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O que a porta estreita tem a ver com o caminho do meio?

Por que será tão desafiador seguir o caminho do equilíbrio, e assentar-nos em paz sobre o fio estreito do caminho do meio?

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Sempre ouvimos falar sobre o conceito do “caminho do meio”. A saga de alcançar o equilíbrio parece muito distante, quase inatingível. No meu coração, sinto ser uma conquista para séculos, milênios talvez. No entanto, só de passear pelos insights a que esta compreensão nos convida, vejo o abrir de caminhos para novas aventuras a desvelar ali, logo mais…

Certa vez, pela graça de conhecer um grande amigo de minha mãe, ele concedeu-me uma breve explicação a respeito do significado da “porta estreita”. Esta conversa, por sua vez, levou-me a tatear os primeiros raios do amadurecimento para compreender a famosa figura de linguagem proposta por Jesus Cristo, e sua ligação com o “caminho do meio” ensinado por Buda.

Vamos a um exemplo: entre os extremos de viver 100% uma atitude de autoexigência comigo mesma, ou de viver em 100% de relaxamento, reside o famoso “fifty-fifty” – 50%/50%. Este amigo me disse que compreendeu ser a porta-estreita o alcance desse perfeito equilíbrio: se sou 51% exigente e 49% relaxada, ainda não estou sob o fio do “caminho do meio”.

Espírito X Matéria
Uma reflexão que deriva disso é a compreensão da vivência da Espiritualidade na matéria. Coloquemos como extremos a nossa relação com o mundo material; e no outro lado, o contato intenso com a Espiritualidade. Seria a porta estreita o equilíbrio entre um e outro? Viver a matéria como meio e não um fim em si e, no entanto, valer-se dela com excelência para, no contato santificado com seus acertos e revezes, experienciar, aprender e usufruir de seus ensinamentos para a evolução do espírito?

Será que uma pessoa que apenas dedica-se à Espiritualidade, e esquece da lida no dia a dia, ignora a pia cheia de louça, as contas a pagar, a família em sofrimento, não está caminhando pela “porta larga da perdição”? Por que será tão desafiador seguir o caminho do equilíbrio, e assentar-nos em paz sobre o fio estreito do caminho do meio?

São perguntas para as quais ainda não encontrei respostas. Mas esse início de flerte com tais conceitos, vez por outra, retorna à minha mente. E me faz ficar atenta a reconhecer onde e quando estou me demorando demais em exageros, presa aos extremos do pêndulo das polaridades.

Leis herméticas
Aqui, uma vez mais, recorro às leis herméticas, de autoria do filósofo egípcio, Hermes Trismegisto (1330 a.C.). São sete, no entanto, três delas chamam a atenção no diálogo aqui proposto:

  • Lei da correspondência: “Aquilo que está embaixo é como aquilo que está em cima, aquilo que está em cima é como aquilo que está embaixo”.
  • Lei da polaridade: “Tudo é duplo, tudo tem dois polos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliáveis”.
  • Lei do ritmo: “Tudo tem fluxo e refluxo, tudo tem suas marés, tudo sobe e desce, o ritmo é a compensação”.

Assim, me deparo com a sensação clara de que todos os cenários que se configuram em nossa vida são sagrados. São amor em expressão, ainda que alguns deles estejam orientados, temporariamente, para um sentido de desamor. No entanto, na negação do mesmo, reforçam sua existência.

Um passeio pelas polaridades
Sentindo em silêncio, vislumbro que o passeio pelas polaridades é como um exercício para alcançar o amadurecimento na vivência da Unidade – lá, onde ‘os extremos se tocam’ e os paradoxos mostram-se ‘reconciliáveis’.

Viver o “Amor em Movimento” é permitir-se expressar nossa verdade interna, momento a momento. Tendo sempre em vista a validação de nossas pulsões instintivas, atentos às reações indesejadas e ainda infantis – que, no entanto, têm sua função e proposta de aprendizado.

Por outro lado, viver o “Amor em Movimento” é, também, divisar as luzes da Espiritualidade. É antever a luz extrema que, nesta Terra, nos cegaria. Mas que nos acena, de longe, com as potências de um ambiente que, por hora, podemos apenas vislumbrar.

Qual o ponto de equilíbrio entre a natureza instintiva e a angelitude insondável do mais além? Vem, Carl Gustav Jung, me dá a mão! Mostra para mim, em tua humanidade doce, pontuada de sagrados vislumbres, o caminho a seguir.

Com a síntese que apenas as mentes brilhantes alcançam, o nobre psicanalista nos responde: “Qualquer árvore que queira tocar os céus, precisa ter raízes tão profundas a ponto de tocar os infernos”.

Viajar leve
Nesse vai e vem entre extremos, passeamos por cenários mil – todos abençoados. Para nós, enquanto seres habitantes do mundo de polaridades, o foco na busca do caminho do meio parece ser a rota mais segura para quem deseja viajar leve pelas espirais da existência. No pêndulo das possibilidades, a busca da porta estreita configura-se como nosso mais sagrado objetivo.

Quimera? Talvez. Mas para que serve a utopia? Eduardo Galeano nos responde: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”.

No melhor estilo Dory, amiga do peixinho Nemo, despeço-me com sua preciosa filosofia: “Continue a nadar!”

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