Petrobras perde uma Ambev em valor de mercado em menos de dois meses
Turbulências provocadas pelo governo eleito, em geral, e mudanças na Lei das Estatais, em especial, derrubam ações da empresa na Bolsa
atualizado
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A Petrobras atingiu o maior valor de mercado da história da companhia, alcançando a cifra de R$ 520 bilhões, em 21 de outubro de 2022. Nesta quarta-feira (14/12), a empresa deixou o pregão da Bolsa de Valores brasileira cotada a R$ 301 bilhões. Ou seja, em menos de dois meses, acumulou perdas de R$ 219 bilhões, o equivalente a quase uma Ambev, avaliada, segundo o mesmo critério, em R$ 238 bilhões.
O cálculo foi feito pela consultoria TradeMap para o Metrópoles. Mas não é só. Apenas nesta quarta (14/12) a estatal registrou queda de R$ 30 bilhões também no valor de mercado, o que corresponde a uma Hapvida, a empresa de planos de saúde com sede em Fortaleza (CE).
Nesse caso, as ações ordinárias da Petrobras (#PETR3), que conferem direito a voto e participação nas decisões da companhia, recuaram 9,80%. Essa foi a segunda maior queda desde 22 de fevereiro de 2021. Nessa data, foi anunciada a saída de Roberto Castelo Branco da presidência da companhia. O papel desabou 20,48%. Em 24 de outubro, caíram 9,89%, quando o ex-deputado Roberto Jefferson resistiu à prisão, atirando contra policiais federais.
Por outro lado, e apesar do comportamento das ações da petrolífera, o Ibovespa, o principal índice da Bolsa de Valores brasileira, fechou em alta na reta final do pregão de quarta (14/12). Ele subiu levemente, com recuperação de 0,2%, atingindo os 103.746 pontos.
Na avaliação de Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, as razões desse último tranco nos papeis da Petrobras foram as mesmas que têm produzido alta volatilidade no mercado de capitais nas últimas semanas. Ele explica: “São problemas como a PEC da Transição, além do fato de o governo eleito não ter encontrado o tom correto para se comunicar com os agentes econômicos. Mas, agora, a situação se agravou com as mudanças na Lei das Estatais.”
Na noite de terça-feira (13/12), a Câmara dos Deputados aprovou em votação relâmpago um projeto de lei que modifica a legislação. Na prática, ele facilita a nomeação de políticos para a presidência e diretorias de empresas públicas.
A mudança abre caminho para que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, indique aliados para postos-chave nas estatais, caso do petista Aloizio Mercadante, indicado para presidir o BNDES. Isso não seria possível sem o projeto de lei.
Antes dele, era vedado a dirigentes de campanhas políticas, como Mercadante, assumir cargos em empresas públicas por três anos. O novo texto, que deve ser avaliado no Senado nesta quinta (15/12), derruba esse prazo para 30 dias.
Moura, por outro lado, atribui a recuperação do Ibovespa a indicações positivas provenientes do cenário externo. Esse foi o caso da alta da taxa de juros nos Estados Unidos, de 0,50 ponto percentual, valor já esperado pelos agentes de mercado. Nesse nível, a elevação foi interpretada como um arrefecimento na possibilidade de recessão nos EUA em 2023.