Por que investimento externo caiu no Brasil – e quando voltará a subir
Investimento estrangeiro acumula queda de quase 30% nos primeiros meses de 2023, mas há espaço para melhora no curto e no médio prazo
atualizado
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O investimento externo no Brasil começou 2023 em queda livre. O investimento estrangeiro direto no país (o chamado IDP) caiu 28% no acumulado até abril, segundo os últimos dados divulgados pelo Banco Central.
Reverter o cenário é essencial para o Brasil crescer de forma duradoura, e tudo dependerá da conjunção de fatores externos e boas decisões políticas domésticas, dizem economistas ouvidos pelo Metrópoles. Por ora, a tendência de queda deve seguir por alguns meses, por questões conjunturais e sazonais, mas o horizonte até o fim do ano e no médio prazo tem espaço para melhoras, dizem os especialistas.
De largada, a queda em 2023 ocorreu em parte pela forte base de comparação com 2022. O ano passado teve o maior investimento direto em uma década (mais de US$ 90 bilhões), sendo o primeiro ano com reabertura total após a pandemia da Covid-19.
Além disso, a queda brusca no acumulado de 2023 se deve ao mês de abril, que teve, sozinho, um tombo de 70%, muito acima do comum. Economistas apontam que o mês foi atípico por questões conjunturais: incertezas domésticas e internacionais pesaram na retração e devem continuar no radar de investidores. Dados prévios de maio, no entanto, já mostram uma recuperação.
As incertezas: enquanto países ricos com inflação persistente subiram juros rapidamente, o que pode levar a uma recessão, pesaram por aqui, no início do ano, as dúvidas iniciais quanto à política econômica do governo Lula e os ataques do Planalto ao Banco Central.
“O dado de abril está um pouco poluído”, diz Antonio van Moorsel, estrategista-chefe da Acqua Vero. “Há fatores externos e ruídos políticos domésticos que aumentaram a aversão dos investidores nos primeiros meses do ano”.
As oportunidades do Brasil
A partir de agora, a economia do Brasil apresenta elementos positivos que podem beneficiar a entrada de investimento no país. As projeções de crescimento e inflação estão melhores do que o esperado e reformas importantes estão engatilhadas, como o marco fiscal aprovado na Câmara e uma reforma tributária.
Há ainda a expectativa de queda de juros no segundo semestre. Embora os juros mais baixos devam reduzir o fluxo de dólares no curto prazo, a queda pode incentivar que ocorram investimentos produtivos na indústria, na infraestrutura e no comércio.
Tudo somado, na comparação com outros países emergentes, o Brasil tem sido uma aposta em alta no exterior. Um ranking da consultoria internacional Kearney mostra que o Brasil foi, em 2022, o sétimo país mais procurado por estrangeiros que querem investir em nações emergentes – na lista, o Brasil perde para os asiáticos, mas é o primeiro na América Latina.
Para Sachin Mehta, sócio da Kearney, o horizonte é positivo também em 2023. A alteração na perspectiva da nota de crédito do Brasil, pela agência Standard & Poor’s, de “estável” para “positiva”, é mais um fator que chancela o bom cenário brasileiro.
“Tivemos o S&P sinalizando melhora, PIB melhorando, indicações de que inflação está sob controle. Começa-se a ter um ambiente mais saudável para atrair investimentos, apesar de incertezas que ainda existem”, diz Mehta.
A busca por investimentos de longo prazo
O IDP medido pelo Banco Central e em estudos como os da Kearney diz respeito a “investimentos diretos”, em atividades produtivas. Há também um fluxo de recursos direcionado à compra e venda de ativos no mercado financeiro, que é chamado de “investimento indireto”.
Nessa frente, houve saldo positivo de mais de R$ 13 bilhões na bolsa brasileira, até meados de junho, além de oito semanas consecutivas de alta no Ibovespa, principal índice local. Esse tipo de capital, no entanto, é mais fluído e sujeito a oscilações de curto prazo.
“A bolsa é um termômetro de como o mundo e players internos estão enxergando a dinâmica da economia. Mas o investimento direto que medimos no estudo significa abrir fábrica, lançar novas linhas de produto”, explica Sachin, da Kearney.
Para 2023, economistas ouvidos no Boletim Focus, do Banco Central, projetam um investimento direto em torno de US$ 80 bilhões, o que significaria uma queda de cerca de 10% frente a 2022. Van Moorsel, da Acqua, afirma, contudo, que há possibilidade de que o número surpreenda positivamente, tal como ocorreu com o PIB.
“Essa melhora nos investimentos já será vista no curto prazo, seja nos mercados, com a bolsa subindo há oito semanas, seja no IDP”, diz o estrategista da Acqua. “Mas tende a ser mais intensa sobretudo no médio e longo prazos. O Brasil tem um potencial colossal de investimento em infraestrutura, por exemplo”, diz.
O auge do investimento direto no Brasil ocorreu no início da década de 2010, quando o país vivia um bom momento econômico e tinha grau de investimento das agências de risco (o grau seria perdido em 2015, no segundo governo Dilma Rousseff).
Voltar a esse nível de atração de investimentos é um desafio para o país, que vive “voos de galinha”, diz Sachin, com poucas políticas que sobrevivem de um governo a outro. A missão será não só retomar os investimentos que perdeu na última década, mas, sobretudo, mantê-los de forma duradoura.