“Uma das maiores fraudes da história”, diz procurador sobre caso FTX
Fundador da FTX, empresário Samuel Bankman-Fried, detido nas Bahamas, é alvo de oito acusações criminais e pode pegar até 115 anos de prisão
atualizado
Compartilhar notícia
“Uma das maiores fraudes financeiras da história americana.” É assim que o procurador-geral de Manhattan, Damian Williams, classificou o caso envolvendo o empresário e investidor Samuel Bankman-Fried, fundador da corretora de criptomoedas FTX, que foi preso nas Bahamas na segunda-feira (12/12).
O ex-CEO da FTX é alvo de oito acusações criminais, incluindo fraude eletrônica, conspiração, fraude de valores mobiliários e lavagem de dinheiro. Ele foi indiciado pelas autoridades dos Estados Unidos e pode pegar uma pena total de até 115 anos de prisão.
Se condenado, Bankman-Fried pode pegar 20 anos de prisão por cada acusação de fraude eletrônica e lavagem de dinheiro, além de cinco anos por cada fraude no mercado de valores mobiliários e no financiamento de campanhas políticas.
“Você pode cometer fraudes de bermuda e camiseta sob o sol. Isso também é possível”, afirmou Williams em entrevista coletiva na terça-feira (13/12).
De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários e Câmbio dos EUA, o fundador da FTX orquestrou “uma fraude massiva, desviando bilhões de dólares dos fundos de clientes da plataforma de negociação para seu próprio benefício pessoal e para ajudar a aumentar seu império criptográfico”.
As investigações apontaram que o dinheiro recebido por Bankman-Fried se misturava aos fundos da Alameda Research, o braço de investimentos da FTX, e era utilizado para financiar investimentos em vários empreendimentos, além de compra de imóveis e doações políticas – tudo isso sem o conhecimento dos investidores.
A comissão apresentou um documento de quase 30 páginas com acusações contra o empresário, incluindo o desvio de recursos dos clientes para aplicações de alto risco na Alameda Research.
“Alegamos que Sam Bankman-Fried construiu um castelo de cartas com base em fraude, enquanto dizia aos investidores que a FTX era uma das empresas mais seguras em cripto”, afirmou o presidente da Comissão de Valores Mobiliários, Gary Gensler, em um comunicado.
Até o momento, as autoridades americanas não detalharam como pretendem trazer Bankman-Fried de volta aos EUA, para responder pelos eventuais crimes no país. O pedido de extradição deve ser apresentado nas próximas semanas. Os advogados do empresário tentam evitar que ele seja mandado para os EUA.
Como a FTX virou pó
A empresa deve a seus credores pelo menos US$ 3 bilhões (R$ 15,9 bilhões), de acordo com os pedidos de falência. Os investigadores apuram se a FTX usou fundos de clientes para emprestar dinheiro ao braço de investimentos da companhia, Alameda Research.
O fundador da FTX vem sendo investigado pelo menos desde o início de novembro. Há menos de um mês, a FTX estava avaliada em US$ 32 bilhões (R$ 166,2 bilhões). O patrimônio de Bankman-Fried era estimado em US$ 16 bilhões (R$ 83 bilhões). Em poucos dias, a empresa mergulhou em uma crise sem precedentes que a levou à falência com uma velocidade espantosa, o que contaminou grande parte do mercado global de criptomoedas.
No mês passado, uma reportagem publicada pelo site CoinDesk revelou que a FTX passava por uma delicada situação financeira. O balanço patrimonial da Alameda Research (empresa-irmã da FTX) tinha 75% de ativos não líquidos – que não podem ser negociados rapidamente.
Os outros 25% desses ativos eram compostos pelo token FTT, um tipo de criptoativo emitido pela própria FTX. Ficou claro que a companhia teria de vender muitos desses tokens no mercado, o que derrubaria a cotação do ativo.
Quando a reportagem foi publicada, a corretora sofreu uma corrida de saques. A situação piorou depois que o CEO da Binance, Changpeng Zhao, afirmou que também venderia todos os tokens emitidos pela concorrente que estavam em sua carteira, o que correspondia a mais de US$ 2 bilhões (R$ 10,3 bilhões).
Na prática, a FTX quebrou após utilizar dinheiro dos clientes em operações de crédito e acumular um passivo estimado em US$ 10 bilhões (R$ 51,9 bilhões) com cerca de 1 milhão de credores, inclusive brasileiros. Com a corrida por saques, as cotações desabaram e o ativo derreteu.
O episódio causou uma crise de confiança generalizada no mercado cripto, o que vem afetando também cotações de ativos que não estão relacionados ao caso FTX.