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Quedas da Bolsa: falta “apetite de risco” aos investidores

Sucessão de problemas nas duas principais economias do mundo, Estados Unidos e China, está difundindo incertezas pelo mundo

atualizado

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1 de 1 imagem colorida pregao bolsa de valores - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

O mercado de capitais é um terreno fértil para a proliferação de jargões. “Apetite por risco”, por exemplo, é uma expressão bastante em voga. Ele ocorre (ou se abre) quando o cenário econômico apresenta algum nível de estabilidade, a ponto de animar os investidores a colocar dinheiro em produtos menos seguros, como é o caso das ações, que oferecem uma renda variável. Na avaliação dos analistas, é justamente isso o que falta aos investidores da Bolsa brasileira (B3) no momento – disposição para arriscar.

Tanto é assim que, movido por incertezas, o Ibovespa, o principal índice da B3, acumulou no pregão desta segunda-feira (14/8) a décima queda consecutiva. De acordo com a plataforma de investimentos TradeMap, não se via na Bolsa uma série de resultados negativos dessa envergadura desde 1984. Ou seja, há 39 anos.

Para Gabriela Sporch, da Toro investimentos, são dois os principais fatores que têm puxado o indicador para baixo. O primeiro deles é a economia americana. A inflação anual nos Estados Unidos voltou a subir para 3,2% em julho, depois de ter caído de 4% para 3% em junho.

Tal soluço foi suficiente para sacudir o mercado global. Isso porque ele revigorou a perspectiva de que, para conter o aumento dos preços, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) manterá ou aumentará os juros no país, hoje fixados no intervalo entre 5,25% e 5,50%. Novos puxões da taxa para cima tornariam os títulos americanos mais vistosos, ruindo a atratividade de outros investimentos mundo afora, principalmente, em mercados emergentes.

Pouso suave?

Mas não é só. Além da luta do Fed para manter a inflação dentro da meta anual de 2%, a maior economia do planeta tem dado os seus tropeços, reverberando, assim, mais incertezas. Em 1º de agosto, a agência de classificação de risco Fitch rebaixou a nota de crédito de longo prazo em moeda estrangeira dos EUA. E isso por um motivo bastante grave. A agência espera uma deterioração fiscal (a relação entre receitas e gastos) nos próximos três anos no país.

Com isso, nota Gabriela, a tese de um pouso suave da economia americana, em que haveria uma desaceleração gradual, cujo resultado seria uma inflação mais amena, está voltando para a gaveta. E a analista acrescenta: “Enquanto isso, retoma com alguma força a possibilidade de que os Estados Unidos entrem em recessão”.

Mau tempo chinês

A segunda fonte de fatores que corta o apetite por risco dos investidores vem do outro lado do mundo. A economia da China tem dado seguidas – na prática, quase diárias – demostrações de que não será fácil retomar uma trajetória de crescimento polpudo em 2023.

Na noite de quinta-feira (10/8), a Country Garden, uma gigante do combalido setor imobiliário chinês, disse esperar um prejuízo de até US$ 7,6 bilhões (cerca de R$ 38 bilhões) nos primeiros seis meses deste ano. No dia seguinte, as ações da empresa despencaram e, no início desta semana, a incorporadora suspendeu a negociação de 11 títulos em yuans na Bolsa de Xangai.

Ações brasileiras

A notícia é mais um sinal da dificuldade pela qual passa o segmento de imóveis, importante consumidor de aço, e da fraca recuperação econômica do país. “Como o Brasil vive da exportação de commodities e a China é a principal compradora desses produtos, temos aí mais um motivo de incertezas e queda de ações de empresas brasileiras”, diz Gabriela Sporch.

Isso acontece, destaca a analista, especialmente com as ações da Vale, que têm forte peso na Bolsa e, quando caem, chacoalham o pregão. Elas representam 13,12% da carteira do Ibovespa. Além disso, os problemas nas duas grandes potências globais, China e Estados Unidos, fazem oscilar os preços de outras commodities. Esse é o caso do petróleo, que afeta os papéis da Petrobras. E eles respondem por 6,65% (PETR4) e 4,77% (PETR3) do principal índice da B3.

Tombo pequeno

Leonardo Santana, da plataforma de análise e educação financeira Top Gain, observa que, embora a sequência de quedas da Bolsa seja longa, ela não acumula um valor especialmente elevado. Nas dez baixas registradas em agosto, o Ibovespa teve uma redução de 4,2%. Em fevereiro de 1984, o tombo foi bem maior. Aliás, foi seis vezes maior. Alcançou 27,8%, segundo levantamento da TradeMap.

Santana destaca ainda que a Bolsa passou nas últimas semanas por um movimento de realização de lucros. Isso aconteceu desde a primeira queda da taxa básica de juros, a Selic, no início do mês, quando ela passou de 13,75% para 13,25% ao ano. “Muita gente comprou ações quando o Ibovespa estava a 105 mil pontos e, depois, chegou a 120 mil, quando houve o primeiro corte da Selic”, diz. Nesse momento, esse pessoal resolveu vender os papéis adquiridos.

Por fim, nota Eduardo Rahal, analista-chefe da Levante Corp, há elementos internos que contribuem para a cautela, ou ainda, para o pequeno apetite por risco dos investidores. “Persiste no país uma incerteza fiscal, mesmo com a confiança dos investidores nas novas medidas, o no novo marco, em análise no Congresso”, diz. “Nesse campo, ainda enfrentamos desafios a serem concretizados, aguardando ajustes ousados na receita.”

 

 

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