Churrascaria Paranoá luta para manter-se de pé
À frente do restaurante pioneiro fundado em 1956, Fábio Martins batalha para conservar características do local
atualizado
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Aqui no Distrito Federal, basta observar mais atentamente para notar que a história está mais próxima do que podemos imaginar. Porém, enquanto grandes feitos arquitetônicos, a exemplo daqueles na Esplanada dos Ministérios, são vigiados de perto e tombados como patrimônios da humanidade, outros lutam para sobreviver. Um deles é a Churrascaria Paranoá, recanto gastronômico da região há quase seis décadas.
Realizar a manutenção do restaurante é tarefa difícil. Fábio Martins, de 40 anos, faz o possível para cuidar desse legado. Criado em meio àquele ambiente pelo pai, Gomes Calixto, fundador do espaço, o empreendedor luta para conservar o local com suas características originais, ao mesmo tempo em que tenta modernizá-lo para tentar apagar um pouco as marcas do tempo. Morador do Paranoá, Martins, que além de cuidar do endereço também comanda as panelas da cozinha ao lado da esposa, promove pouco a pouco uma reforma.
Revitalização
O processo de revitalização inclui a troca das telhas, antevendo o período de chuvas que começa em outubro, e melhorias na cozinha para se adequar a critérios estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Baseando-se apenas nos próprios recursos financeiros, o empresário lamenta não contar com incentivos do governo para a tarefa.
Procurado há alguns anos com planos de tombamento, o herdeiro da churrascaria refutou a oferta – com o incentivo, a Paranoá deixaria de pertencer à família do fundador. Para Fábio Martins, o cenário ideal é conseguir apoios oficiais ou de empresários para realizar melhorias na casa, sem que os detentores do espaço percam o direito à posse. A Secretaria de Turismo do Distrito Federal afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que, por enquanto, não há projeto oficial em vista para melhorias no endereço.
Dá muito trabalho tentar conservar essa história, mas manter esse legado é o que me segura aqui. Infelizmente, não temos condições de fazer uma reforma completa no local com a velocidade que precisamos.
Fábio Martins
Pioneiro
Entre pratos que incluem carnes assadas, acompanhamentos caseiros e até cortes exóticos, como os de jacaré, rã e galinha-d’angola, a Churrascaria Paranoá serve de ponto importante para relembrar os primórdios de Brasília. Inaugurado em 1956 como um misto de refeitório e cantina para os candangos, o local estabeleceu-se como parte da paisagem na barragem do Lago Paranoá. Além dos trabalhadores, que em áureas épocas comiam até duas mil marmitas do lugar, o então presidente Juscelino Kubitschek também frequentou o ambiente.
Hoje, mesmo com as dificuldades para se revitalizar, o restaurante mantém sua rotina e, segundo o dono, chega a lotar os 120 lugares no fim de semana. Dentre os frequentadores fiéis estão pioneiros, que matam a saudade de um tempo que já passou – nas paredes do lugar, fotos antigas da construção da barragem pontuam o espaço. Um retrato de JK, o visitante mais ilustre da churrascaria, também tem destaque. Para a comemoração de 60 anos da casa, em fevereiro do ano que vem, Fábio Martins é otimista: “Espero que estejamos com o restaurante reformado para receber nossos antigos clientes e também conquistar novos consumidores”.