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Salário de faxineiro banca filme na Estrutural

Ronaldo Rocha, morador da cidade, produziu dois curta-metragens. Cineastas pedem mais incentivos

atualizado

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Arquivo Pessoal
Ronaldo Rocha reforça o orçamento com a produção de books fotográficos e filmagens de eventos

Embora a Estrutural e seus moradores sejam uma presença crescente na produção cinematográfica do Distrito Federal, os produtores locais ainda são raridade. Sem apoio financeiro, o morador da cidade Ronaldo Rocha bancou os custos de seus dois curta-metragens com o salário de faxineiro na escola em que trabalha. Aos 21 anos, ele assina a direção de “Agindo sem Pensar” e “Marcas da Dor”, ambos gravados na cidade, com atores e produtores locais.

Entusiasmado, lista os equipamentos que conseguiu comprar com o próprio dinheiro. Atualmente, ele cursa o segundo semestre do curso de Jornalismo, graças a um financiamento estudantil, e sonha em estudar audiovisual, “quando der”.

“Essas gravações são todas baseadas em histórias de pessoas da comunidade. As histórias que eu gosto de abordar são reais, mexem com o emocional das pessoas. Você precisava ver todo mundo chorando, se emocionando, quando assistiam e se lembravam de também ter vivenciado aquelas histórias”, diz Ronaldo, em referência ao lançamento do filme “Marcas da Dor”, em 2014, para cerca de 250 pessoas no Centro de Convenções da Estrutural. “Meus filmes são um incentivo aos adolescentes, mostram o caminho a que as drogas levam”, explica.

Único selecionado
Até hoje, o único cineasta da cidade selecionado pelo Festival de Brasília foi Webson Dias. Atualmente, o publicitário trabalha na elaboração do projeto de um filme que contará a história da Cidade Estrutural desde a década de 1960.

Mas é muito difícil, ainda mais agora neste momento de crise, a gente percebe que tem essa dificuldade em conseguir recursos.

Webson Dias, cineasta

Webson também critica a ausência de cinemas e cursos na periferia e defende, entre outras propostas, a criação de um polo de cinema com a oferta de bolsas de estudo. “Não dá para ser um curso temporário, mas se você criasse um pequeno polo de filmagem e edição, com pessoas capacitadas, para formar outras pessoas, em seguida a própria comunidade se organizaria e passaria a formar mais gente”, afirma.

 

: Divulgação
Cartazes de divulgação do filme Ácido Acético, dirigido por Fáuston da Silva

 

Apoio da comunidade
De acordo com Webson, filmagens realizadas por pessoas da própria comunidade alcançam resultados que dificilmente seriam possíveis com cineastas de outras regiões. “A gente tem que contar muito com essas pessoas da comunidade mesmo, porque se você traz pessoas de fora que não estão muito ambientadas com as dinâmicas daqui, elas se chocam com histórias meio pesadas e isso dificulta o trabalho”, afirma. “Mas produções com qualidade técnica são feitas geralmente por pessoas de fora e as pessoas da comunidade acabam não tendo nem acesso àquilo.”

Otimista, Fáuston da Silva compara a experiência do cinema na Estrutural a outras regiões do DF e diz que, embora faltem incentivos e recursos, a cidade tem se destacado. “A Estrutural é milagrosamente jovem e, se você pensar, está competindo com cidades históricas como Ceilândia, Planaltina”, diz. “É uma questão de tempo – e acrescento pouco tempo – para que a Estrutural tenha bons realizadores para se posicionar no cenário brasileiro.”

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