Taxa de juros é incompatível com crescimento da indústria, diz Anfavea
Afirmação foi feita por presidente da entidade, em apresentação dos resultados do setor, que teve queda de produção, vendas e exportações
atualizado
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A taxa básica de juros vigente no país é “incompatível com a expectativa de crescimento da indústria”. A afirmação foi feita na manhã desta segunda-feira (8/5) por Márcio de Lima Leite, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), entidade que reúne as principais montadoras do país. “Apoiamos a independência do Banco Central (BC)”, disse Leite. “Mas, com esses juros, o mercado continuará em retração, ele não vai crescer.”
A crítica aos juros básicos do país, a Selic, fixada em 13,75% ao ano pelo BC, foi feita durante a apresentação dos resultados da Anfavea de abril. Nesse mês, o setor registrou queda na produção (18%), nas vendas (19,2%) e na exportação (19,4%) de veículos. Isso em comparação a março deste ano. “Estamos adequando a produção à demanda de mercado”, afirmou Leite, observando que ocorreram nove paralisações de fábricas do segmento no mês passado. Desde o início do ano, elas somam 13.
O presidente da Anfavea acrescentou que, por se tratar de um tema “complexo”, o país precisa encontrar alternativas para superar a questão dos juros. A entidade sugeriu ao governo federal a permissão do uso de parte do FGTS para a aquisição de veículos novos e usados, como forma de aquecer as vendas do setor. Em entrevista ao Metrópoles, Leite havia dito que, com o mercado fraco, há o risco de alguma montadora deixar o país.
Leite também creditou a queda nos três indicadores (produção, vendas e exportação) ao número de feriados de abril, três no total, sendo todos prolongados. “Na prática, março teve cinco dias úteis a mais”, afirmou. “E cada dia perdido tem uma influência de 4% a 5% na produção final.”
Números do setor
Em relação aos números apresentados pela Anfavea, eles mostram uma queda em abril em relação a março, mas, em alguns casos, houve elevação no contraste com o mesmo período do ano passado. Isso embora 2022 tenha sido um dos piores momentos da indústria desde os anos 2000. Ou seja, nesse caso, a base de comparação é ruim, por ser extremamente baixa.
Em abril, a produção foi de 137,5 mil veículos, contra 167,7 mil, em março (-18%). Em relação a abril do ano passado, ela também apresentou queda, mas menor: 3,9%. Na análise do período entre janeiro e abril de 2022 e 2023, porém, houve aumento de 4,8% no total de veículos fabricados no Brasil neste ano.
As vendas caíram 19,2% entre março (199 mil veículos) e abril (160,7 mil). Mas entre o mês passado e abril de 2022, ou seja, na referência anual, houve crescimento de 9,2%. Esse avanço chega a 14,4% na análise entre os primeiros quatro meses deste ano e do ano passado.
As exportações apresentaram resultados semelhantes. Queda de 19,4% entre março e abril deste ano (221,8 mil veículos contra 178,9 mil) e baixa na comparação a março de 2022 (3,9%). Ocorreu, contudo, um aumento das vendas ao exterior de 4,8% no contraste entre janeiro e abril do ano passado em relação ao mesmo período deste ano. Na prática, todos os resultados foram melhores do que os quatro meses do ano passado. Mas eles perdem na comparação com o mês imediatamente anterior e, no caso da produção, em relação a abril de 2022.