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Arte em tempos de crise: Prêmio Marcantônio Vilaça aponta caminhos

Os vencedores do Prêmio Marcantônio Vilaça 2017 estão participando de exposição em Brasília até 22 de dezembro

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O Prêmio Marcantônio Vilaça, junto ao Pipa, pode ser considerado atualmente uma das grandes láureas das artes plásticas nacionais. Mas enquanto os indicados ao Pipa são celebrados numa mostra anual no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e apenas ali, os vencedores do Vilaça ganham direito a um pequeno giro por capitais.

A safra 2017 do Marcantônio Vilaça, assim, está a cumprir temporada brasiliense até 22 de dezembro. A exibição fica em cartaz na grandiosa nova sede do Tribunal de Contas da União (TCU), no Setor de Clubes Esportivos Sul, dentro do espaço cultural que leva justamente o nome de Marcantônio Vilaça – jovem colecionador e galerista, morto precocemente em 2000.

Numa saudável mistura de gerações, reencontramos artistas já conhecidos como o mineiro Pedro Motta e os gaúchos Fernando Lindote e Rochelle Costi. Mais jovens e ainda em ascensão na cena nacional, o carioca Daniel Lannes e o paulista Jaime Lauriano completam o time dos cinco vencedores. (O júri foi formado por notáveis como a artista Anna Bella Geiger, o curador Paulo Herkenhoff e Wagner Barja, diretor do Museu Nacional Honestino Guimarães.)

Este peculiar momento que atravessamos, quando a arte contemporânea brasileira se tornou campo para disputa política e moral com gestos temerários, faz com que seja urgente e necessário – mais do que nunca – dar um giro por esta seleta de artistas.

A coluna “Plástica”, para tanto, apresenta aqui algumas possíveis portas de entrada para uma mui heterogênea exibição, obras que trazem diversas temáticas e linguagens. Assim…

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 "Suplício # 4" (2017), de Jaime Lauriano: vitrine, corrente, corda plástica, fitas adesivas, abraçadeiras plásticas, lâmpas halógenas. pedras, entulhos e pedaços de vidro
 "Suplício # 4" (2017), de Jaime Lauriano: vitrine, corrente, corda plástica, fitas adesivas, abraçadeiras plásticas, lâmpas halógenas. pedras, entulhos e pedaços de vidro
 "Suplício # 4" (2017), de Jaime Lauriano: vitrine, corrente, corda plástica, fitas adesivas, abraçadeiras plásticas, lâmpas halógenas. pedras, entulhos e pedaços de vidro
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"Suplício # 4" (2017), de Jaime Lauriano: vitrine, corrente, corda plástica, fitas adesivas, abraçadeiras plásticas, lâmpas halógenas. pedras, entulhos e pedaços de vidro

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"Suplício # 4" (2017), de Jaime Lauriano: vitrine, corrente, corda plástica, fitas adesivas, abraçadeiras plásticas, lâmpas halógenas. pedras, entulhos e pedaços de vidro

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"Suplício # 4" (2017), de Jaime Lauriano: vitrine, corrente, corda plástica, fitas adesivas, abraçadeiras plásticas, lâmpas halógenas. pedras, entulhos e pedaços de vidro

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Jaime Lauriano vem desenvolvendo há três, quatro anos a série “Suplício”. Dentro de uma mesa, ele expõe como numa vitrine alguns objetos pouco nobres. Tijolos, pedras, cacos de vidro, cordas, às vezes até garrafas quebradas. Um inventário que o artista vem colhendo a partir de recorrente noticiário. Trata-se do material usado em espancamentos, linchamentos, justiçamentos, execuções em praça pública.

Lauriano aqui reforça a materialidade desses objetos. Mais do que um índice de nossa cotidiana barbárie à margem da lei, o resultado de sua obra é a expressão do quão banal o gesto de violência pode se tornar – ao alcance da mão como uma pedra que se solta do pavimento.

Uma das outras obras de Lauriano presentes no TCU é o vídeo “O Brasil” (2014), que fica rodando em loop num televisor, fornecendo trilha sonora para toda a sala de exibição. Há pouco esse mesmo trabalho esteve na Casa da Cultura da América Latina, dentro da mostra “Quando as Formas se Tornam Relatos”. Tanto daquela vez quanto agora, esse tratamento se mostra desconcertante, enervante. O vídeo, afinal, traz uma colagem de propagandas, marchinhas e ufanismos promovidos à época da ditadura militar (1964-1985), remontando às infames aulinhas de Educação Moral e Cívica.

Um frame de “O Brasil” ilustra o alto desta página.

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"Turista" (2015), de Daniel Lannes: óleo e acrílica sobre lona
"Turista" (2015), de Daniel Lannes: óleo e acrílica sobre lona
"Turista" (2015), de Daniel Lannes: óleo e acrílica sobre lona
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"Turista" (2015), de Daniel Lannes: óleo e acrílica sobre lona

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"Turista" (2015), de Daniel Lannes: óleo e acrílica sobre lona

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"Turista" (2015), de Daniel Lannes: óleo e acrílica sobre lona

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A Daniel Lannes interessa o aspecto histórico da pintura. E não apenas o caráter social que a pintura exerceu em tempos passados. Também interessa a ele aquela carga que, hoje em dia, um quadro inevitavelmente recebe após séculos e séculos de história da arte.

Os quadros de Lannes aqui presentes, portanto, promovem um diálogo com temáticas e gêneros clássicos da pintura. Em “Turista”, o quadro dentro do quadro parece emular uma cena típica do romantismo nas artes visuais – indígenas num trecho floresta à beira de um lago. Mas há algo de errado ali, as feições das figuras estão apagadas, escorridas, transformadas em borrões. A tinta parece vazar.

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"Uma Banana pelo Infinito" (2017), de Fernando Lindote: óleo e resina sobre tela
"Uma Banana pelo Infinito" (2017), de Fernando Lindote: óleo e resina sobre tela
"Uma Banana pelo Infinito" (2017), de Fernando Lindote: óleo e resina sobre tela
"Uma Banana pelo Infinito" (2017), de Fernando Lindote: óleo e resina sobre tela
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"Uma Banana pelo Infinito" (2017), de Fernando Lindote: óleo e resina sobre tela

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"Uma Banana pelo Infinito" (2017), de Fernando Lindote: óleo e resina sobre tela

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"Uma Banana pelo Infinito" (2017), de Fernando Lindote: óleo e resina sobre tela

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Fernando Lindote tem 40 anos de carreira. Gaúcho radicado em Santa Catarina, participou da Bienal de São Paulo de 2010 e de outras exposições de monta. Aqui ele comparece numa extração recente de seu trabalho, partindo da tela plana para criar uma pintura a meio caminho da escultura, tamanha a massa de matéria acumulada, camadas e camadas de material.

“Uma Banana pelo Infinito” (2017) ganha viscosidade e dimensão espacial graças a uma carga de resina. Ao mesmo tempo, com aquela figura simiesca ali ao centro, há um tanto de ambiguidade, um tanto de comentário sarcástico – acento que remonta à formação do autor como cartunista ainda sob a sombra da censura militar. Macacos, coelhos e porcos, eventualmente antropormofizados são constantes na fauna de Lindote.

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 Peças da série "Desvios" (2007) de Rochelle Costi: fotografias em duratrans montadas em back light
 Peças da série "Desvios" (2007) de Rochelle Costi: fotografias em duratrans montadas em back light
 Peças da série "Desvios" (2007) de Rochelle Costi: fotografias em duratrans montadas em back light
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Peças da série "Desvios" (2007) de Rochelle Costi: fotografias em duratrans montadas em back light

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Peças da série "Desvios" (2007) de Rochelle Costi: fotografias em duratrans montadas em back light

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Peças da série "Desvios" (2007) de Rochelle Costi: fotografias em duratrans montadas em back light

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Peças da série "Desvios" (2007) de Rochelle Costi: fotografias em duratrans montadas em back light

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Rochelle Costi encontrou na cirurgia para correção de estrabismo um insuspeitado veio poético. A série “Desvios” (2007) se espalha pelo centro da sala de exibição em tótens com ampliadas fotografias 3 x 4 em preto e branco. Nada muito glamouroso ou promissor à primeira vista. Porém, justamente num desviar de olhos, uma pequenina mágica acontece.

Esse inventário de Rochelle, uma espécie de fichamento de pacientes estrábicos que se torna uma viagem íntima e intimista, quebra certezas e aparências, um gesto que a artista gaúcha busca repetir em seus vídeos, fotografias e instalações. Mesmo quando se apropria de imagens que nem tinham sido criadas para tais fins.

Figura já consagrada no cenário nacional, Rochelle Costi também está presente na mostra “Contraponto”, aberta esta semana no Museu Nacional, com expressiva seleção de artistas contemporâneos brasileiros na coleção do brasiliense Sérgio Carvalho (de Nelson Leirner a Camila Soato, de José Rufino a Milton Marques).

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"Cônicas - Côncavas e Convexas" (2001-2012), de Sérvulo Esmeraldo: aço inox polido e escovado
Obra sem título de Sérvulo Esmeraldo (2005-2015): aço inox trefilado e pintado
"Cunha II" (2007), de Sérvulo Esmeraldo: aço trefilado, soldado e pintado
 Obra sem título de Sérvulo Esmeraldo (1968-2008): aço pintado e cabo de aço
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Obras sem título de Sérvulo Esmeraldo (2011-2012): madeira pintada

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"Cônicas - Côncavas e Convexas" (2001-2012), de Sérvulo Esmeraldo: aço inox polido e escovado

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Obra sem título de Sérvulo Esmeraldo (2005-2015): aço inox trefilado e pintado

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"Cunha II" (2007), de Sérvulo Esmeraldo: aço trefilado, soldado e pintado

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Obra sem título de Sérvulo Esmeraldo (1968-2008): aço pintado e cabo de aço

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O Prêmio Marcantônio Vilaça é promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Junto a ele, acontece também o “Projeto Arte e Indústria”, que a cada vez celebra um artista que utilize em seu labor de ateliê algum processo relacionado ao campo industrial.

Sérvulo Esmeraldo (1929-2017), artista cearense de larga trajetória, morto em fevereiro, vem sendo celebrado postumamente dentro desse projeto. Aqui em Brasília, sua obra de gestos contidos, e certo parentesco com a corrente minimalista da arte norte-americana, surge como uma espécie de faixa bônus para o Prêmio Marcantônio Vilaça.

Além dos objetos em metal que lhe valeram o reconhecimento, entraram na exposição desenhos e xilogravuras de Sérvulo Esmeraldo. Obras de artistas como Hildebrando de Castro, Guto Lacaz, Delson Uchôa e Almandrade também foram selecionadas pela curadoria de Marcus Lontra à medida em que dialogam com os trabalhos do homenageado.

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