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Ovo de Páscoa, favelas e BBB: como a Americanas sensibilizou a Justiça

A Americanas teve seu pedido de recuperação judicial aceito pela Justiça, sob argumento de que sua falência poderia afetar toda a economia

atualizado

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1 de 1 imagem colorida fachada loja americanas - Foto: Divulgação

Agora é oficial: a Americanas, uma das maiores varejistas do país, está em recuperação judicial e deverá tentar renegociar R$ 43 bilhões em dívidas para não falir.

O processo, que será um dos maiores já registrados no Brasil, teve início nessa quinta-feira (19/1), quando a empresa protocolou o pedido de reestruturação à 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. O pedido foi acolhido horas depois pelo juiz Paulo Assed Estefan.

Para convencer a Justiça de que precisa do alívio legal para suspender pagamentos e renegociar dívidas, a Americanas tentou demonstrar as influências econômicas e sociais que exerce sobre a economia brasileira.

Nos números apresentados pela própria empresa, a Americanas seria responsável por mais de 100 mil empregos diretos e indiretos. Os trabalhadores contratados diretamente são mais de 40 mil, em mais de 3.000 locais, entre lojas, escritórios e centros de distribuição. Em caso de falência, tais empregos estariam ameaçados.

Outro argumento utilizado foi o de que a empresa tem débitos com milhares de fornecedores, e que o funcionamento desses negócios estaria ameaçado, caso as dívidas não fossem rediscutidas.

Quem acompanha o setor diz que a Americanas é conhecida por ter uma das estratégias de negociação mais agressivas com seus fornecedores, comprimindo margens e alongando pagamentos, mas o argumento parece ter sido acolhido pela Justiça.

O tom de convencimento não parou nos indicadores financeiros.

Para sensibilizar a Justiça sobre o risco de uma eventual falência, a Americanas citou pontos como ser, supostamente, uma das poucas a fazer entregas em comunidades carentes, como as favelas de Paraisópolis, em São Paulo, e da Rocinha, no Rio, e sua posição como maior vendedora de ovos de Páscoa do mercado brasileiro.

“Em síntese, eventual quebra do Grupo Americanas resultaria no colapso da já tradicional e consolidada cadeia de produção no Brasil, gerando graves prejuízos para relevantes setores da economia brasileira e para os mais de 50 milhões de consumidores que se valem dos serviços prestados pelo grupo (lembrando-se que, em alguns casos, como o das comunidades carentes do Rio de Janeiro e de São Paulo, assumem particular relevância por representarem uma das únicas – quiçá a única –, opções de recebimento de produtos em domicílio)”, escreveu a defesa da Americanas, no pedido de recuperação judicial.

Houve até um parágrafo dedicado a lembrar o juiz que a varejista era um dos principais patrocinadores do programa Big Brother Brasil (BBB), reality da TV Globo, “entrando na casa de dezenas de milhões de brasileiros com suas
propagandas e ativações no horário nobre dos canais mais assistidos da televisão brasileira”. Na semana passada, a Americanas cancelou a participação no BBB23 após a divulgação do rombo de R$ 20 bilhões.

Os argumentos convenceram. Com o pedido aceito, a varejista terá 60 dias para apresentar um plano de reestruturação de dívidas. O plano deverá, então, ser aceito pela maioria dos seus mais de 16 mil credores, entre bancos, funcionários, fornecedores e outros prestadores de serviços.

Entenda a crise

O pedido ocorre 8 dias após a varejista informar ao mercado a existência de um rombo contábil de R$ 20 bilhões em seu balanço financeiro.

“A Americanas é, sem receio de se estar cometendo um exagero, uma gigante nos mercados brasileiro e mundial, que precisa do apoio e da compreensão do Poder Judiciário e dos credores para superar essa crise”, afirmou a empresa no pedido de recuperação.

Com mais de 40 mil funcionários e uma rede de 50 milhões de clientes, a varejista vendeu R$ 39 bilhões nos primeiros 9 meses de 2022. Ela está entre as maiores varejistas do país, ao lado de Magazine Luiza e Via (dona das marcas Casas Bahia e Ponto).

Na semana passada, a Americanas comunicou ao mercado a existência de “diferenças contábeis” da ordem de R$ 20 bilhões. A empresa não esclareceu a origem do problema, mas o que se sabe até aqui indica que o balanço financeiro da varejista foi maquiado para exibir uma dívida muito menor do que a real.

Até a semana passada, o volume de passivos da Americanas com fornecedores e bancos estava perto de R$ 20 bilhões. Revelado o problema contábil, a empresa anunciou que o endividamento real é de cerca de R$ 43 bilhões.

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