Rombo na Americanas afeta fortuna de homem mais rico do Brasil
Sócio majoritário da Americanas, Jorge Paulo Lemann, dono de um patrimônio de R$ 72 bi, deverá usar recursos próprios para salvar a empresa
atualizado
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Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil, poderá ver sua fortuna de R$ 72 bilhões encolher, em razão da crise na Americanas. A varejista informou, na última quarta-feira (10/1), ter identificado uma diferença contábil de R$ 20 bilhões em seu balanço.
Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles são donos da gestora 3G, que detém cerca de 30% das ações da Americanas. O trio tem participação na varejista desde a década de 1980 e é sócio de outros negócios, como a fabricante de bebidas Ambev e a gigante de alimentos Kraft Heinz.
Ontem (11/1), as ações da Americanas caíram 77%. Em valor de mercado, isso representa uma perda de R$ 8 bilhões. Em uma conta simples, o trio do 3G viu seu patrimônio encolher R$ 2,6 bilhões em apenas um dia.
Mas a sangria da varejista não estará limitada à desvalorização das ações. Há uma questão numérica a resolver. Qualquer irregularidade contábil deverá ser lançada pela empresa em seus futuros balanços.
Se tiver que reconhecer uma baixa de R$ 20 bilhões, a Americanas ficará com um valor patrimonial negativo. Até ontem, a varejista era dona de ativos avaliados em R$ 14 bilhões.
Quando isso acontece, a empresa é obrigada, por regra contábil, a cobrir o buraco no valor patrimonial por meio de uma captação de dinheiro no mercado. Para isso, ela deve fazer uma nova oferta de ações, processo chamado de follow-on.
O follow-on poderia alcançar o volume de R$ 6 bilhões, segundo fontes do mercado. Se confirmada, será a maior arrecadação de recursos em uma oferta subsequente por uma companhia privada desde 2020.
“É bom lembrar que a empresa tem R$ 8,5 bilhões em caixa, então ela poderia sobreviver por mais alguns meses sem precisar buscar dinheiro no mercado. A Americanas não está insolvente. Mas a capitalização deve acontecer e os sócios atuais, principalmente o 3G, aumentarão a fatia na empresa”, explica uma experiente fonte do mundo financeiro.
A debandada nas ações da empresa mostra que o investidor pessoa física quer fugir dessa situação o mais rápido possível. Tudo indica, então, que o trio de brasileiros será a âncora da captação de recursos.
Padrinhos ricos
Outro risco para a empresa seria a eventual antecipação de dívidas contratadas com os bancos. Quando a notícia do rombo foi divulgada, cresceu a preocupação de que as instituições financeiras poderiam tentar executar os débitos antes do vencimento, uma vez que não seria possível saber ainda o tamanho do estrago no balanço da Americanas.
Esse temor se dissipou ao longo do dia, conforme foram surgindo notícias de que os grandes bancos teriam concordado em renegociar as dívidas da empresa e prolongar os pagamentos.
Em troca, os acionistas majoritários da Americanas garantiriam o pagamento das dívidas. Segundo informou o jornal Valor Econômico, Lemann e os seus sócios teriam participado na negociação com os bancos e garantido que estão dispostos a colocar a mão no bolso para salvar a Americanas.
A questão, diz um analista de ações de uma corretora, é que embora estejam no rol de homens mais ricos do Brasil, Lemann, Sicupira e Telles têm a maior parte de seu patrimônio em ações das empresas em que são sócios. Isso significa que caso o dinheiro exigido seja muito alto, é possível que eles tenham que se desfazer de parte dos ativos ou tentar antecipar os lucros desses negócios rapidamente.
“Não é difícil que essa crise respingue na Ambev, por exemplo”, diz o analista, na condição de anonimato.
Ele diz que a sorte da Americanas é justamente contar com o respaldo da 3G, gestora bilionária com ativos globais. No final das contas, os “padrinhos ricos”, como nomeia esse analista, serão a tábua de salvação da varejista. “Seria pior se fosse com a Via ou com o Magazine Luiza”, lembra.
Isso não diminui, no entanto, a crise de imagem que assolou os bilionários, que preservavam, até ontem, uma boa reputação junto ao mercado. A queda nas ações da Kraft Heinz nos Estados Unidos ontem, em um dia de alta nos mercados americanos, é um sinal disso.
Caso fique comprovado que houve fraude e que os donos da empresa foram negligentes de alguma forma, será uma grande mancha na biografia dos mais respeitados investidores brasileiros.