Tem gente que mora no SIA. Acredite!

Uma das principais regiões administrativas quando o assunto é comércio e arrecadação de impostos, o Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) é sinônimo de negócio. Abriga a Ceasa, atacadões, concessionárias, grandes empresas de material de construção, sede de construtoras e a Feira dos Importados. A cidade amanhece quando as lojas abrem as portas e, no final da tarde, quando o expediente se encerra, fica quase vazia. Quase porque existem pessoas morando no local, embora poucos acreditem nisso.

A proximidade com o Plano Piloto e o aluguel mais barato contam a favor do SIA como local de moradia. Mas nem tudo são flores. O setor é desprovido de qualquer estrutura que uma quadra residencial precisa. Faltam parques e praças. Não tem hospital nem escola. Padaria? Nem pensar. Segundo dados da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), a RA tem 1.788 moradores, distribuídos em 488 domicílios. Mas, diariamente, até 150 mil pessoas circulam pelo setor.

Entre os moradores, é possível encontrar quem está satisfeito com o endereço e aqueles que cobram melhorias. O representante de vendas Rômulo Santana, 35 anos, mora há sete anos no SIA, em uma quitinete. Quando precisa de farmácia ou padaria, recorre às regiões vizinhas do Cruzeiro e Guará.  “Quem não tem carro aqui está perdido”, diz, lembrando que os ônibus ficam escassos depois das 20h.

Ele ressalta que os moradores da região já sabem que não podem conviver com essas estruturas. “Não melhorou nada desde que eu vim morar aqui. O SIA é uma cidade improvisada”, argumenta. O garçom Laécio Camargo, 27, vive há nove anos no local, também em uma quitinete. Ele lamenta a falta de redes de ensino e saúde para os moradores.

Seria bom se tivesse um posto de saúde, uma creche. Tenho dois filhos. Deixo eles em uma creche pela manhã, no Cruzeiro. Quando preciso de ir a um posto médico, tenho que ir ao Guará. 

Laécio Camargo, garçom

Característica industrial
No que depender do Governo do Distrito Federal, o SIA vai continua assim por muito tempo.  Não há previsão para construir no setor equipamentos públicos como escolas e postos de saúde. “Até pela característica industrial da cidade e pela proximidade com outras regiões que são assistidas, como o Guará, por exemplo”, justificou, por nota, o vice-governador e administrador interino do SIA, Renato Santana.

Por ser uma área carente desse tipo de infraestrutura, morar no local acaba sendo mais barato. O aluguel de uma quitinete, por exemplo, varia entre R$ 320 e R$ 900. Valor muito atraente para quem trabalha no SIA ou na área central de Brasília, a menos de cinco quilômetros do setor.

 

 

Há, contudo, quem realmente goste de viver ali. “Considero o SIA como o centro de Brasília”, destaca o autônomo Antônio Dias, 67, que reside na região há 11 anos. Em frente à casa onde mora, vende espetinhos. E garante: “Para mim, é o melhor lugar para morar. Estou do lado do Plano Piloto, da Feira dos Importados, dq Ceasa, dos atacadões. Tenho tudo perto de mim”.

Segundo a Administração Regional do SIA, 90% das moradias do local estão em área irregular, no Setor de Inflamáveis. “A maior preocupação do governo é fazer a retirada desses moradores de lá, principalmente por conta do risco iminente em razão de o setor ser cercado de dutos de combustíveis e gases inflamáveis”, completa, em nota, o vice-governador Renato Santana.