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Por que o PIB está desacelerando e não deve repetir desempenho de 2023

Depois do “boom” do agro no 1º trimestre e com baixo investimento, economia brasileira vem perdendo força. Projeções são modestas para 2024

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Depois de surpreender a maioria dos analistas em 2023, a economia do Brasil deve fechar este ano com um índice de crescimento muito menor. Nos últimos meses, indicadores apontam para uma desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB), em meio a problemas como os baixos níveis de investimento na produção e as dificuldades enfrentadas por setores econômicos importantes para o país, como a indústria e o varejo, que seguem patinando.

Na sexta-feira (19/1), dados do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB do país, mostraram que houve estagnação da atividade econômica em novembro do ano passado, com uma oscilação positiva de 0,01% em relação ao mês anterior.

O resultado do penúltimo mês de 2023 frustrou o mercado, que projetava uma alta de 0,1%, de acordo com o consenso Refinitiv, que reúne as principais projeções dos analistas. Antes disso, o IBC-Br vinha de três quedas mensais consecutivas: em agosto (-0,77%), setembro e outubro (ambos com -0,06%).

Quando observado o desempenho da economia brasileira trimestre a trimestre, a desaceleração fica ainda mais evidente. Entre janeiro e março de 2023, impulsionada por um crescimento de mais de 21% do agronegócio, o PIB do país avançou 1,4%, em dado revisado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No segundo trimestre, a expansão foi de 1% e, no terceiro, de apenas 0,1%.

Segundo a última edição do Relatório Focus, do BC, divulgada no início desta semana, o Brasil deve fechar 2024 com um crescimento de 1,59% – bem abaixo da mediana das projeções do mercado para 2023, de quase 3%. Para 2025 e 2026, a estimativa é uma alta de 2%.

Por que a economia está crescendo menos

De acordo com economistas ouvidos pela reportagem do Metrópoles, um dos principais motivos para a desaceleração do PIB do Brasil nos últimos meses é o baixo nível de investimento na produção, a chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Grosso modo, ela mede o aumento de bens de capital das empresas. Esses ativos têm a função de produzir outros bens.

Segundo o IBGE, o indicador recuou 2,5% no terceiro trimestre do ano passado, na comparação com o trimestre anterior, e a taxa de investimento ficou em 16,6% do PIB, ante 18,3% do mesmo período de 2022.

“Tivemos a FBCF despencando ao longo do ano passado, o que explica a desaceleração. O investimento de hoje é o PIB de amanhã. Sem investimento, o PIB potencial caiu em 2014 e, desde 2016, se mantém estagnado”, afirma o economista Claudio Considera, coordenador de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) e um dos responsáveis pelo Monitor do PIB da FGV. “É verdade que está faltando consumo também, porque a inflação comeu um pouco da renda das pessoas. O consumo vem crescendo a taxas menores”, explica.

O economista Maurício F. Bento, diretor do Instituto de Formação de Líderes de São Paulo (IFL-SP), também aponta o fraco investimento na produção como outro fator que leva a atividade econômica brasileira a pisar no freio. “O investimento é essencial para o crescimento sustentável de longo prazo. No curto prazo, é possível estimular o consumo e crescer. Mas, no médio e longo prazo, é preciso investir em bons projetos, melhorar a infraestrutura e a capacidade produtiva do país. Pelo menos nos últimos 30 anos, o Brasil vem tendo um nível de investimento baixo”, afirma.

“É necessário pensar em como elevar esses investimentos. E uma área importante na qual o Estado tem uma forte atuação é a parte de infraestrutura, seja por meio de investimento direto, como o Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal), ou de concessões e parcerias público-privadas”, completa Bento.

O peso do agro

Outra explicação para a perda de fôlego da economia do Brasil está relacionada ao agronegócio brasileiro, que bateu recorde nos primeiros três meses de 2023 e praticamente garantiu o bom resultado do PIB nacional no ano passado. Essa realidade, no entanto, não deve se repetir em 2024.

“Houve uma ajuda forte da agricultura em 2023. Para crescer em cima da supersafra que nós tivemos, seria preciso ter uma outra supersafra daquela magnitude”, diz Claudio Considera, da FGV.

“A parte de exportações também ajuda. Elas estão crescendo, mas a taxas menores. A indústria segue um desastre, assim como a construção. Nesse contexto, não vejo qual estímulo poderia ser dado para alavancar a economia brasileira. As perspectivas para 2024 não são muito animadoras.”

Maurício F. Bento, do IFL-SP, também avalia que o país não pode contar com a repetição do fenômeno do agro observado em 2023.

“O agronegócio teve um crescimento espetacular no ano passado, na casa de dois dígitos, acima do normal mesmo para os padrões do agro brasileiro, que é muito forte e dobrou de produção nos últimos 20 anos”, ressalta. “Para termos um crescimento mais sustentado, temos de pensar também em estratégias de diversificação da economia. A indústria tem de voltar a puxar o crescimento, assim como os serviços.”

Queda dos juros pode ajudar

Apesar da tendência de que o PIB brasileiro termine 2024 operando bem abaixo do ano anterior, o ciclo de queda da taxa básica de juros da economia (a Selic), iniciado pelo BC em meados do ano passado, deve começar a ter reflexos positivos na atividade econômica nos próximos meses.

Desde agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC já reduziu os juros quatro vezes em 50 pontos-base, totalizando uma queda de 2 pontos percentuais em 2023. Atualmente, a Selic está em 11,75% ao ano, e a aposta do mercado é a de que recue até 9% ao ano no fim de 2024, segundo o Focus.

A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a inflação. Quando o Copom aumenta os juros, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.

Ao reduzir a Selic, a tendência é a de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.

No ano passado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, ficou em 4,62%, abaixo do teto da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,75%. Foi a primeira vez em três anos que a inflação no Brasil não estourou a meta.

“A queda de juros pode contribuir para o crescimento da economia. A redução da Selic possibilita o consumo de bens no crediário, o que sempre ajuda. Mas não basta”, alerta Considera. “Programas do governo, como o Desenrola (programa de renegociação de dívidas), também ajudam no consumo das famílias. Mas é preciso ver o comportamento da inflação. Ela estava caindo bastante e deu uma estagnada no período mais recente. De qualquer forma, o problema é como estimular o investimento”, conclui.

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