Estação no Bandeirante à espera do trem
Última viagem de passageiros foi em 1994. Hoje, ponto que leva nome do pioneiro Bernardo Sayão está abandonado
atualizado
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Ano após ano, as promessas de reativação da linha férrea no Distrito Federal ficam apenas no papel. Enquanto isso, uma das estações pioneiras da região, a Bernardo Sayão, entre o Núcleo Bandeirante e o Park Way, está abandonada. O letreiro com o nome do pioneiro está incompleto. Os bancos pichados ou quebrados, assim como a fachada.
O local, que chegou a receber milhares de passageiros que vinham para Brasília, agora é habitado por famílias que invadiram as instalações construídas numa área que hoje pertence ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
A estação nem de longe lembra aquela inaugurada em 21 de abril de 1968. Naquele dia, em comemoração ao aniversário de Brasília, passava pouco das 10h quando a primeira locomotiva chegou. Puxava cinco vagões lotados de passageiros que vinham do Rio de Janeiro. O transporte de pessoas pela linha férrea até a capital do Brasil durou até 1994. E a estação, que viveu momentos de glória, virou cenário de esquecimento. Sobraram apenas os trilhos, que são sinais de esperança de que um dia os trens voltem a circular.
Na estação, vigora a lei do silêncio. Os invasores não querem ser incomodados. Para eles, quanto menos se falar da estação, melhor. Muitos dos espaços que antes eram ocupados por lojas, bilheterias e salas comerciais agora são moradia, fechadas por portas e grades. Em algumas delas, cachorros bravos têm a tarefa de espantar os curiosos. Uma moradora que não quis se identificar disse apenas que morava no local há 12 anos.
As plataformas viraram garagens de motos e carros. Um dos moradores admitiu que é ex-funcionário da ferrovia. Curiosamente, acima da porta do espaço que ocupa há uma placa: “Patrimônio: bem devolvido ao Dnit”. Ao lado, uma mais antiga e enferrujada, da RFFSA, estatal federal que cuidava das ferrovias, já extinta. “ Colocaram isso aqui há um ano, mas não mudou nada depois disso”, diz o morador, que também não quis se identificar.
Cenário de álbum de casais
Em meio ao descuido, há quem sabe aproveitar a área. “Sempre vejo casais sendo fotografados. Até noiva eu já vi”, conta o comerciante Francisco Neto, 56, dono do “Trem das Onze”, um restaurante em frente à estação. Por enquanto, a clientela se resume aos moradores do local e a casais de noivos que utilizam a estação para fazer books de casamento. “Sempre achei um local bacana e diferente para trazer os casais”, conta a fotógrafa Rejane Cristina, 30 anos.
No último domingo ela fotografou Luiz Henrique, 22, e Bruna de Castro, 21, na plataforma. Moradores da Cidade Ocidental, os dois admitiram a surpresa com o local recomendado pela fotógrafa. “Nem sabia que existia uma estação desse tipo aqui em Brasília, ainda que abandonada”, disse a professora. “Fiquei surpreso e sem acreditar muito”, completou o auxiliar administrativo. “Seria legal que a estação fosse reativada, mas não creio que isso vá acontecer”, lamenta Rejane.
Venho aqui com frequência. Mas, a cada dia que passa, vejo o lugar mais sujo, mais jogado, abandonado. É uma pena.
Rejane Cristina, fotógrafa
Incerteza
Entra governo, sai governo, as promessas de reativação das linhas férreas se renovam, sem serem cumpridas. O presidente do Metrô-DF, Marcelo Dourado, admite que há projetos para a reativação das linhas férreas no Distrito Federal. “O Governo Federal fará, em outubro, um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI). Vejo que essa é a melhor opção para o transporte do Entorno, com trens integrados”, explica.
O PMI funciona como um concurso de ideias. O governo pede, por meio de um convite público, que empresas proponham soluções para um determinado projeto, baseadas em estudos preliminares. Caso as propostas saiam do papel, a empresa vencedora da licitação para executá-lo paga pelo projeto que venceu o PMI, reduzindo os investimentos feitos pelo Poder Público. “Recentemente apareceram algumas pessoas que disseram que iriam retomar a estação. Mas para onde ou quando vai começar isso, ninguém fala”, confirma o comerciante Francisco Neto.