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Por que o mercado elevou pela 8ª vez seguida a previsão do PIB de 2024

Em janeiro, a estimativa do PIB deste ano era de 1,59%. Agora, segundo o BC, chegou a 1,90%. Entenda os motivos – e riscos – dessa arrancada

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A pesquisa feita pelo Banco Central (BC) todas as semanas com analistas do mercado, cujos resultados são divulgados no Relatório Focus, mostrou, nesta segunda-feira (9/4), um novo aumento da projeção do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2024. E essa foi a oitava elevação seguida – algo raro entre os indicadores coletados pelo BC, que também incluem inflação, juros e dólar.

Até a semana passada, a previsão dos analistas era de um PIB de 1,85% para este ano. Agora, ela subiu para 1,90%. Há oito semanas, estava em 1,59%. E o avanço de apenas 0,1 ponto percentual já não é pouca coisa. Ele equivale a mais de R$ 100 bilhões – e, no caso, o salto foi 0,31 ponto percentual.

E por que o ritmo das projeções está subindo tão rápido?  De acordo com especialistas, ele é resultado do acúmulo de sinais de aquecimento da atividade econômica no país. 

Para Márcio Holland, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EESP) e ex-secretário de Política Econômica no Ministério da Fazenda (2011-2014), há várias indicações de que a “economia está um pouco melhor do que se previa” no início de 2024. 

Afrouxamento da Selic

O economista observa que parte dessa melhora tem a ver com o que define como “ciclo de afrouxamento” da taxa básica de juros, a Selic. Em agosto de 2022, ela estava em 13,75% ao ano. Caiu para os atuais 10,75%, depois de seis cortes consecutivos de 0,5 ponto percentual promovidos pelo BC.

“Com isso, os spreads bancários (diferença entre os juros que o banco cobra ao emprestar para seus clientes e a taxa que ele paga ao captar o dinheiro), em especial para pessoas físicas, acompanharam parte desse movimento e a concessão de créditos cresceu bem, com arrefecimento somente no último mês”, dia Holland.

Mais consumo

Além disso, acrescenta o economista, o mercado de trabalho manteve-se forte, com a criação de 1,4 milhões de postos de trabalho nos últimos 12 meses e o aumento do rendimento médio real. “Há mais trabalhadores com emprego, mais crédito, mais consumo”, afirma. “O varejo e o setor de serviços estão comemorando isso.”

Pode subir mais

Para Holland, se o ritmo atual de inflação continuar comportado e o BC promover novas rodadas de cortes da Selic, as previsões do PIB seguirão apontando para cima. Ele acrescenta: “Vamos assistir a mais revisões de crescimento para este ano, rumo a 2,2%, ou mesmo, 2,5%.” Ou seja, para o economista, mantidas as condições atuais da economia, há espaço para novos crescimentos das projeções.

A esse quadro, Alexandre Schwartsman, economista e ex-diretor do Banco Central (BC), acrescenta que os números da atividade econômica estão mais fortes, à exceção da produção industrial. “Já o volume das transferências de recursos do governo também cresceu muito entre dezembro e fevereiro por conta do pagamento de precatórios (R$ 90,7 bilhões foram liberados em dezembro) e parece que isso bateu direto no consumo”, diz Schwartsman.

Mudança de direção

No ano passado, o PIB surpreendeu ao crescer 2,9%, puxado pela agropecuária. Neste ano, porém, espera-se um resultado não tão brilhante do setor. Por isso, a estimativa do produto para 2024 começou modesta, apontando para um crescimento de 1,59%, segundo as projeções de janeiro. Ocorre que outros setores como varejo e serviços ganharam tração nos últimos meses.

Dores do crescimento

O risco dessa musculatura adicional do PIB, contudo, é que o aquecimento da economia interfira negativamente na evolução da inflação. Ou seja, que ela suba além do esperado. Se isso ocorrer, os economistas consideram que dificilmente o Banco Central manterá – ao menos, no mesmo patamar – o ciclo de queda da Selic.

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), órgão responsável por fixar o valor da Selic, surgiu uma indicação nesse sentido. Por conta de incertezas na economia nacional e internacional, o Copom deixou em aberto o horizonte e o tamanho dos futuros cortes dos juros, principalmente a partir de junho.

Mudança de tom

Na ata divulgada depois do encontro do órgão, em 20 de março, os integrantes do Copom falaram em somente mais um corte de 0,5 ponto percentual da taxa, na próxima reunião, em 7 e 8 de maio. A partir daí, não há mais compromisso explícito com reduções dessa proporção. 

Para Schwartsman, um eventual repique da inflação parece fazer parte dos riscos maiores mencionados pelo Copom na última ata. “Talvez paremos este ano em 9,25% com a Selic, contra os 9% hoje esperados pelo mercado, com risco de ficarmos em 9,50%”, afirma o economista.

 

 

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