Moradores do Gama contra mais edifícios residenciais
Cidade pode ganhar 45 novos prédios para habitações de interesse social no Setor Central
atualizado
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Em cima do viaduto do BRT e com o braço apontado para a entrada do Gama, o arquiteto Paulo Flores, 47 anos, lembra com saudosismo que, daquele ponto, era possível ver apenas um prédio de dez andares onde funcionam hoje escritórios de advocacia e lojas. O edifício, considerado o mais alto da cidade até o início dos anos de 1990, desapareceu em meio a outras projeções do Setor de Indústrias, erguidas com a aprovação do Plano Diretor Local, em 2006. A Lei Complementar 728 transformou a área destinada a fábricas e oficinas em residencial.
De lá para cá, a Administração Regional do Gama concedeu alvará de construção para 12 prédios no Setor de Indústrias do Gama. O conjunto de edifícios soma três mil apartamentos. Mas a ocupação de habitações no setor está suspensa desde maio de 2010, por recomendação do Ministério Público do DF. A Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Urbanística determinou que a administração se abstivesse de expedir qualquer alvará de construção ou visto de projeto para unidades residenciais no local.
Trânsito
A expansão imobiliária é uma das maiores preocupações dos moradores. “A cidade não tem infraestrutura para suportar tanta gente. Isso impacta em vários setores, como o trânsito”, ressalta Flores. Na avaliação do arquiteto, os efeitos nas pistas já podem ser sentidos para quem passa de carro. A localidade, que em tempos não muito remotos foi comparada com cidade de interior – principalmente devido à calmaria no trânsito – hoje sofre com os problemas do cotidiano de regiões mais populosas do Distrito Federal, como o engarrafamento.
Os constantes congestionamentos fizeram com que o Departamento de Trânsito (Detran) instalasse mais três semáforos nas avenidas gamenses, depois de décadas fluindo com apenas dois: perto da administração regional e em frente ao Hospital Regional do Gama (HRG).
Eu lembro que havia apenas dois sinaleiros: perto do Batalhão do Corpo de Bombeiros (Norte) e da Polícia Militar (Sul). Agora são tantos que freiam o fluxo.
Fernando Ribeiro, servidor público
Mais prédios
A densidade demográfica da região não deve demorar muito para tornar a crescer. Conforme relatório de vista encaminhado à Administração Regional do Gama, depois conferido com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab), serão erguidos 45 novos prédios para habitações de interesse social – para famílias de baixa renda – apenas no Setor Central da cidade.
Cada condomínio deve ter uma média de 40 apartamentos, o que daria um total de 520 unidades. “Esse setor é nobre. Já existem prédios ali. A situação vai ficar ainda pior com a chegada desses prédios”, alerta o arquiteto. O Metrópoles procurou a Administração Regional do Gama, que não se pronunciou.