Por que o mercado de trabalho está envelhecendo e o que isso significa
Idade média do trabalhador brasileiro é de quase 40 anos. Crescimento populacional mais lento e fim do bônus demográfico explicam o fenômeno
atualizado
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A idade média do trabalhador brasileiro vem aumentando nos últimos anos. De acordo com um levantamento da LCA Consultoria Econômica, a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a idade da população ocupada do país é, em média, de 39,3 anos no primeiro trimestre de 2023.
É o segundo maior patamar da série histórica da pesquisa, que teve início em 2012. O número só é superado pelo de junho de 2020, quando chegou a 39,4 anos.
O envelhecimento do mercado de trabalho está diretamente ligado ao ritmo mais lento do crescimento populacional do Brasil. Segundo o Censo Demográfico, o país viu sua população aumentar 6,5% entre 2010 e 2022, para 203 milhões de habitantes, quase 5 milhões a menos do que o esperado. A taxa média de expansão anual da população foi de apenas 0,52% no período – a menor em 150 anos, desde o primeiro Censo, realizado em 1872.
“O mercado de trabalho acompanha a evolução da demografia do Brasil. Se a população, no geral, está envelhecendo, o mercado de trabalho também envelhece”, afirma Bruno Imaizumi, economista da LCA.
Outro fator que explica o aumento da idade média dos trabalhadores, diz Imaizumi, é o comportamento de parcelas cada vez mais expressivas da população jovem, que têm reavaliado prioridades e deixado o mercado de trabalho para focar em outros projetos.
“Com a pandemia, muitos jovens repensaram suas carreiras profissionais. Houve uma saída de jovens do mercado para estudar, por exemplo, o que fez com que a média de idade se elevasse no curto prazo”, explica Imaizumi. “Outro fator é que, desde o fim de 2022, tivemos uma evolução mais benigna da renda no país. Com o pai e a mãe trabalhando, o jovem passa a ter mais condições objetivas de parar de trabalhar e se dedicar aos estudos.”
Atualmente, de acordo uma pesquisa da Ernst & Young e da agência Maturi, os profissionais com mais de 50 anos correspondem a um percentual entre 6% e 10% do quadro de funcionários das empresas. Esse cenário vai mudar: segundo projeções do IBGE, a maior parte das equipes de trabalho nas organizações será composta, em 2040, por profissionais de 45 anos ou mais.
“Sabemos que existe preconceito em relação às pessoas mais idosas. O etarismo ainda está muito presente no ambiente corporativo”, diz Imaizumi. “Mas, daqui a alguns anos, querendo ou não, boa parte da mão de obra disponível será composta por pessoas mais velhas. As empresas terão de se adaptar.”
Bônus demográfico desperdiçado
De acordo com especialistas ouvidos pelo Metrópoles, o que preocupa não é o aumento proporcional de pessoas mais velhas no mercado de trabalho, mas o fato de o Brasil não ter aproveitado como deveria o fenômeno conhecido como bônus demográfico.
Trata-se do período no qual a população em idade ativa (entre 15 e 64 anos) cresce em um ritmo mais acelerado do que a população geral. Em linhas gerais, o bônus demográfico é resultado da queda na taxa de fecundidade, mas não exacerbada, e da diminuição da mortalidade de uma população – o que aumenta, proporcionalmente, a quantidade de pessoas em idade de trabalhar.
Grandes populações em idade ativa tendem a contribuir decisivamente para o crescimento econômico, o que já ocorreu em diversos países. China, Japão e Coreia do Sul são alguns exemplos de nações que, há algumas décadas, aproveitaram o bônus demográfico para se desenvolver, embora hoje enfrentem problemas também com o envelhecimento da população. Não é o caso do Brasil.
“A média de idade está subindo porque o nosso bônus demográfico está no fim. Quando esse bônus termina, o que ocorre é um aumento da idade média do trabalhador brasileiro. Gradativamente, vai entrando menos gente nova no mercado e, com isso, a idade média sobe”, afirma Fernando de Holanda Barbosa Filho, economista sênior da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
“Um dos problemas que o Brasil teve é que o bônus demográfico estava em um patamar elevado quando o país tinha uma taxa de inflação muito alta”, prossegue Barbosa Filho. “No momento em que havia mais gente para trabalhar, houve esse período mais recessivo.”
Hoje, o Brasil ainda tem mais pessoas trabalhando do que crianças e aposentados, mas a população em idade ativa deve começar a diminuir a partir da primeira metade da próxima década, indicam projeções. Com uma população mais velha e menos jovens ingressando no mercado de trabalho, o país terá dificuldades para aumentar sua produtividade e garantir um crescimento econômico robusto e duradouro. Também terá ainda mais problemas para manter o sistema previdenciário funcionando de maneira sustentável.
“Durante muitos anos, tivemos governos populistas, que não pensaram nas grandes reformas que elevariam a produtividade do trabalhador e fariam a economia crescer mais. Pensaram apenas no curto prazo”, critica Imaizumi. “A maior crise que o país enfrentará é a crise demográfica. Ela será inevitável e virá ainda neste século. A conta vai chegar.”