metropoles.com

Precarização: renda cai e jornada aumenta no trabalho por aplicativo

É o que mostra um estudo feito pelo Ipea, que também aponta queda na contribuição previdenciária de motoristas de passageiros e entregadores

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Vinícius Schmidt/Metrópoles
manifestação dos entregadores de aplicativo em goiânia por melhores condições e taxas de pagamento
1 de 1 manifestação dos entregadores de aplicativo em goiânia por melhores condições e taxas de pagamento - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

A adesão de motoristas de automóveis e entregadores ao trabalho mediado por aplicativos resultou em jornadas de trabalho mais longas, menor contribuição previdenciária e forte queda da renda média dos trabalhadores. Essa é a conclusão de um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), divulgado na terça-feira, em Brasília. 

Entre 2012 e 2015, mostra a análise, enquanto o total de motoristas autônomos no setor de transporte de passageiros (não incluídos os mototaxistas) era cerca de 400 mil, o rendimento médio flutuava em torno de R$ 3,1 mil. Em 2022, quando o número de pessoas ocupadas nessa atividade saltou para 1 milhão, os ganhos médios eram inferiores a R$ 2,4 mil. 

Nessa mesma categoria, segue o estudo, a proporção de trabalhadores com jornadas entre 49 e 60 horas semanais passou de 21,8%, em 2012, para 27,3%, em 2022. Esse aumento não se repetiu entre os trabalhadores autônomos de modo geral, no mesmo período.

Outro aspecto que “revela a precarização desse tipo de ocupação”, aponta o texto do documento, é a cobertura previdenciária. Em 2015, pouco menos da metade dos motoristas de passageiros (47,8%) contribuía com o INSS. Esse número despencou para 24,8% em 2022.

Entregadores idem  

O Ipea também analisou a situação dos entregadores de plataformas (motociclistas e condutores de bicicletas). Em 2015, quando havia 56 mil trabalhadores desse tipo no país, a renda média era de R$ 2,250 mil. Em 2021, eram 366 mil pessoas ocupadas na atividade, mas com renda média de R$ 1,650 mil.

Principalmente após 2018 – quando o crescimento desses entregadores se intensificou de maneira mais expressiva –, houve retração da proporção de trabalhadores com jornadas entre 40 e 44 horas e aumento da quantidade dos que atuavam por mais de 49 horas semanais. A contribuição previdenciária dos entregadores não formais também caiu. Entre 2012 e 2018, 31,1% deles contribuíam. De 2019 a 2022, essa média baixou para 23,1%.

Precarização

O trabalho conclui que “o modelo de trabalho ‘plataformizado’ se baseia em um vetor de precarização, representando, por um lado, menores patamares de renda, formalização e contribuição previdenciária, e, por outro, maiores jornadas semanais de trabalho”. Segundo os autores do trabalho, os técnicos de planejamento e pesquisa do Ipea Sandro Sacchet e Mauro Oddo, apesar de os dados demonstrarem tal precarização, muitos trabalhadores “reproduzem a narrativa (ou ideologia)” de que são “empreendedores de si mesmos”.

O estudo, chamado de “Plataformização e Precarização do Trabalho de Motoristas e Entregadores no Brasil”, compõe a 77ª edição do Boletim Mercado de Trabalho, do Ipea.

Contestação do setor

Por meio de nota, a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), que reúne empresas como Uber, 99, iFood, Amazon e Zé Delivery (da Ambev), posicionou-se sobre a pesquisa do Ipea. No texto, a entidade aponta que é “importante ponderar que há questões de metodologia neste estudo que impactam os resultados”.

Nesse caso, são citados o “survey [a enquente] direcionado apenas para o Distrito Federal e a amostra do módulo de teletrabalho da PNAD, que não contemplou os trabalhadores que usam os apps para complemento de renda (48% dos entregadores e 37% dos motoristas, segundo pesquisa do Cebrap)”. “Trata-se de uma discussão mais ampla do mercado de trabalho brasileiro, uma vez que os estudos não comprovam que o aumento da informalidade seja consequência do crescimento do trabalho por aplicativos”, diz o comunicado.

Para a Amobitec, o “trabalho intermediado por plataformas de mobilidade e entregas é uma realidade nova proporcionada pela tecnologia e, embora tenha características diferentes das relações trabalhistas tradicionais, de maneira alguma configura uma atividade profissional menos decente do que qualquer outra”. 

A associação cita ainda que pesquisa realizada pelo Datafolha em 2021 identificou que 82% dos brasileiros consideram que “dirigir ou entregar usando aplicativos é um trabalho digno”. “Além disso”, diz o texto, “mais de 80% dos entregadores e 60% dos motoristas de aplicativo pretendem continuar trabalhando com as plataformas, segundo pesquisa do Cebrap”.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNegócios

Você quer ficar por dentro das notícias de negócios e receber notificações em tempo real?