamentos", de Ursula Tautz: manipulação digital, pigmentos mineirais sobre papel

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Detalhes de "Aparecimento" (2014), fotografias da série "Estranhamentos", de Ursula Tautz: manipulação digital, pigmentos mineirais sobre papel

Aquele vermelho dos balões do Tres Pe atravessou a sala e foi parar na outra parede, surgindo como pontuações em “Aparecimento”, uma série de fotografias digitalmente manipuladas pela artista multimídia carioca Ursula Tautz.

As figuras humanas que de repente surgem na paisagem, como duplos fantasmagóricos, emprestam drama à cena num impacto reforçado pela própria expografia, que separa a primeira fotografia, da paisagem ainda intocada, das demais. É recorrente no trabalho de Ursula Tautz a temática do estranhamento e do vazio.

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Série de Elyeser Szturm: cianótipos, viragem em café, papel Hanehmuhle Aquarell
Série de Elyeser Szturm: cianótipos, viragem em café, papel Hanehmuhle Aquarell
Série de Elyeser Szturm: cianótipos, viragem em café, papel Hanehmuhle Aquarell
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Elyeser Szturm também passa pelo estranhamento. Em sua fotografias, ele por vezes se aproxima fisicamente de seu objeto de tal forma que torna quase abstrata a representação de coisas as mais costumeiras e ordinárias. E mesmo quando trabalha com monotipias em silicone, como na recente exposição “Céu e Nós”, do ano passado, o resultado traz evidente carga pictórica.

Desta feita, Elyeser se aventura por outro processo de impressão – a cianotipia seguida de viragem com café. O azul característico da cianotipia (que se deve à presença de sais de ferro, em vez de sais de prata como na fotografia convencional) se perde após a imagem original ser imersa numa bacia de café.

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Série "Serras Gerais", de Fernando Madeira: colagem e  pintura sobre papel Canson
Série "Serras Gerais", de Fernando Madeira: colagem e  pintura sobre papel Canson
Série "Serras Gerais", de Fernando Madeira: colagem e  pintura sobre papel Canson
Série "Serras Gerais", de Fernando Madeira: colagem e  pintura sobre papel Canson
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Série "Serras Gerais", de Fernando Madeira: colagem e pintura sobre papel Canson

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Série "Serras Gerais", de Fernando Madeira: colagem e pintura sobre papel Canson

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A técnica também se revela mui importante para Fernando Madeira atingir seus fins. Aqui o artista carioca apresenta uma série de paisagens montanhosas. A princípio montadas dentro de quadros, suas montanhas parecem se mover, tentando escapar do céu azul que as protege, tentando se desprender da moldura até se deitarem diretamente sobre a superfície da parede.

Um passo ou dois para a frente, e percebemos o que se passa nesta série “Serras Gerais”. O que parece ser uma pintura, na verdade, é uma colagem de papel que recebe tinta, sim, e por isso a perspectiva de uma paisagem, a perspectiva de um relevo. Mas as montanhas de Fernando Madeira são elementos físicos capazes de se destacar da superfície.

A perspectiva, como truque secular da pintura, aqui se quebra e se refaz.

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