Por que a Bolsa recuou e o dólar disparou após o anúncio do arcabouço?
O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores, registrou queda nesta quarta-feira (19/4) e o dólar subiu 2%, voltando a superar os R$ 5
atualizado
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O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira (B3), registrou forte queda nesta quarta-feira (18/4). O índice, que reúne as principais ações do mercado, teve desvalorização de 2,1% e encerrou a sessão cotado a 103.913 pontos.
O dia na Bolsa foi de saldo negativo. Das 89 ações que fazem parte do Ibovespa, apenas 8 tiveram ganhos. Ainda assim, não foram ganhos expressivos – a empresa que liderou o pregão, a Sabesp, subiu apenas 1%, impulsionada pela notícia de que o governo paulista iniciou os estudos para privatização da companhia de saneamento.
Todos os setores de peso do mercado ficaram no vermelho. A Vale, ação de maior participação no Ibovespa, recuou quase 3% no dia. Os investidores reagiram de forma negativa ao relatório de produção e vendas da empresa, divulgado na noite de ontem (17/4). O documento, que é uma espécie de “prévia trimestral”, mostrou uma queda no volume de minério negociado pela Vale.
Arcabouço fiscal decepciona
Outro ponto que dificultou as negociações na Bolsa foi a divulgação da íntegra do Projeto de Lei do novo arcabouço fiscal, também na tarde de ontem.
Analistas avaliaram a íntegra como decepcionante, por duas causas. A primeira foi o número de gastos que ficarão de fora dos limites estabelecidos pela nova lei – no total, 13 rubricas não serão limitadas no novo arcabouço, entre elas as despesas com precatórios, transferências para estados e municípios e até mesmo aportes em empresas estatais (veja a lista completa de exceções nesta matéria).
Outro ponto que preocupou o mercado foi a estrutura mais flexível de cumprimento do arcabouço. Alguns temas fundamentais do projeto, como as metas de resultado primário e os limites (em percentual) de crescimento de despesas serão definidos pelo próprio governo a cada ano ou mandato.
Isso, em tese, abre espaço para que parâmetros mais permissivos sejam adotados, o que torna o cenário fiscal imprevisível e pode estimular a indisciplina orçamentária.
“O governo está tentando reforçar o resultado primário não por meio de variáveis que ele controla (os gastos), mas sim por meio de variáveis que ele tem pouco controle ou tem apenas controle indireto (as receitas). Há um incentivo implícito de gastar tanto quanto a regra permite e não há incentivo para gastar menos. Isso faz com que a base de despesas seja maior para o ano seguinte”, alertou Alberto Ramos, diretor de pesquisa para a América Latina do banco Goldman Sachs, em relatório.
Em razão desse grau maior de incerteza, ações ligadas ao consumo (que dependem de um cenário de gastos sob controle e juros mais baixos para crescer) registraram forte queda na Bolsa. As varejistas Magazine Luiza e Via recuaram em torno de 8% no dia, assim como o grupo de supermercados Carrefour.
Dólar
A decepção com o arcabouço fiscal também afugentou os investidores estrangeiros, o que afetou o câmbio. O dólar registrou alta de 2,2% e encerrou o dia cotado a R$ 5,08. Na semana passada, a moeda americana chegou ao piso de R$ 4,91.