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Por que os economistas erram tanto as projeções do PIB do Brasil

Estimativas começaram 2023 com crescimento de 0,8%. Agora, estão em 2,24%. Veja por que avanço do agronegócio está na origem dos equívocos

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Imagem colorida de trator realizando colheita de grãos de soja - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de trator realizando colheita de grãos de soja - Metrópoles - Foto: Getty Images

Erros expressivos nas projeções do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de riquezas do país), cometidos pelos agentes econômicos, têm sido mais que comuns no Brasil. Tornaram-se um padrão. Neste ano, por exemplo, as estimativas (veja quadro abaixo) começaram com a previsão de um crescimento de 0,8% do PIB. Em julho, ela já havia saltado para 2,24%. Ou seja, o número quase triplicou em seis meses – e ainda está subindo.

Por que isso acontece? O economista Claudio Adilson Gonçalez, diretor-presidente da consultoria MCM, tem uma explicação para o problema. Para ele, os analistas estão, sistematicamente, cometendo um erro que contém elementos tanto técnicos como conceituais. E o imbróglio tem tudo a ver com o avanço do agronegócio.

Ele observa que o preço das commodities sobe desde 2020. “Quando isso acontece, a renda do setor exportador aumenta, principalmente na agropecuária, com centenas de milhares de produtores existentes no país”, diz. “Os economistas estão perdendo de vista o efeito multiplicador desse avanço. E, conceitualmente, a renda bruta da sociedade é igual ao PIB (excluindo impostos indiretos).”

Gonçalez nota que, em 2022, a renda na agropecuária dobrou em relação ao período entre 2017 e 2019. “Ou seja, não estamos falando de uma mudança pequena”, afirma. Para ele, acrescente-se, não é só a conta do agro que não fecha e pode distorcer o PIB. As commodities do setor extrativista, caso dos minérios e, especialmente, do petróleo, também podem provocar um impacto similar, embora menos abrangente.

Errou geral

Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, concorda que a fonte dos equívocos sobre o futuro do PIB está no agro. Mas destaca outro aspecto do entrave. Para ele, os especialistas não contam com informações suficientes para fazer uma estimativa fidedigna do que ocorre com o setor, o que dificulta traçar tendências.

No primeiro semestre de 2023, destaca Vale, o agronegócio disparou 21,3% e puxou fortemente o PIB nacional, cujo avanço total foi de 1,9%. “E nossas projeções indicavam um aumento entre 15% e 16% para o agronegócio” diz o economista. “O fato é que todo o mercado subestimou esse crescimento.”

Recursos do IBGE

Para Vale, a escassez de dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o segmento é um enorme problema. Eles formam a matéria-prima com a qual os economistas lidam. “Para a indústria, comércio e serviços, temos pesquisas mensais sobre desempenho, além de números a respeito de exportações, importações e investimentos”, diz. “No caso do agro, o IBGE não tem recursos suficientes para fazer todos os levantamentos necessários.”

Para os próximos anos, porém, os erros podem diminuir, mas não como consequência do aprimoramento dos modelos matemáticos ou de informações mais precisas. Na avaliação de  Gonçalez, da MCM, a questão é que o agro tende a ter um peso menor no PIB. “Em 2024, a produção do setor vai contrair e os preços estarão baixos”, diz. “Por isso, sou otimista em relação a este ano, quando o PIB deve aumentar cerca de 3%, mas pessimista em relação ao próximo ano, quando a elevação pode ser de 1%, numa estimativa preliminar.”

Mais uma projeção

Hoje, o mercado calcula que o PIB nacional deve crescer 1,3% em 2024. Isso segundo o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central (BC), que faz um levantamento semanal sobre o assunto com cerca de 150 agentes econômicos. Essa, porém, pode ser apenas mais uma projeção equivocada.

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