Piora da expectativa de inflação preocupa BC, diz Campos Neto
Em evento em São Paulo, presidente do Banco Central também afirmou que queda dos juros no mundo deve ser mais lenta do que se esperava
atualizado
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O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (6/6) que a piora das expectativas de inflação no Brasil é um fator de inquietação para BC. Ele ressaltou que elas estão deteriorando “consistentemente tanto para 2024, 2025 e, mais recentemente, para 2026”. “Isso é um fator de preocupação para o Banco Central”, disse. A afirmação foi feita em evento realizado em São Paulo, pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima).
Campos Neto enumerou ainda os “ruídos que têm contribuído” para essa piora. Ele citou “fatores tanto da ‘parte externa’ como ‘interna’”. “Tem uma parte fiscal, uma parte de condução da política monetária, a transição do Banco Central [ele permanecerá na presidência do BC até dezembro], a capacidade de aprovação de medidas (do governo no Congresso), o geopolítico e o Rio Grande do Sul, mais recente.”
Nesse caso, o presidente do BC observou que a tragédia gaúcha “adiciona um fator de incerteza à inflação de alimentos”. A seguir, ainda sobre a questão das expectativas, frisou: “Pela primeira vez em bastante tempo, a gente tem a inflação corrente vindo relativamente comportada, mas com uma expectativa desancorada”.
Ele observou que daí a decisão de adotar o termo “desancorado”, o que definiu como uma “coisa bastante relevante”, na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, em maio. Na ocasião, a taxa básica de juros, a Selic, foi cortada em 0,25 ponto percentual, chegando a 10,50% ao ano. A inflação é considerada “desancorada” quando as expectativas estão acima da meta fixada pelo BC. Para 2025, por exemplo, ela é de 3%.
Queda lenta dos juros
Campos Neto afirmou ainda que a queda de juros no mundo, notadamente entre países desenvolvidos, “vai ser aparentemente mais tímida do que se esperava”.
Como exemplo dessa “timidez”, ele citou o corte de juros promovido nesta quinta (6/6) pelo Banco Central Europeu (BCE). A taxa, que permanecia inalterada em um patamar historicamente elevado desde setembro de 2023, foi reduzida em 0,25 ponto percentual. Com a decisão, ela caiu para 3,75% ao ano.
Apesar da redução, Campos Neto disse que leu o comunicado do BCE sobre a medida e a considerou uma “declaração mais dura”. “Exatamente para tirar esse ímpeto de que vai ser uma sequência de quedas muito grande, até você tenha um processo de convergência da inflação mais definitivo”, afirmou.