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Oferta de crédito-ponte por sócios da Americanas enfrenta resistência

Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles teriam proposto um empréstimo-ponte, chamado de DIP, de US$ 2 bilhões para a Americanas

atualizado

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A cruz ou a espada. É essa a escolha que os bancos terão, caso vingue uma proposta de empréstimo-ponte dos acionistas de referência da Americanas, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, para a varejista.

Nos termos técnicos, tal empréstimo é chamado de DIP (sigla para o termo em inglês debtor in possession). No Brasil, o mecanismo já foi usado pela OGX e pela Oi, empresas que também passaram por um litigioso processo de recuperação judicial.

Se aceitarem a proposta dos sócios da Americanas, que seria de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões), os bancos dividirão o posto de credores com o trio de bilionários. De acionistas, Lemann, Sicupira e Telles também passariam a ter algo a receber da Americanas.

O dinheiro seria usado para fazer a roda da empresa girar, uma vez que, sem caixa e com os fornecedores exigindo pagamentos à vista, a Americanas corre o risco de não conseguir comprar mercadorias novas, o que inviabilizaria sua operação.

A questão é que, pela lei, todo crédito que é tomado depois de um pedido de recuperação judicial deve ser pago antes das dívidas feitas em datas anteriores à do pedido de reestruturação. Essa estrutura vale ainda mais para o DIP, pois o crédito é concedido sabendo-se que a situação da empresa é muito delicada.

Ou seja: se colocarem os bilhões na Americanas no formato de um crédito-ponte, Lemann, Sicupira e Telles terão prioridade para receber esses recursos de volta, passando na frente dos bancos, que têm dívidas de mais de R$ 25 bilhões contratadas antes do pedido de recuperação judicial, caso a varejista vá à falência.

Dada a natureza do problema da Americanas (um rombo contábil de R$ 20 bilhões causado por uma maquiagem no balanço feita com a autorização de pessoas que ainda não foram responsabilizadas), a reação natural dos bancos seria a de dizer que o empréstimo-ponte feito pelos acionistas está fora de cogitação.

Capitalização ou empréstimo-ponte

O que os bancos querem mesmo é que o trio de acionistas coloque dinheiro na Americanas no formato de uma capitalização. Lemann, Sicupira e Telles comprariam novas ações da empresa, ficariam com uma participação maior no negócio, e o dinheiro arrecadado iria para o caixa, para manter a operação da empresa.

Os bancos teriam exigido cerca de R$ 15 bilhões, enquanto os sócios, em uma proposta feita logo no início, antes de toda batalha judicial com os credores, teriam ofertado algo como R$ 6 bilhões. O que se diz agora é que não dá para saber nem se os R$ 6 bilhões estão na mesa mais, e as negociações estão praticamente paradas.

O empréstimo-ponte seria uma forma de destravar as conversas e garantir alguma sobrevivência para a Americanas até que o plano de recuperação judicial seja apresentado. O prazo para que isso ocorra é de 60 dias.

Para amenizar o mal-estar causado pela proposta, o trio de bilionários teria convidado os bancos a participarem com 50% do valor do novo crédito. Ou seja: os sócios colocariam US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões) e os bancos colocariam outro US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões) e todos ganhariam a mesma posição de preferência para receber o dinheiro de volta.

Se a proposta vai ser aceita é difícil saber, dada a alta temperatura da disputa judicial entre a Americanas e os bancos.

Na semana passada, o Bradesco obteve na Justiça uma liminar para instaurar uma investigação independente na varejista, que deve varrer, inclusive, os e-mails de executivos, conselheiros e acionistas. Beto Sicupira e sua filha, Cecília, além do filho de Jorge Paulo Lemann, Paulo Alberto Lemann, estão na lista dos que teriam os e-mails devassados por terem sido conselheiros. O desgaste familiar também diminuiu a disposição dos bilionários de negociar com os bancos.

“Com o empréstimo-ponte, os acionistas tentam dizer: ‘olha, eu vou ajoelhar no milho para salvar a Americanas, mas vocês precisam ajoelhar também’. Se o assunto for bem conversado, pode ser que os bancos aceitem, porque, se não aceitarem, não terão mais com quem negociar. A empresa não tem dinheiro para operar e com uma falência todos perdem”, avalia uma fonte que acompanha o tema.

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