Quem é Geraldo Rufino, o “catador de sonhos” suspeito de fraude
Geraldo Rufino foi afastado pela Justiça do comando de sua empresa de desmanche legal por suspeita de fraude para fugir de credores
atualizado
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Afastado do comando de sua empresa por decisão da Justiça de São Paulo, sob suspeita de cometer fraude para fugir de credores, o empresário Geraldo Rufino, de 64 anos, ficou famoso no Brasil por expor nas redes e em programas de TV sua história de vida vencedora: um catador de latas na rua que se tornou dono da maior rede de desmanche legal da América Latina, a JR Diesel.
Nascido em Campos Altos, em Minas Gerais, e criado na favela do Sapé, na zona oeste de São Paulo, Geraldo Rufino ganhou o apelido de “catador de sonhos”, título da sua autobiografia, na qual faz a apologia da determinação, do otimismo e da superação. O case de sucesso rendeu a ele mais de dois milhões de seguidores nas redes sociais, entrevistas em talk shows de grande audiência e contratos para dar palestras por todo o país.
Parte da história inspiradora de Geraldo Rufino passa pela “superação” de cinco falências, que são temas de videoaulas na internet, onde ele dá dicas de como lidar com as dívidas: “Guarda (o dinheiro) onde der para guardar. Pai, mãe, sobrinho, guardem no colchão e não tem problema”, diz Rufino. “O credor vai te pressionar o tempo todo. Não espere diferente”.
E foi justamente a relação com credores que fez Geraldo Rufino iniciar um processo de recuperação judicial que entrou na mira da polícia por suspeita de desvio de dinheiro para empresas que estariam em nome de laranjas fugir de dívidas. Nesta sexta-feira (12/1), o Metrópoles mostrou que a Justiça paulista afastou Geraldo Rufino da JR Diesel, nomeou um interventor para a empresa e determinou que sejam apurados indícios de fraudes nas contas.
O interventor entregou um relatório preliminar no qual aponta suspeitas de crimes falimentares. No documento, obtido pelo Metrópoles, ele afirma ter encontrado pagamentos da empresa a parentes e a empresas ligadas à família de Geraldo Rufino, aparentemente sem vínculo com a JR Diesel.
Entre as saídas de dinheiro da empresa para pessoas ligadas a Rufino, estão R$ 1,8 milhão, somente no ano de 2023, para o empresário, sua esposa, seus sobrinhos, empresas de familiares e pessoas de confiança. O interventor ressalta que nem todas essas pessoas têm relação societária, contratual ou empregatícia com a JR Diesel e que faltam justificativas para esses gastos.
A recuperação judicial da JR Diesel se arrasta no Judiciário desde 2016. À época, a empresa devia R$ 40 milhões a fornecedores e bancos. No ano passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) chegou a determinar a falência da empresa. A decisão, porém, foi cassada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
No último ano, empresas como a gigante de logística JSL e a Movidas, do ramo de locação de veículos, reivindicaram dívidas milionárias e acusaram Geraldo Rufino de se esquivar de decisões que determinam seu pagamento. Essas empresas não haviam sido incluídas como credoras da recuperação da JR Diesel e acionaram a Justiça.
Geraldo Rufino diz ser perseguido pelo dono da JSL, de quem era amigo, após ser garantidor de uma dívida de seu filho que não foi paga. Segundo ele, após a desavença, a empresa passou a usar a Justiça para atingi-lo.
O que diz Geraldo Rufino
Os advogados Guilherme Veiga Chaves e Rodrigo Dantas afirmam ao Metrópoles que as decisões da juíza da recuperação judicial estão sendo questionadas “pelas vias processuais adequadas”. Eles ressaltam que o STJ cassou os efeitos da decisão que decretou a falência da JR Diesel e, “por conseguinte, as medidas a ela reflexas”. A defesa afirma aguardar que a decisão da Corte Superior seja “devidamente implementada” pela juíza da RJ.
A defesa afirma ainda que a empresa é “pessoa jurídica ativa, cujo plano de recuperação judicial já foi homologado, a qual possui gestão eficiente e transparente, assegurando centenas de empregos diretos e indiretos com a regular exploração de sua atividade empresarial”. “O seu plano vem sendo cumprido, com o devido adimplemento dos credores.”
Por fim, os advogados dizem que “a falência da companhia é medida extrema, a qual nunca foi pleiteada por qualquer credor habilitado no citado plano de recuperação judicial, como bem foi reconhecido, recentemente, pelo Poder Judiciário”.