Imagens e sons no cinema experimental de Márcio H. Mota
“Contra-Cinema” é o nome da exposição que abre na noite deste sábado (12/8), na Alfinete Galeria
atualizado
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Valendo também como provocação e como carta de intenções pessoais, “Contra-Cinema” é o nome da exposição de Márcio H. Mota, que abre na noite deste sábado (12/8), na Alfinete Galeria. Desta feita, a obra do artista multimídia brasiliense, já conhecido por seus trabalhos em video-mapping e projeções, aumenta um tanto de escala, ganhando volume e ocupando salas inteiras.
Tratam-se de seis obras inéditas. Todas boladas primeiramente no computador, em seguida executadas com marcenaria e depois postas à prova no ambiente de uma galeria de arte. Quatro dessas peças ocupam o endereço atual da Alfinete, comercial da 103 Norte, e as outras duas completarão a experiência lá na antiga Alfinete, na comercial da 116 Norte, a partir da noite da próxima terça-feira (15/8).Ao receber a visita do Metrópoles, na véspera da abertura na 103 Norte, Márcio H. Mota explicou que essas obras específicas remetem à experiência do cinema — e não da vídeo arte — porque sua pesquisa tem a ver com projeção de imagens e também com a engenharia e a arquitetura.
Esses trabalhos são formas de se pensar a imagem em movimento, refletindo a estrutura da engenharia e da arquitetura próprias do cinema e da sala de cinema. Como a imagem se apresenta? Como a gente se coloca diante dela? Como se propaga o som que a imagem carrega?
Márcio H Mota
O interesse do artista partindo da tela plana e indo além, bem além dela. Como pode ser percebido já na primeira peça em exibição na Alfinete. A vídeoestrutura “Misturador de Matéria” foi desenvolvida por Márcio a partir do funcionamento do disco cromático de Isaac Newton, com cores que quando giram e se misturam, formam o branco para os nossos olhos.
“Misturador de Matéria” é formado por dois aros de madeira que rodam, um dentro do outro. O aro de fora, o maior, está todo revestido por um adesivo espelhado. O aro de dentro, o menor, funciona como chassis para segurar um tecido de elastano perfeitamente esticado. Como se fosse uma pequena tela de cinema. Ambos os aros entram em rotação quando alimentados por um motorzinho escondido no móvel de madeira.
Como em outros trabalhos do artista, o vídeo projetado sobre esse objeto traz uma animação feita em computador a partir de formas abstratas e linhas bem espaçadas. O espaçamento entre os elementos é essencial aqui pois permite o surgimento, na hora da projeção sobre os aros giratórios, de uma volumetria que faça sentido.
“Contra-Cinema” oferece também dois trabalhos de arte sonora. Ou, se preferir, duas experiências de música visual. Audição e visão aqui se confundem e se embaralham num transe hipnótico.
A vídeoestrutura “Tubo” reelabora e afina um trabalho que Márcio H. Mota já apresentara antes. A ideia é que o espectador se sente diante do aparelho, encaixando os olhos numa espécie de binóculo, e colocando os auriculares para poder escutar uma música abstrata que Márcio compôs no teclado de seu computador.
Sincronizando o programa de som com um programa de imagem, Márcio fez com que cada nota musical gerasse uma linha de determinada cor. Quando projetadas sobre o “Tubo”, essas linhas ganham, por puro efeito óptico, o aspecto de um círculo fechado. E assim está criado, bem diante de nossos olhos, um túnel de perspectiva que corre em infinito como um mantra.
Ritmo e vertigem nos levam ainda ao aparelho ali ao lado, “Hexassistêmico”. Agora se pede ao prezado aventureiro da arte contemporânea que se deite sobre um móvel de madeira, com a cabeça encaixando numa das extremidades da peça. Essa posição soa ideal justamente porque assim o camarada fica com seus ouvidos a poucas polegadas de distância de uma das seis caixas de som que estão embutidas no corpo de madeira.
Cada uma dessas caixas é um subwoofer. O som que elas projetam se espalha pela madeira, em ondas vibratórias, e emite pequenas rajadas de vento, que sopram diretamente sobre o corpo do indivíduo em repouso. O som se torna assim um elemento não apenas audível, mas perfeitamente tátil.
Descendo a escada às escuras, o visitante encontra lá embaixo um ambiente de luz. A segunda sala da Alfinete Galeria está toda iluminada por “Contra Luz”.
Na parede ao fundo da sala, um projetor dispara diferentes cores que banham o ar e se assentam sobre o gelo seco que domina todo o ambiente – salvo uma pequena escultura de metal afixada no meio da sala – como um monolito pousado sobre a superfície lunar – que serve como anteparo para a projeção em contra-luz.
Em afinidade com a obra do artista inglês Anthony McCall, a projeção do vídeo no espaço é uma linguagem que Márcio H. Mota vem perseguindo desde sua perturbadora “O Silêncio de Napalm”, que há um par de anos ganhou a sala escura do Museu Nacional Honestino Guimarães durante a primeira edição da mostra coletiva “Ondeandaonda”.
E agora Márcio H. Mota, aqui na Alfinete, se embrenha um pouco mais em alguns rumos que o cinema poderia ter tomado, como linguagem, e não tomou, talvez por questões industriais, talvez por questões comerciais. Rumos que, se o cinema abriu mão de explorar, as artes visuais então tomaram para si.