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Mercado de carnes no DF poderá sofrer desabastecimento

Previsão da Federação de Agricultura e Pecuária é de que falte produto, caso frigoríficos não sejam abastecidos

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A crise escancarada pela Operação Carne Fraca deve chegar, em breve, ao prato dos brasilienses. Com a redução no consumo e o efeito cascata na produção, a queda nas vendas é vista como uma consequência natural e pode provocar a falta de produtos nos supermercados, açougues, entre outros estabelecimentos.

Passada uma semana da operação, deflagrada em 17 de março, o cenário ainda é nebuloso. Especialistas afirmam que a reação do mercado depende dos desdobramentos da investigação e da relação entre produtor e consumidor. Quadro que pode levar ao desabastecimento parcial do mercado local.

“Os frigoríficos não fizeram aquisição de carne nos últimos dias. Se não tiver nenhuma compra, em 10 dias, pode faltar o produto no Distrito Federal”, alerta Fernando Cezar Ribeiro, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do DF.

De acordo com ele, o comércio de aves ainda não sentiu o baque, mas o de carne bovina parou. “Não se compra mais nada e os embarques (para o mercado externo) foram cancelados. Não é falta de animal, e sim de abate”, diz. De acordo com ele, a situação é crítica. “Mercados estão tirando das gôndolas produtos de algumas marcas envolvidas na operação”, assegura Ribeiro.

A operação da Polícia Federal abalou não só no setor produtivo como o comércio de carnes. “Mas, com os devidos esclarecimentos, as vendas tendem a se normalizar”, acredita Francisco Carlos de Carvalho, vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas, Gêneros Alimentícios, Frutas, Verduras, Flores e Plantas do DF (Sindigêneros).

Prejuízos em cadeia
Os produtores estão preocupados com a dificuldade da absorção interna de mercadorias que seriam destinadas ao mercado externo. Caso os embargos sejam mantidos pelos países parceiros, as vendas precisariam ser escoadas pelo país. “O que pode ocorrer é um desastre”, ressalta Ribeiro. De acordo com ele, se essa produção for destinada ao mercado interno, não será possível absorvê-la. Isso porque o consumo caiu muito depois da crise.

A produção já está sendo afetada e pode levar meses para se recuperar. Com a queda nas vendas, será preciso segurar os animais por mais tempo para o abate. Isso prejudica toda a cadeia e os próximos cortes

Bruno Lucchi, superintendente-técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil

As autoridades têm se esforçado para tranquilizar a população. A Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri) informa que o DF conta com 16 abatedouros e um frigorífico localizado no Paranoá como fornecedores. Nenhum deles está na lista divulgada pela PF.

A fiscalização na capital é feita pela Seagri. A secretaria monitora desde a chegada das matérias-primas e animais nos abatedouros até a expedição dos produtos. A pasta responde também pelas análises laboratoriais e a checagem do transporte nas vias do Distrito Federal.

Quando as carnes são entregues nos estabelecimentos, a Vigilância Sanitária entra em campo para verificar as boas práticas de manutenção e manipulação desses alimentos. 

Brasília recebe, porém, produtos de outros estados, principalmente de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Pará. Entre as 30 empresas investigadas na Operação Carne Fraca, em um universo de 4 mil frigoríficos do país, duas abastecem o DF: a JJZ Alimentos, de Goianira (GO), e a BRF S.A, da cidade de Mineiros (GO).

Recuperar a confiança
O desgaste perante os parceiros comerciais e consumidores é visível. Recuperar a confiança, segundo especialistas, pode demorar mais de uma década. “Essa cadeia de confiança, quando quebrada, leva tempo para ser restabelecida”, destaca Marcus Cerqueira, professor da área de tecnologia e higiene dos alimentos e microbiologia.

A Diretoria de Vigilância Sanitária (Divisa) vai enviar na segunda-feira (27/3) a atualização da instrução normativa nº10 para o Governo do Distrito Federal. O documento contém normas de boas práticas de alimentação e manuseio dos alimentos.  Elas serão alteradas. O órgão promete também reforçar a fiscalização nos estabelecimentos e dar atenção especial às distribuidoras.

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