Preço da carne ao consumidor deve cair mais de 10%
Redução no custo dos produtores deve ser parcialmente repassada ao consumidor na carne. Cenário puxa para baixo projeções de inflação
atualizado
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Os alimentos têm ficado mais baratos na prateleira dos brasileiros, mas poucos itens verão esse efeito de preço tão fortemente neste ano quanto a carne.
Até o fim de 2023, o preço da carne vendida ao consumidor na ponta deve despencar, segundo as projeções. O movimento é um efeito direto da queda no preço do boi gordo no exterior, que deve ser parcialmente repassado ao mercado interno.
Nova projeção da equipe da corretora Ativa Investimentos estima que as carnes devem chegar a dezembro de 2023 com queda de 11,4% no preço medido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal índice inflacionário.
No relatório anterior, a estimativa era de queda muito menor, de 4,4%.
“A demanda está um pouco mais fraca por conta do crescimento global e, além disso, alguns grãos recuaram fortemente. Isso vem encomendando uma trajetória de queda para o boi gordo”, explica Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa, que afirma que o movimento de queda no preço do produtor tem se tornado “mais perene”, e não apenas um cenário esporádico.
“Esse cenário aumenta o potencial repasse para o consumidor final”, explica.
Para os produtores, o preço do boi gordo acumula queda de quase 25% desde maio do ano passado, segundo índice do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP).
O preço da saca de milho também caiu quase 38%, e da soja, em torno de 30% no mesmo período, como o Metrópoles mostrou. O preço dos grãos, usados para alimentar os animais, está diretamente relacionado aos custos das proteínas.
Para o consumidor na ponta, outras proteínas também devem acompanhar a queda da carne bovina, mas em menor grau, como o frango inteiro (projeção de queda de 0,6% no IPCA em 2023) e o frango em pedaços (-5%).
Inflação menor
Se confirmada, a projeção para a carne deve gerar um ajuste após anos de altas. As carnes haviam subido quase 8,5% em 2021 e 1,8% em 2022 no IPCA, diante da cotação elevada do boi e dos grãos.
Agora, até o fim deste ano, as carnes devem registrar queda de preço em todos os meses.
A Ativa projeta queda de 1% nas carnes no IPCA de maio, 2,19% em junho, 1,21% em julho, 1,08% em agosto, 0,78% em setembro, 0,83% em outubro, 0,87% em novembro e 0,92% em dezembro.
Além das carnes, o efeito da queda nos grãos também deve fazer despencar o preço de óleos e gorduras (-14,7% até o fim do ano).
No ano, as carnes já acumulam queda de mais de 3%, segundo os dados do IPCA entre janeiro e abril, e óleos e gorduras caíram quase 7%.
Ao todo, o grupo “Alimentação e bebidas” subiu 1,53% no IPCA acumulado até abril, uma desaceleração em relação ao ano passado, quando havia subido mais de 7% no mesmo período.
Com as movimentações negativas puxadas pela carne, a Ativa revisou sua projeção de IPCA para o ano, de 5,5% para 5,3%. A mediana das projeções do mercado financeiro é de inflação em 5,69% em 2023, segundo o último boletim Focus.