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Você quer saber tudo sobre Tarô? O Tarô é um repositório de sabedoria mas, antes e depois disso, é uma espécie de enciclopédia de experiências humanas.
São 22 arcanos – segredos ou chaves – chamados de Maiores por conterem os mistérios de quem somos – e 56 Menores, divididos em quatro naipes (ouros, espadas, copas e paus), representando as circunstâncias, os sentimentos, os anseios e os passos que nos definem a cada dia.
As imagens nas cartas são emanações do imaginário medieval: a Morte como representação da Peste Negra, a Roda da Fortuna como o mecanismo da sorte, simbolizando o ciclo dos reis [reinarei, reino, reinei] e mesmo da vida [nascimento, experiência de vida e morte].
Os 78 arcanos se bastam, isto é, não precisam de outros saberes para traduzi-los, como a Cabala ou mesmo a Astrologia. Mesmo que haja essas associações em livros e cursos.
As cartas fazem parte de um sistema fechado (os 78 arcanos, divididos em Maiores e Menores) e por isso independem de outros sistemas.
A relação de uma carta com outra sempre vai combinar símbolos e então gerar novas emoções e novo conhecimento a cada abordagem, seja por uma pessoa leiga ou por uma familiarizada com os seus símbolos.
QUANDO SURGIU O TARÔ?
O Tarô nasceu no norte da Itália do século XIV, embora as referências mais antigas sobre cartas de jogo na Europa estejam em um dicionário catalão.
Apesar da conotação mágica e intocável das cartas, elas não vieram do Egito. Suas imagens vêm da mesma tradição cultural dei Trionfi de Francesco Petrarca, de alguma forma aproximando o Tarô da poesia.
Ainda assim, é um baralho sem autoria. Talvez por ter se perdido no tempo, mas certo é que esta autoria é tão múltipla que toma a forma de quem o consulta. “Ele é fruto”, nas palavras do poeta argentino Alberto Cousté, “de uma soma de indivíduos e da paciência dos séculos”.
E sua eficácia começa onde uma leitura das cartas termina, porque ninguém acabará de ler este livro que ninguém escreveu, porque o olhar de quem o lê torna a escrevê-lo.
É uma arte combinatória, um exercício intelectual de primeira ordem: não só porque requer a concentração do intérprete ante a pluralidade de vários níveis das imagens, mas porque proporciona um diálogo inteligente entre quem interpreta e quem recebe a interpretação.
COMO O TARÔ FUNCIONA
As cartas são indicadores de caminhos possíveis para as diversas situações de nossas vidas. E por falarem em possibilidades, elas estão bem longe de serem fatalistas, como se o destino de cada um estivesse gravado em pedra desde o começo dos tempos.
O Tarô não tem mestres. Quando se faz uma consulta ou quando se aprende Tarô, uma boa lição é não se curvar diante de nenhuma figura que se considera dona de uma, alguma ou toda a verdade.
Em vez disso, o mais prudente é se inspirar naquilo que ouvimos ou lemos e seguir firmes e fortes, construindo nosso próprio entendimento aos poucos, sem pretensões apressadas.
Porque o que importa mesmo, no Tarô, é como encaramos essas cartas: como lidamos com os símbolos e como as mensagens deles nos transformam ao longo do tempo. Aí está o ouro do Tarô.
E assim como a Astrologia, que incentiva o estudo do Mapa Astral e da Revolução Solar, o Tarô exige trabalho contínuo: anotar as cartas que saem e ler e reler as análises são imprescindíveis para um melhor aproveitamento do oráculo. As cartas são como retratos de nossas vidas.
Um simples arcano tende a determinar rumos diferentes para situações importantes, como por exemplo manter o silêncio em vez de falar tudo o que pensa.
A nossa relação com as cartas é sempre gradativa. Ninguém conclui um curso sabendo todo o conhecimento condensado no Tarô, mas apenas uma parcela desses saberes.
A melhor orientação é aprender com livros e workshops, pesquisar métodos e teorias e se dedicar respeitosamente às informações trazidas por esse material.
E não se ajoelhar à vaidade de quem se dá muita ou tanta importância, porque não há nenhum mestre no Tarô, embora haja pessoas altamente qualificadas para interpretá-lo.
Não há instituições que regulam ou determinam o uso do oráculo. Claro que esse fato não desqualifica a autoridade de quem pesquisa, trabalha e divulga o Tarô com clareza e constância.
Existem facilitadores aptos para dirigir o estudo e a prática das pessoas ao longo do caminho dos arcanos, mas quando o assunto é Tarô, o único mestre é ele mesmo.
É POSSÍVEL CONFIAR NUM JOGO DE TARÔ?
Há quem desdenhe do Tarô. E isso é absolutamente normal, já que quem não conhece a fundo alguma coisa tende a denegri-la ou agir com indiferença em relação a ela. Mas é pertinente a dúvida: é saudável confiar em meros papéis coloridos misturados?
Uma das respostas mais claras seria que sim – da mesma forma que se confia em escrituras sagradas, sutras e na palavra de representantes religiosos: absorvendo aos poucos as informações e refletindo seriamente sobre o que é lido ou falado.
Se há alguma magia no Tarô, ela se dá no ato de fazer do acaso o centro do seu funcionamento, ou seja, no embaralhamento. Depois dele as cartas propícias são sorteadas, como se pelo acaso fosse determinada qual a mensagem que nos chega.
Por um lado isso pode parecer pouco confiável porque o acaso recebe sempre a menor importância dentre tantas circunstâncias que determinam a nossa existência.
O fato é que nossa vida é permeada pelo acaso, estamos totalmente imersos nele e dependemos dele: uma vaga liberada bem no momento em que entramos no estacionamento cheio; o último produto tão desejado na prateleira do mercado; dois passos para trás quando na sarjeta o carro passa com tudo; a bolsa de estudos que sai no momento de maior dificuldade financeira e inúmeras experiências que associamos à mão divina ou mesmo à sorte.
O contrário dessas circunstâncias é naturalmente associado à ideia de azar, à influência negativa de forças invisíveis ou ao famoso inferno astral, quando tudo parece dar errado.
Mas essas situações, principalmente as positivas, acabam sendo encaradas com um sentido de providência: tal coisa estava destinada a acontecer.
O Tarô, por sua vez, é como uma maquete de nossas vidas. A partir do momento em que as cartas são sorteadas, é montado um esquema em miniatura das situações, das sensações, dos sentimentos e das intenções, tanto nossas quanto das pessoas envolvidas.
A ideia do oráculo como mapa é que nos faz perceber até que ponto esse esquema vai atuar, que é o prazo estipulado de tempo: um dia? Uma semana? Um mês? Três meses? Seis meses? Independente da temporalidade adotada, as cartas do Tarô são indicadores do que ocorreu, do que ocorre e do que tende a ocorrer.
Prestar atenção ao seus símbolos é tão promissor quanto ouvir um sermão, ler um bom livro e participar de uma conversa produtiva: ainda que nem toda informação seja aproveitada, boa parte dela irá de encontro com o que você precisa saber naquele momento.
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TARÔ TEM LIGAÇÃO COM ALGUMA RELIGIÃO?
Quando alguém participa de um bingo e os números são sorteados, existe algo de espiritual ali? Ou quando a loteria sorteia os números do seu bilhete? Ou ainda quando o seu cupom de shopping é selecionado entre milhares e você ganha um carro, há algo de espiritual ali?
Essas questões devem ser colocadas quando alguém pressupõe motivos transcendentais à arte de consultar as cartas.
Alguns dirão que sim, outros refutarão. Mas o consenso é que o Tarô proporciona, a quem o consulta, uma experiência até mesmo estratégica de obtenção de informação e de orientação para haver o melhor de uma situação.
O sensato é não haver nenhuma conotação religiosa permeando a interpretação das cartas.
Uma simples carta que você sorteia tem símbolo e força suficientes para responder a uma questão e oferecer informações que levam você ao sucesso pessoal, profissional ou mesmo emocional.
O Tarô é arreligioso, isto é, não se vale de nenhuma crença para funcionar. Mesmo havendo símbolos religiosos em algumas cartas, toda e qualquer crença é de responsabilidade de quem as interpreta, nunca das cartas em si.
DEVO TEMER O TARÔ?
A melhor maneira de se aproximar é com os olhos livres, sem receios. As cartas, por si só, não atraem dinheiro ou tragédias por exemplo.
O medo, a dúvida e mesmo o descaso em relação às cartas se deve a séculos de superstição e pessoas de conduta duvidosa que se apropriam delas ainda hoje, usando as cartas como um artefato poderoso para “abrir” e “fechar caminhos”, causando assim o fascínio e o espanto de quem as consulta.
Por isso é que uma das maneiras mais fáceis de avaliar a veracidade de um tarólogo ou mesmo de uma análise é reparar se eles impõem suas opiniões ou se eles culpam outros fatores e pessoas pelas dificuldades que passamos.
Neste ponto, o Tarô faz o papel de mestre porque mostra o quanto somos responsáveis pelo que nos acontece e, ainda assim, nos oferece escolhas.
Uma análise ou um profissional do Tarô que não oferece a devida orientação para lidar com situações difíceis e importantes podem estar equivocados em relação ao propósito do oráculo.
Porque se há uma verdade no mistério que envolve e até mesmo define o Tarô, é que ele é um recurso para que confiemos cada vez mais em nós.
Ele aposta todas as fichas na nossa própria capacidade de levantar a cabeça, dar a volta por cima e aprender com o que nos acontece, sem precisar culpar as pessoas ou a vida como algumas pessoas fazem.
O grande poder de um instrumento como o Tarô está na capacidade de tornar claro o que está no nosso caminho – tanto as pedras quanto as oportunidades de sucesso.
E para obter esse poder, é indispensável ler, reler e ouvir atentamente o que as cartas têm a dizer. E elas sempre dirão tudo aquilo que precisamos saber. Basta atenção, humildade e aceitação, as três condições de um discípulo diante de um mestre.
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Leo Chioda
É escritor e tarólogo. Dedica-se a palestras sobre Tarô, pesquisas históricas e prática da leitura das cartas. É também autor do Tarô Direto e Tarô Mensal do Personare.
l.chioda@personare.com.br