Por que o novo Focus detona as chances de corte da Selic nesta semana
Relatório divulgado pelo Banco Central mostrou piora nas projeções para os principais indicadores da economia do país
atualizado
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O Relatório Focus divulgado nesta segunda-feira (17/6) pelo Banco Central (BC) reforça o quase consenso existente no mercado de que o país chegou ao fim do ciclo de queda da taxa básica de juros, a Selic. Isso porque o boletim mostrou uma deterioração generalizada das projeções para os principais indicadores da economia nacional – o que incluiu as estimativas para a inflação, o dólar, o Produto Interno Bruto (PIB), além da própria Selic.
Entre os investidores, 93% apostam que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai manter a Selic no atual patamar de 10,50%, na próxima reunião do órgão, que começa nesta terça (18/6) e termina na quarta (19/6). Apenas 5,4% acreditam em um corte de 0,25 ponto percentual, segundo dados do mercado de Opções de Copom, da Bolsa brasileira (B3).
As análises dos bancos seguem na mesma direção. Em relatório divulgado na sexta-feira (14/6), o Itaú, por exemplo, cravou que o Copom “decidirá, por unanimidade, pela manutenção do patamar atual de juros em sua próxima reunião”.
Nesse caso, chama a atenção a expectativa do banco de que a decisão seja unânime entre os integrantes do órgão do BC. Na última reunião do Comitê, houve dissenso, quando quatro membros do Copom, todos indicados pelo atual governo, votaram a favor de uma queda de 0,5 ponto percentual da Selic. Outros cinco integrantes mais antigos, entre eles o presidente do BC, Roberto Campos Neto, optaram por uma redução de 0,25 ponto percentual, que acabou prevalecendo.
Inflação
Na prática, a estimativa de fim do ciclo de quedas da Selic é resultado da deterioração dos principais indicadores da economia nacional, retratada no Relatório Focus. O mercado estima que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, deve terminar este ano em 3,96%. Há cinco semanas, esse número era 3,76%. Além do mais, esse foi o sexto aumento seguido da previsão do IPCA para 2024.
A ata da última reunião do Copom, realizada em maio, destacou o fato de a expectativa de aumento de preços estar desancorada no mercado. Isso ocorre quando as projeções dos analistas não convergem para a meta da inflação, cujo centro é de 3% para 2024 e 2025.
Trabalho e serviços
De acordo com a análise do Itaú, embora os números do IPCA de maio não tenham sido ruins, o núcleo da inflação (dado que elimina os fatores de maior volatilidade do índice) do setor de serviços voltou a acelerar. “A atividade econômica segue resiliente, com destaque para os números robustos de PIB e mercado de trabalho”, diz o banco.
A análise citou a força da criação dos empregos como um fator temerário porque, embora seja positiva sob o aspecto social, ela mantém o mercado aquecido, o que, em tese, pode comprometer a queda dos preços e da inflação. O setor de serviços também foi destacado por ser o mais intensivo em mão de obra.
Dólar
Além disso, o último Focus piorou as projeções para o dólar para 2024, 2025, 2026 e 2027. Ou seja, em todos os anos para os quais são feitas projeções na pesquisa do BC. A estimativa de câmbio para este ano, por exemplo, passou de R$ 5,05 para R$ 5,13 nesta semana, na comparação com a anterior.
Selic
O boletim do BC também apontou que a Selic deve terminar o ano em 10,50%, onde já se encontra, o que elimina a perspectiva de novos cortes. Acrescente-se que os dados presentes no Focus expressam uma mediana das projeções do mercado. Ou seja, no topo das estimativas, os números são bem mais altos.
Incertezas
Além da deterioração das expectativas, conta a favor da aposta no fim do ciclo de queda da Selic o aumento de incertezas e o resultado da última reunião do Copom, em maio. Nesse segundo caso, como mencionado acima, havia a possibilidade de um corte maior da taxa, mas o Comitê adotou uma posição mais conservadora. Para os analistas, esse comportamento não deve mudar.
Quanto às incertezas, elas têm proliferado no campo interno principalmente em torno do cumprimento das metas fiscais por parte do governo. Em relação ao exterior, o contexto para uma eventual queda da Selic no Brasil piorou com a perspectiva por um bom tempo da manutenção dos juros nos Estados Unidos no atual patamar, fixado no intervalo entre 5,25% e 5,50%, o maior nível desde 2001.