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Por que os juros de longo prazo subiram no Brasil no pós-Copom

Para economistas, pesaram fatores internos e externos. Professor da FGV critica teor do comunicado do BC sobre redução da Selic

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1 de 1 imagem colorida integrantes do Copom reunidos para decidir corte da Selic com presença de Galípolo e Aquino - Metrópoles - Foto: Raphael Ribeiro/BCB

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), cortou os juros básicos do país, a Selic, na quarta-feira (2/8) pela primeira vez em três anos. A previsão era que a medida causaria certo alívio ao cenário das finanças nacionais. Não foi bem assim, porém. No pós-Copom, os juros de longo prazo subiram no país.

Na avaliação do economista Márcio Holland, professor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas, em São Paulo (FGV EESP), problemas internos e externos à economia nacional pesaram nessa mudança dos juros de longo prazo. No grupo dos internos, ele inclui o próprio comunicado emitido pelo Copom, anunciando a redução de 0,5 ponto percentual da taxa, agora fixada em 13,25% ao ano.

Esse tipo de texto, nota Holland, tem grande repercussão entre os investidores. Diz ele: “Já escrevi um artigo acadêmico, mostrando o impacto da comunicação do Copom na estrutura a termo de juros no Brasil. Esse efeito está bem documentado na literatura internacional. Não é fantasia de mercado. Não é invenção da Faria Lima. Comunicação e sinalização de politica monetária importam muito”.

Para o professor da FGV, um dos principais problemas do texto em questão foi o tom ameno que ele assumiu, com, por exemplo, o “sumiço” de qualquer menção à questão fiscal, que ainda pesa sobre a economia do país. “No comunicado anterior, o assunto havia sido identificado como um fator de risco”, diz. “E por que, de repente, o Copom sumiu com o fiscal, se não houve nenhuma alteração nesse cenário da última reunião para cá?”

“Cavalo de pau”

Ele acrescenta que o comunicado mostrou que o órgão do BC mudou muito – e fez isso de forma rápida demais. O Copom optou por um corte de 0,50 ponto percentual da Selic, que deve ser aplicado também nas próximas três reuniões do Copom. A maioria dos agentes econômicos, no entanto, esperara uma redução de 0,25 ponto percentual. “Foi quase como o ‘cavalo de pau’ que o BC deu em 2011”, diz, em referência a um corte surpreendente dos juros durante o governo de Dilma Rousseff.

Reação normal

Para o economista André Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), o aumento da curva de juros de longo prazo não é tão surpreendente. Ao contrário. É normal. “Se no curto prazo os juros caem, isso quer dizer que, no longo, a inflação vai subir”, diz. “Por isso, há uma elevação da curva de juros mais adiante.”

Braz afirma, no entanto, que a magnitude do corte realmente surpreendeu. Além do 0,50 ponto percentual de imediato, existe a perspectiva de mais três reduções do mesmo tamanho nas próximas reuniões do órgão do BC até o fim do ano. “Isso quer dizer que teremos uma Selic 2 pontos percentuais abaixo do patamar que estava no início desta semana”, afirma. “Ou seja, ela pode chegar a 11,75% no fim do ano.”

Componente externo

Na análise de Gabriel Leal de Barros, sócio e economista-chefe da Ryo Asset, a oscilação das taxas de longo prazo está muito mais relacionada a pressões do cenário externo. “Parece um certo exagero acreditar que a mudança dos juros tenha sido, majoritariamente, provocada pela decisão de corte de 0,50 ponto percentual da Selic, promovida pelo BC, que apontou por unanimidade para cortes de mesma magnitude nas reuniões seguintes.”

A fonte desse efeito externo, no caso, foram incertezas relacionadas à economia americana, provocadas por informações divulgadas nas últimas semanas. Em geral, elas indicavam um aquecimento – ou a manutenção dele – da atividade econômica. Isso poderia fazer com que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) estendesse o aperto da política monetária. Também pesou na conta dos problemas externos, acentuando riscos, o rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos, promovido pela agência Fitch.

Nesta sexta-feira, novas informações mostraram que o nível de emprego havia subido menos do que o esperado entre os americanos. Esse tipo de dado sugeriu ao mercado que os juros altos estão surtindo efeito na economia local. Ou seja, ela está diminuindo o ritmo de avanço e, com isso, a inflação tende a cair. Diante dessa perspectiva, os juros de longo prazo voltaram a cair no Brasil. “No mercado, os vaivéns são comuns”, diz Holland, da FGV.

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