Quando estamos muito críticos não estamos nos sentindo amados por Deus
A melhor forma de não julgar é nos sentirmos profundamente amados, integralmente respeitados e cuidados por Deus
atualizado
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“O ser consciente deve trabalhar-se sempre, partindo de sua realidade psicológica, aceitando-se e aprimorando-se sem cessar. Consegue essa lucidez quem se autoanalisa disposto a ver-se sem máscara. Por isso, não se julga nem se justifica, não se acusa nem se culpa. Apenas descobre-se.” E segue adiante…
A frase brilhante de Joanna de Angelis mostra de forma objetiva que o caminho do “conheça-te a ti mesmo” – principal ferramenta para que alcancemos a paz interior – pode ser construído de forma mais leve e tranquila. Não precisamos evoluir aos tropeços e dores necessariamente. Nessa busca por nos liberarmos de conceitos rígidos sobre como se dá o processo evolutivo, esbarramos em crenças arraigadas, fixações e vieses perigosos pelo caminho.
A essência do grande pedagogo nos convida a amar
Um dos aspectos que mais causam sofrimento é a autocrítica desequilibrada, que rapidamente nos leva a desaguar no oceano da culpa. E a culpa invariavelmente nos chumba no chão, nos imobiliza. Com ela paramos de caminhar e fluir em meio às águas do aprendizado contínuo. Por outro lado, viver na negação de nossas dores, sem autoanálise, desconectados, de forma irrefletida e descuidada, nos leva para o outro extremo do pêndulo. Extremo este que nos prende, novamente, na imobilidade e estagnação.
Quando nos sentimos muito críticos com relação a nós mesmos ou às pessoas, percebemos que não estamos nos sentindo amados por Deus.
A melhor forma de não julgar é nos sentirmos profundamente amados, integralmente respeitados e cuidados por Deus. Assim, preenchidos e sustentados, o amor transborda de dentro para fora. Passamos a ver tudo e todos em processo, pois não tem como não se encher da essência do Grande Pedagogo, e comungar de Sua verdade e misericórdia. O Pai olha para seus filhos e sabe que é o tempo e o processo de cada um. Quando nos sentimos amados, cuidados e olhados por Deus, sempre próximos d’Ele, passamos a ter esse olhar compassivo conosco mesmos, e com os demais também.
Por isso, a importância de distinguir autocrítica de autoanálise.Autocrítica X Autoanálise
Quando abraçamos e acolhemos cada passo que damos em nossas vidas, nos sentimos aceitos, compreendidos e empolgados a criar ações mais amorosas e livres. Portanto, diante de um “aparente erro”, precisamos ir além dos rótulos e receios das expectativas sociais não correspondidas, e ouvir o que aquela atitude fala sobre nosso momento interno.
Por exemplo, um ataque de ciúmes público. Nos sentimos expostos e fracos porque, momentaneamente, cai a máscara de proteção, controle e poder que, a tanto custo, sustentamos para a sociedade.
Podemos escolher ficar estagnados na ressaca moral, na vergonha pública; ou olhar para dentro e ver a preciosidade desse episódio como um grito interno da consciência que já está pronta para lidar com a insegurança manifesta. É o buraco clamando por um olhar mais atento, por um acolhimento mais intenso, por um colo mais demorado.
É aí, neste exato momento, que temos a chance de nos olhar e escolher o caminho da autoanálise, do autoconhecimento, que bebem das fontes da compreensão, da lucidez e do autoamor para preencher as lacunas de dentro. Assim, gostosamente e com carinho, trazendo movimento e fluidez para o processo.
Ou podemos continuar presos à autocrítica, à vergonha, ao vexame, à culpa, à raiva – elementos, estes, sintomáticos do esforço egóico por calar e tampar o buraco que clama por ser visto, acolhido, preenchido e integrado com amor e gratidão.
O mal precisa ser iluminado, integrado e não extirpado
Quando o espírito André Luiz diz que “o mal não merece comentários”, ele se refere a essa dinâmica energética. Isso é ensinado com maestria, também por Joanna de Angelis, com o exemplo do grão de areia que invade a ostra. “Ao invés de expulsá-lo, ela o envolve, transforma-o em pérola reluzente. De igual maneira, transforma o aparente mal em significativo bem. Não será fácil evitar-se a convulsão social, enquanto não se corrigirem as de natureza moral. Começa, de tua parte, o programa de transformação da humanidade, em ti mesmo, sem permitir que a tua seja a contribuição perturbadora, aquela que impede o progresso geral.”
A pedagogia Waldorf também atua sobre a mesma conclusão e afirma que “o mal não se combate, reforça-se o bem”.
Ao nos depararmos com uma falha nossa ou do outro, podemos entrar num estado de observação indulgente, com doçura e encantamento pelo processo em andamento. Lançamos mão da análise neutra, que não se apega, não pune, mas também não se vitimiza nem se justifica. Mergulhamos no maravilhoso processo do “conhece-te a ti mesmo”, com amor, responsabilidade, reconhecimento, foco, ritmo, calma, aceitação, movimento. Assim, conseguimos continuar a fluir e a integrar todos os aspectos duais do ser, percebendo que tudo, absolutamente tudo, conspira para o bem.
O filho aprende a amar, e não necessariamente expiar
Nesse lugar, não se trata mais de expiar nem ser provado, testado, mas simplesmente aprender a amar e a fluir nesse amor. O amor deseja amar, manifestar-se por meio de nossa humanidade, traduzindo-se ricamente em matizes de cores mil. Alinhados com este amor, passamos a refletir mais fielmente as luzes da fonte infinita do Pai. Caminhamos com as próprias pernas, mas sempre sustentados pela constância e segurança de Suas leis divinas.
No texto Pensar, também do espírito André Luiz, confirma-se esta ideia claramente: “Deus é Amor e não pune criatura alguma. A própria criatura é que se culpa e se corrige, ante os falsos conceitos que alimente com relação a Deus. Em nosso íntimo, a liberdade de escolher é absoluta; depois da criação mental que nos pertence, é que nos reconhecemos naturalmente sujeitos a ela. O Bem Eterno é a Lei Suprema”.
O convite do amor é ir além da consciência-tribunal e fluir na consciência-movimento, erguendo um novo estado de alegrias e louvores a toda e qualquer manifestação da vida. Quando vemos o bem em tudo e em todos, dentro e fora, mesmo em expressões de adversidades mil, a consciência torna-se um altar de bênçãos e honrarias à incrível experiência de aprender a amar.