Recanto das Emas contra a obesidade infantil
Pais da RA se unem em projeto que valoriza a alimentação saudável e a prática de exercícios dos filhos
atualizado
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Em uma quinta-feira do mês de setembro, mães e crianças com idades que variam entre 5 e 13 anos se aglomeram numa sala do Centro de Saúde 2, no Recanto das Emas. Ali, aguardam ansiosas o atendimento da nutricionista Raquel Rabelo e da pediatra Andréia Barros. Junto com a enfermeira Karoline Oliveira e com o professor de educação física Natal da Silva, as duas são idealizadoras do projeto que reúne tanta gente ali naquele dia: o Programa Obesidade Embora Infantil (Probem), uma tentativa de frear, ainda na infância, um problema que já tem status de epidemia.
Hoje, cerca de 50 crianças da RA recebem atendimento pelo projeto, uma ideia que nasceu dentro do próprio centro, quando os profissionais começaram a notar a quantidade de crianças acima do peso nas consultas e – pior –, com resultados de exames que, mesmo para adultos, seriam alarmantes, como colesterol e pressão altos.
Muitas crianças, se não estivessem com o acompanhamento do Probem, já estariam diabéticas. Algumas, mesmo com a dieta regrada e perdendo peso, ainda apresentam exames alterados. Imagina se elas não estivessem recebendo tratamento?
Andréia Barros, pediatra
O projeto é um braço de um programa similar que já atende adultos na unidade há quatro anos e que nasceu da mesma forma que sua versão infantil. As crianças foram indicadas pela própria equipe e recebem atendimento um vez por mês, sempre às quintas-feiras. São pesadas por Karoline, fazem avaliação da dieta e das metas com a nutricionista e a pediatra, e depois participam de uma oficina lúdica, que varia entre aulas divertidas de como montar um prato até brincadeiras com bola e bexiga.
Sem apoio dos órgãos do GDF, a equipe foi buscar, por conta própria, o que precisava. O exame cardiológico para que as crianças fossem liberadas para atividade física, por exemplo, vem de um colega cardiologista do Guará que topou ajudar. “Conseguimos um aparelho de eletrocardiograma antigo e fizemos os exames aqui. Depois, levei por conta própria para o Guará para que ele desse o laudo”, conta Natal da Silva. Por causa disso, a maioria das crianças está matriculada em algum esporte na Vila Olímpica do Recanto.
Vida nova
A dois encontros do encerramento, é hora de começar a contabilizar acertos e fracassos da primeira turma. Do projeto piloto, como a equipe chama essa primeira experiência, vieram aprendizados. Uma batalha que eles pretendem enfrentar agora é pela inclusão do atendimento psicológico. Sem controlar a ansiedade, por exemplo, fica difícil baixar o peso. E a maioria das crianças vem de famílias de pais separados. “É muito comum a gente ter que fechar a porta da sala e começar uma sessão de terapia“, comenta a pediatra Andréia Barros.
Fora isso, o Probem é motivo de comemoração. Outras unidades de saúde do DF já cresceram os olhos na iniciativa do Recanto das Emas. Uma turma de São Sebastião chegou a fazer um estágio no centro de saúde para avaliar a possibilidade de levar o projeto para a cidade. O médico do Guará que ajudou a laudar os exames cardiológicos das crianças também se empolgou com a ideia.
Desde o início do programa, em março, a equipe calcula menos de dez desistências. Tirando uma ou outra carinha de desânimo quando Andréia e Raquel anunciam que a meta do mês não foi cumprida, as crianças gostam dos encontros. Colecionam estrelas douradas cada vez que batem a meta e Natal sonha poder distribuir bicicletas e troféus aos maiores colecionadores no encerramento do Probem, em novembro.
Mudança de hábitos
Alice Beatriz Ferreira, 11 anos, é forte candidata. Traz três estrelas no crachá – só perdeu uma, a do último encontro, porque engordou 900g. “Foi um tapa na cara”, disse a mãe da menina, Lucimara Penha, 28 anos. Alice tem sobrepeso desde os 11 meses. Um dia, em uma consulta de rotina, Lucimara viu o anúncio do programa fixado na parede do centro de saúde. “Coloquei o nome dela na fila de espera na hora e saí divulgando para todo mundo”, conta.
Desde março, a menina perdeu 4kg e se matriculou em aulas de natação e de karatê na Vila Olímpica. O novo cardápio de Alice gerou mudanças na casa inteira – cenário ideal, na opinião de Raquel e Andréia. O marido de Lucimara, que comia “arroz, feijão e carne”, passou a adotar o arroz integral e o bebê da casa, de 10 meses, sequer chegou a provar o sabor do arroz branco.
Já estou triste que o projeto está acabando. É bom saber que alguém fora da família se importa tanto e tem tanto carinho pelo seu filho.
Lucimara Penha, mãe de uma criança inscrita no programa
A turma do ano que vem ainda não está confirmada, mas os profissionais esperam conseguir levar o projeto adiante, e com melhorias. A ideia é fazer uma triagem para selecionar as crianças entre dezembro e janeiro e recomeçar os atendimentos em março do ano que vem.