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Sem carro popular: por que SUV é a febre da vez no mercado brasileiro

Carro SUV passou de 10% para mais de 40% do mercado no Brasil em uma década, enquanto os modelos mais “populares” foram na contramão

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Divulgação/Great Wall Motors
O SUV HAVAL H6, da Great Wall Motors
1 de 1 O SUV HAVAL H6, da Great Wall Motors - Foto: Divulgação/Great Wall Motors

Enquanto o governo federal anuncia descontos para tentar viabilizar carros mais baratos, uma opção pouco “popular” para o bolso vem ganhando o gosto dos brasileiros. Os grandalhões SUVs, sigla para utilitários esportivos, tiveram crescimento expressivo de vendas no Brasil na última década; em contrapartida, modelos menores perderam espaço.

No primeiro trimestre de 2023, a categoria respondeu por 46% das vendas, segundo a Fenabrave, federação que reúne as concessionárias. Há uma década, em 2012, os SUVs respondiam por pouco mais de 8% do mercado.

Já os hatchs, carros menores e de entrada, foram na contramão. Saíram de 31% de participação, em 2012, para 9% no início de 2023.

SUVs seguirão em alta

É uma tendência que deve continuar, de acordo com as projeções. Paulo Cardamone, diretor da consultoria Bright, especializada no setor automotivo, estima que os SUVs responderão por 60% do mercado nacional em pouco mais de cinco anos.

No mundo, os SUVs têm hoje metade do mercado. A fatia era de menos de 20% há uma década.

“É uma tendência global. O SUV atende com um design mais atualizado do que um hatch ou um sedan. Por isso, o uso subiu em todo o mundo”, diz Cardamone.

O movimento foi parecido ao do Brasil: de 2012 a 2022, o consumo de SUVs nas economias avançadas subiu mais de 80%, chegando a 13,8 milhões, segundo levantamento da Agência Internacional de Energia (IEA) com base em dados de consultorias especializadas. A fatia dos demais carros caiu 45%, ou seja, de 29,6 milhões de unidades para 16,1 milhões.

Nos mercados emergentes e em desenvolvimento, a alta foi de 98% nos SUVs. Nos carros convencionais, houve queda de 36%.

Público restrito

No Brasil, o avanço da participação dos SUVs tem também relação com o momento do mercado. Especialistas consultados pelo Metrópoles indicam que, além do gosto do consumidor, a queda no poder aquisitivo da população é um fator que impulsionou os SUVs.

“O público do carro SUV acima de R$ 120 mil é um cliente que não sofreu tanto nas crises econômicas recentes”, diz Raphael Galante, sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva.

Para o público de menor poder aquisitivo, os juros altos e a inflação têm tornado mais difíceis os financiamentos, cortando um acesso que antes era possível via crédito. Cerca de 70% dos veículos no Brasil têm sido comprados à vista, segundo números que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio tem usado para embasar os estímulos que o Planalto deseja conceder ao setor.

“O público do hatch, na faixa dos R$ 70 mil, ficou mais suscetível às oscilações econômicas”, diz Galante. “Quem tem dinheiro continuou consumindo, e esse cliente consome carros maiores e melhores. Já o público do hatch pequeno foi o que mais sofreu e adiou seu sonho do carro novo.”

Mais margem

Para as montadoras, vender um carro mais caro permite ainda margens melhores. O setor vive um momento de demanda fraca e choques de oferta vindos da pandemia, que levaram à falta de componentes e insumos mais caros na linha de produção.

Além disso, diante de mudanças estruturais do mercado, itens como airbags (obrigatórios no Brasil), motores com menos emissões e ar-condicionado se tornaram presentes em quase todos os novos modelos.

Todos os carros terão de contar com tecnologias mais caras; logo, não faz sentido que as fabricantes investam nos modelos mais baratos.

“São vendidos 2 milhões de carros no Brasil, que, hoje, praticamente só podem ser comprados por quem tem dinheiro. E, se o consumidor já tem o dinheiro, ele prefere mais design, mais conforto, mais conectividade, o que o SUV oferece”, diz Cardamone, da Bright.

SUVs mais baratos?

No plano do governo para baratear veículos, alguns SUVs podem ser contemplados. O percentual de desconto vai de 1,5% a 10,96% em tributos federais como IPI e PIS/Cofins. O teto do desconto será para os hatchs menores, os chamados “carros de entrada”.

Ainda assim, como o programa atingirá veículos de até R$ 120 mil, sete SUVs devem ser beneficiados, de acordo com os preços de tabela e nas versões sem adicionais. O SUV mais barato é hoje o Fiat Pulse, com preço mínimo de pouco mais de R$ 100 mil (veja a lista de veículos que podem ter redução de preço).

Nos modelos mais baratos entre os veículos de entrada, o governo mira reduzir o preço para aproximadamente R$ 60 mil, com o desconto máximo de 10,96%.

No caso dos SUVs, o desconto deve ser menor e, portanto, contemplar somente quem já pensava em comprar um carro do tipo, dizem especialistas.

Para Galante, da Oikonomia, medidas na via dos impostos são ainda insuficientes. “Não vai dar alento para ninguém se não tiver crédito. Se o consumidor não tem os R$ 70 mil para comprar o carro, vai ter R$ 65 mil?”, questiona.

O especialista avalia que, enquanto frentes de acesso ao crédito não forem solucionadas e a economia se mantiver com baixo crescimento, o mercado continuará enfrentando desafios.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta semana que o programa de benefícios deve ser “temporário”, durante alguns meses neste ano, e visa suprir o “hiato” do mercado enquanto os juros não caem. Haddad afirmou que os detalhes finais e o impacto fiscal das medidas devem ser divulgados na próxima semana.

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