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Por que o novo desafio do Brasil é crescer sem produzir inflação

Para economistas, é muito raso o atual limite para que o PIB avance sem pressão inflacionária. Ele está entre 1,5% e 2% ao ano

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O próximo grande desafio da economia brasileira já está dado, apesar de o país nem sequer ter concluído o marco fiscal e ainda engatinhar, entre polêmicas, na reforma tributária – é crescer sem produzir inflação. Para que isso ocorra, dizem especialistas, o Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas nacionais) não pode avançar mais do que 1,5% e 2% ao ano.

E por que o número é tão mirrado? A explicação é simples. Com o crescimento, há um aumento da demanda por produtos e serviços. Para que essa história não termine em inflação, a economia tem de ter capacidade de elevar a oferta desses mesmos produtos e serviços. Se isso não acontecer, a tendência é que os preços dos itens à disposição dos consumidores e insumos desembestem.

Para a economista Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), é justamente essa a situação do país. “A economia, hoje, não tem folgas”, diz. “Ela não apresenta sinais de ociosidade que permitam um avanço sem pressão inflacionária.” Silva estima que o crescimento do PIB tem de ser de 1,5% para que a inflação não prospere. Esse ponto de equilíbrio é chamado pelos técnicos de PIB potencial.

Silvia, que também coordena o Boletim Macro do FGV Ibre, afirma que há falta de ociosidade, por exemplo, no mercado de trabalho. A taxa de desemprego do país ficou em 8,3% no trimestre encerrado em maio e está abaixo da média histórica, que gira em torno de 10,5%.

Baixo investimento

Outro foco de preocupações, nota a economista, é o baixo investimento. Sem aportes que possam expandir a capacidade de produção, uma demanda em alta pressionaria a oferta, elevando os preços. E a taxa de investimento no Brasil é baixa há muitos anos. Pior: está em queda. “Em 2021, representava 19% do PIB”, afirma a pesquisadora. “Agora, está em torno de 18%.”

O economista Sergio Vale, da consultoria MB Associados, nota que o PIB potencial do Brasil diminuiu de forma expressiva nos últimos anos. Era de 3% a 4% antes da crise de 2014-2016, durante o governo Dilma Rousseff. Desde então, desceu a ladeira. Ele estima que, hoje, esteja em 2%.

Efeito agro

Vale diz, porém, que esse limite não se aplica a 2023, uma vez que o avanço do PIB neste ano – cujas projeções apontam para 2,24% – é localizado. Concentra-se no agronegócio. “E o crescimento do agro mais ajuda do que atrapalha na queda inflação”, afirma. “Isso porque a supersafra joga para baixo o preço dos alimentos.” Para os próximos anos, especialmente 2024 e 2025, as perspectivas, afirma o economista, já não são tão boas.

A receita para desfazer o nó do baixo crescimento e ampliar o PIB potencial, observa o economista Luca Mercadante, da gestora de investimentos Rio Bravo, é conhecida. Passa por melhoras no ambiente de negócios, qualificação dos trabalhadores (capital humano) – notadamente, por meio da educação –, ampliação do investimento e aprimoramento da infraestrutura. “Isso além de avanços da produtividade, travada há muitos anos no Brasil”, diz Mercadante.

Longo prazo

Ganhos de eficiência por meio de reformas também ajudam. Uma delas, dizem os especialistas em uníssono, é a tributária, apesar dos inúmeros senões que vêm surgindo em torno do atual projeto, em debate no Congresso. “O fato é que o nosso modelo é tão ruim que todos os estudos mostram que uma mudança no atual regime tributário traria ganhos para o PIB”, diz Silvia Matos. “Mas isso só aconteceria no longo prazo, daí a importância de começar a promover essas alterações desde já.” Sem isso, conclui a economista, vai ser bem difícil esticar o tal PIB potencial.

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