Shein é o “Uber da moda”, diz parceiro da varejista asiática no Brasil
Para Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas, Shein trará um modelo inovador para a cadeia de mais de 2 mil fornecedores brasileiros
atualizado
Compartilhar notícia
O investimento de R$ 750 milhões feito pela Shein no Brasil formará a base de produção da empresa para toda a América Latina. A varejista de moda, cuja sede fica em Singapura, terá 80% das peças “nacionalizadas” em até três anos. Para alcançar a meta, a Shein firmou um acordo com a Springs Global, empresa do grupo têxtil brasileiro Coteminas.
Em entrevista ao Metrópoles, Josué Gomes da Silva, dono do grupo Coteminas, disse que o investimento feito pela varejista estrangeira será dedicado a adaptar a produção local para os moldes da Shein. Para os 2 mil fornecedores ligados à Coteminas que atenderão à Shein, o momento é de aprender com o que o presidente do grupo chamou de “modelo ideal de varejo de moda no mundo”.
“Estamos como um aluno que está chegando na escola e ansioso para obter conhecimento novo”, disse Gomes da Silva.
Veja abaixo a entrevista com o presidente da Coteminas sobre a parceria com a Shein:
Qual o motivo para a Shein decidir estabelecer uma base de produção no Brasil?
Após a pandemia, as cadeias globais de moda começaram a se reposicionar. As empresas estão buscando fornecedores que reduzam a dependência eventual de um único ponto de suprimento. A pandemia mostrou que essa dependência leva a uma série de riscos. O movimento da Shein é mais um exemplo de “near shoring”, ou seja, da identificação de um centro de produção para o mercado doméstico e regional. A empresa tem mais de 600 milhões de consumidores no mundo e obviamente não quer ficar dependente de um único ponto de suprimento.
Por que, na sua visão, a Coteminas foi a escolhida para intermediar a relação com os fornecedores no Brasil?
Por sermos uma indústria têxtil com muita experiência no Brasil, por termos uma rede de fornecedores que vão desde confecções pequenas a fábricas grandes e por termos sido apresentados a eles (da Shein) por um amigo americano em comum. Eles confiaram em nós, dada a nossa história, então seremos o primeiro parceiro para capacitar os fornecedores, através de treinamento e digitalização, para trabalhar para a Shein.
Serão fornecedores exclusivos?
Não serão exclusivos, mas terão a Shein como um cliente importante. O investimento feito permitirá que os fornecedores cresçam, contratem mais pessoas e expandam os negócios. A expansão, possibilitada pelo acordo, estará presente nas diversas regiões do Brasil. Certamente o Nordeste será uma base importante para a produção, mas também haverá fornecedores no Sul e em Minas Gerais.
Como será a capacitação dos fornecedores?
O investimento feito pela Shein será, principalmente, no aspecto de investimento em tecnologia. A empresa tem um software proprietário, que não é licenciado para ninguém, e que faz uma integração da cadeia de suprimentos. Uma das maiores forças que a Shein tem é a capacidade de gerenciar de maneira firme a produção e a distribuição de produtos. Considero que é a empresa que mais se aproxima do modelo ideal de varejo de moda.
O que seria esse modelo ideal?
A Shein produz em lotes pequenos, então atua com um nível baixíssimo de estoque, mas tem um alto nível de compreensão do que o cliente deseja e consegue responder rapidamente a essa demanda. É um modelo que era muito debatido por consultorias e sempre foi um sonho a ser alcançado pelo setor.
Em 10 anos, a Shein se tornou a maior empresa de confecções do mundo. É um feito admirável. A Shein atua como um “Uber da moda”. Ela identifica o que os consumidores querem e liga essa demanda com “motoristas” (fornecedores) que estão melhor habilitados para atender aos pedidos. Isso tudo só é possível graças à tecnologia de gerenciamento de toda a cadeia de produção que a Shein tem. Nós estamos como um aluno que está chegando na escola e ansioso para obter conhecimento novo.
A produção local da Shein será tão competitiva, em termos de preço e variedade, quanto a que vem da China atualmente?
Não acho que o Brasil conseguirá ser competitivo em todas as linhas de produtos, mas em muitas delas, sim. Produtos que têm como matéria prima o algodão, jeans feitos com denim, sarjas coloridas, malhas, por exemplo, sim. Mas não será possível produzir ou ser competitivo em tudo. Parte da mercadoria continuará a ser trazida de fora.