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Por que as projeções de inflação dispararam e até onde podem chegar

Para 2024, segundo o Relatório Focus, do BC, elas passaram de 3,71% em abril para 3,98% nesta semana. Mas ainda podem ir além de 4%

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As projeções para a inflação desembestaram no Brasil. Nesta segunda-feira (24/6), o Relatório Focus, a pesquisa semanal feita pelo Banco Central (BC), mostrou que a estimativa dos agentes econômicos para o Índice de Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aumentou pela sétima vez seguida, atingindo 3,98%. Em abril, estava em 3,71%.

Há mais. As previsões para os próximos anos também deram um salto expressivo. Para 2025, foram de 3,50% em janeiro para 3,85% nesta semana. No caso de 2026, elas permaneceram estáveis por 46 semanas em 3,50%. No fim de maio, contudo, dispararam para 3,58% e, agora, bateram em 3,60%. A grande questão é por que essas estimativas têm aumentando e até onde elas podem chegar.

Para o economista Marcelo Kfoury Muinhos, coordenador do MacroLab da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), o mercado financeiro “perdeu a paciência com a política fiscal” do governo, que trata da relação entre receitas e despesas do governo. “As pessoas não acreditam nas promessas de corte de gastos e já não aceitam o ajuste feito só pelo lado aumento de receitas”, diz. “Isso afeta as expectativas de inflação, que necessitam de credibilidade da política fiscal.”

Ele acrescenta que outro foco de incerteza é o anúncio do próximo presidente do Banco Central, uma vez que o atual, Roberto Campos Neto, será substituído a partir do início de 2025. “Há o receio de que alguém sem as credenciais necessárias seja indicado para o cargo”, afirma.

Juros nos EUA

Kfoury Muinhos observa que os juros altos nos Estados Unidos também não ajudam a baixar as expectativas sobre a inflação no Brasil. Ele lembra que, nesta semana, será conhecida mais uma bateria de informações sobre inflação e crescimento da economia americana. O medo é que ela se mantenha aquecida. “E sempre que um novo dado é divulgado é um Deus nos acuda no preço dos ativos no Brasil”, diz.

Emerson Marçal, coordenador do Centros de Macroeconomia Aplicada da FGV EESP, também cita o déficit público como fator de pressão sobre as estimativas de inflação. “Uma coisa é acomodar um aumento de despesa e depois controlar as finanças públicas. Outra coisa é promover um ajuste muito pequeno, ou mesmo, não promovê-lo”, diz. “O mercado está com medo disso.”

Incógnita de Lula 3

Para Marçal, a política monetária, que define o tamanho dos juros básicos no Brasil, da segunda parte do mandato de Lula 3 ainda é uma incógnita. “Sabe-se que o Campos Neto não continua no BC, mas não está claro quem será o próximo presidente da instituição e, mais importante que isso, qual será sua política”, diz. “Além disso, a atividade econômica e o mercado de trabalho também estão num limite, o que talvez exija algum tipo de freio.”

Catástrofe gaúcha

André Braz, coordenador dos índices de preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), acrescenta a esses fatores a tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul. “Foi um ponto de virada”, diz, referindo-se às perspectivas para os preços no país.

“Ainda não se sabe o quanto o problema vai comprometer a safra em 2024”, afirma. “O maior risco está nos preços da alimentação em domicílio. Existem culturas com ciclos mais longos e as condições de solo não são ideais para o plantio. Tem todo um atraso no preparo da agricultura no ano que vem, o que já começa a influenciar na expectativa de inflação para 2025.”

Risco do dólar

Braz nota que a catástrofe gaúcha aumenta ainda mais as dúvidas sobre a questão fiscal e isso tem afetado o câmbio. E o dólar alto atua de forma negativa sobre a perspectiva inflacionária em duas frentes. “Primeiro, ele encarece as importações”, afirma Braz. “Se o Brasil importa trigo, ele vai ficar mais caro e isso vai contaminar o preço da produção de toda a família de derivados do produto, como pães, massas e biscoitos.”

Com o real depreciado frente ao dólar, complementa o economista, os produtos brasileiros ficam mais baratos no exterior, o que tende a aumentar as exportações. “Isso é bom para a balança comercial, mas é um desafio a mais para a inflação”, afirma. “Quanto mais o país exporta, um número menor de produtos fica no Brasil e o preço desses itens pode subir exatamente por isso. A inflação passa a ser uma preocupação ainda maior.”

Projeções em alta

Nesse quadro, apontam os especialistas, as projeções para a inflação devem continuar aumentando, embora fatos novos possam alterar tal tendência. Se mantido o atual quadro, Marcelo Kfoury Muinhos calcula que, para 2024, a estimativa do IPCA pode sair dos atuais 3,98% e chegar a 4%. André Braz aponta para 4,15% e Emerson Marçal, para 4,25%. 

Como o centro da meta da inflação é de 3%, notam os economistas, esse descolamento das expectativas em relação ao alvo – os analistas usam o termo “desancoragem” para se referir a essa disparidade – vai resultar na manutenção de juros altos por mais tempo no Brasil. “E isso, por sua vez, penaliza justamente o crescimento e a geração de emprego”, diz Braz.

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