Selic menor à vista? Com IPCA mais baixo, mercado vê corte em agosto
Selic pode começar a ter cortes antes do esperado, após inflação vir abaixo das expectativas. Taxa de juros não é reduzida desde 2020
atualizado
Compartilhar notícia
Com o resultado da inflação em maio melhor que o esperado, cresceu entre economistas a expectativa de que o Banco Central inicie em breve sua trajetória de corte na taxa básica de juros, a Selic.
O consenso é que o Comitê de Política Monetária (Copom) fará cortes de mais de 1 ponto percentual (p.p.) até o fim do ano, mas os números recentes da inflação podem antecipar a decisão sobre quando começar esse ciclo.
Após o resultado do IPCA, analistas no mercado financeiro sinalizam que um primeiro corte pode ocorrer já na reunião de agosto do Copom.
“As medidas subjacentes da inflação também melhoraram, reforçando a expectativa de corte de juros em agosto”, escreveu o Bank of America em relatório a clientes.
A taxa Selic está hoje em 13,75%, o maior patamar desde 2016. O Copom optou por não alterar a taxa de juros nas últimas seis reuniões.
Corte em junho é improvável
O Brasil usa o chamado “regime de metas” e a taxa de juros é um instrumento de política monetária adotado pelo BC para manter a inflação dentro da meta. Uma inflação menor cria mais bases para que a autoridade monetária possa reduzir os juros.
Divulgado na quarta-feira (7/6), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,23% em maio. O resultado veio abaixo do consenso do mercado, que era de 0,33%. No acumulado em 12 meses, o IPCA ficou em 3,94%, a menor inflação desde outubro de 2020.
“Em nossa avaliação, a melhoria das perspectivas de inflação, o fortalecimento do real e a estabilização das expectativas de inflação devem sustentar um giro da política monetária em dois ou três meses”, afirmou o Goldman Sachs.
A próxima reunião do Copom ocorre no fim deste mês; um corte já em junho, porém, seria uma surpresa. A expectativa é, por enquanto, que os próximos comunicados do comitê sinalizem uma transição.
“O Copom poderia cortar a Selic na reunião de junho? Poderia. O colegiado vai cortar? Não, não vai. A questão na mesa é que não se pode dar um ‘cavalo de pau’ na comunicação”, disse em nota o economista André Perfeito.
“O que espero é ver sinalizações claras, na próxima ata, de que há espaço para algum afrouxamento monetário no segundo semestre”, disse o especialista.
Se as projeções de inflação seguirem caindo, o movimento também pode afetar o tamanho dos cortes do Copom.
“Hoje, a curva precifica que esse corte comece na ordem de 25 pontos, mas o número de hoje [do IPCA] até aumenta a probabilidade de que o início do ciclo venha com um corte maior”, diz Marianna Costa, economista-chefe do TC.
Projeções de 2024 ainda preocupam
O último Boletim Focus, divulgado antes do resultado do IPCA, aponta para Selic chegando a 12,50% até o fim do ano e em 10% em 2024.
A MB Associados avalia que os cortes do Copom, quando se iniciarem, serão maiores do que o consenso do mercado. A casa projeta a Selic chegando a 12,25% no fim do ano. Com o resultado do IPCA, a MB também revisou a projeção de inflação para 2023, de 5,5% para 5,3%. “Os números de fechamento de 2023 se tornam muito mais favoráveis”, escreveu o economista-chefe Sergio Vale.
Apesar da desaceleração no IPCA de 2023, um dos impeditivos para um corte na taxa de juros até o momento, segundo os comunicados do Copom, são as expectativas desancoradas no médio prazo. A meta de inflação para 2024 é de 3%, mas as projeções estão hoje em 4%.
Com esse cenário, UBS BB também aposta em Selic em 12,25% até o fim do ano, abaixo do consenso, embora acredite em início do ciclo de baixa somente em setembro.
“Apesar da recente redução de 30 pontos na expectativa de inflação para 2023, o horizonte relevante para a política monetária é 2024, o que ainda não mudou”, afirmou o UBS BB em relatório a clientes.
Para os analistas do banco, a previsão será antecipada apenas se a meta de inflação for confirmada em 3%, se o marco fiscal for aprovado no Senado e se a inflação no curto prazo continuar surpreendendo para baixo.
“O BC pode preferir segurar mais uma reunião e esperar este cenário de estabilidade para a inflação se consolidar, deixando o movimento para setembro ou novembro”, afirmou Bruno Monsanto, sócio da RJ+ Investimentos.
Em meio à guerra retórica entre Banco Central e Planalto, em confronto que tem marcado o ano de 2023, o economista André Perfeito avaliou ainda que sinalizações de pacificação entre as partes também poderiam ajudar na consolidação do cenário.
“O governo tem de ter a sabedoria de ‘dar os parabéns’ ao Banco Central por essa queda da inflação, mesmo que saibamos que não é só a política monetária que está jogando os preços para patamares mais civilizados”, afirma.
Enquanto isso, economistas estarão atentos às mensagens do BC sobre o resultado da inflação. Os últimos comunicados do Copom foram duros e chegaram a ser criticados por membros do governo.
Após o segundo dia da próxima reunião do comitê, em 21 de junho, um novo comunicado será divulgado. Ainda que um corte na Selic não venha nessa reunião (o cenário mais provável), parte das questões devem ficar mais claras a partir de então.