Sam Bankman-Fried, fundador da FTX, é preso nas Bahamas
Pedido de prisão foi feito após autoridades dos EUA apresentarem acusações criminais contra fundador da FTX, empresa que foi à falência
atualizado
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A polícia das Bahamas prendeu o empresário e investidor Samuel Bankman-Fried, fundador da corretora de criptomoedas FTX, empresa que foi à falência. A informação foi divulgada na segunda-feira (12/12) pela procuradoria-geral do país.
O pedido de prisão foi feito após autoridades dos Estados Unidos apresentarem acusações criminais contra Bankman-Fried. A expectativa é a de que os EUA solicitem a extradição do empresário em breve.
“Como resultado da notificação recebida e do material fornecido com ela, foi considerado apropriado que o procurador-geral solicitasse a prisão de Samuel Bankman-Fried e o mantivesse sob custódia, de acordo com a Lei de Extradição de nosso país”, afirmou o procurador-geral das Bahamas, Ryan Pinder, em comunicado oficial.
“No momento em que um pedido formal de extradição for feito, as Bahamas pretendem executá-lo prontamente, de acordo com a lei das Bahamas e suas obrigações de tratado com os Estados Unidos”, prossegue a nota.
Segundo os policiais, a prisão do dono da FTX ocorreu “sem incidentes” e não houve resistência por parte do empresário. Ele estava em seu apartamento em Nassau, de acordo com a Força Policial Real das Bahamas. Bankman-Fried deve comparecer a um tribunal nesta terça-feira (13/12).
O colapso da FTX
A empresa deve a seus credores pelo menos US$ 3 bilhões (R$ 15,9 bilhões), de acordo com os pedidos de falência. Os investigadores apuram se a FTX usou fundos de clientes para emprestar dinheiro ao braço de investimentos da companhia, Alameda Research.
O fundador da FTX vem sendo investigado pelo menos desde o início de novembro. Há menos de um mês, a FTX estava avaliada em US$ 32 bilhões (R$ 166,2 bilhões). O patrimônio de Bankman-Fried era estimado em US$ 16 bilhões (R$ 83 bilhões). Em poucos dias, a empresa mergulhou em uma crise sem precedentes que a levou à falência com uma velocidade espantosa, o que contaminou grande parte do mercado global de criptomoedas.
No mês passado, uma reportagem publicada pelo site CoinDesk revelou que a FTX passava por uma delicada situação financeira. O balanço patrimonial da Alameda Research (empresa-irmã da FTX) tinha 75% de ativos não líquidos – que não podem ser negociados rapidamente.
Os outros 25% desses ativos eram compostos pelo token FTT, um tipo de criptoativo emitido pela própria FTX. Ficou claro que a companhia teria de vender muitos desses tokens no mercado, o que derrubaria a cotação do ativo.
Quando a reportagem foi publicada, a corretora sofreu uma corrida de saques. A situação piorou depois que o CEO da Binance, Changpeng Zhao, afirmou que também venderia todos os tokens emitidos pela concorrente que estavam em sua carteira, o que correspondia a mais de US$ 2 bilhões (R$ 10,3 bilhões).
Na prática, a FTX quebrou após utilizar dinheiro dos clientes em operações de crédito e acumular um passivo estimado em US$ 10 bilhões (R$ 51,9 bilhões) com cerca de 1 milhão de credores, inclusive brasileiros. Com a corrida por saques, as cotações desabaram e o ativo derreteu.
O episódio causou uma crise de confiança generalizada no mercado cripto, o que vem afetando também cotações de ativos que não estão relacionados ao caso FTX.
“No caso da FTX, houve uma das maiores destruições de valor da história em termos de escala. Esse valor era exagerado. Está claro que a empresa não tinha condições de valer US$ 32 bilhões”, afirmou Isac Costa, professor do Ibmec e sócio do Warde Advogados, em entrevista ao Metrópoles.
“O problema da FTX foi que os recursos depositados pelos clientes eram emprestados pela empresa e investidos ao seu bel-prazer. Eles dispunham livremente desses recursos”, explica o professor do Ibmec. “O modelo de negócio consistia em alocar os recursos dos próprios clientes em alguns projetos cripto e fazer com que esses recursos voltassem para a FTX para que, a partir daí, eles saíssem de novo e fossem emprestados novamente, criando uma espiral positiva, uma máquina de imprimir dinheiro. Isso funcionaria perfeitamente desde que as pessoas continuassem confiando na FTX e você não tivesse uma corrida de saques.”
Efeito dominó
Segundo Isac, o mercado de criptomoedas se contagiou pela derrocada da FTX por causa do “elevado grau de dependência” de alguns projetos cripto dos recursos que estavam depositados na corretora.
“Esses recursos passaram a estar indisponíveis em razão da insolvência da companhia deflagrada por uma corrida de saques”, afirma. “O peteleco inicial foi a reportagem do CoinDesk, que tirou o véu e mostrou a farsa. As pessoas entraram em pânico, começaram a tentar tirar o dinheiro e descobriram que não havia dinheiro. Numa situação como essa, a única coisa que se pode fazer é fechar a porta da loja.”
Sam Bankman-Fried renunciou ao cargo de diretor-executivo da FTX no mesmo dia em que houve o pedido de falência da empresa.