O que se sabe até agora do rombo de R$ 20 bi no balanço da Americanas
Ontem (10/1), Americanas informou ter encontrado “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões; valor coloca à mesa risco de empresa quebrar
atualizado
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Dona das marcas Lojas Americanas, Americanas.com, Submarino e Shoptime, a Americanas vive seu pior dia da história. Ontem (10/1), a empresa comunicou ao mercado ter encontrado inconsistências em seu balanço financeiro da ordem de R$ 20 bilhões.
No dia após o anúncio, as ações abriram em queda de 75%. Por causa da queda vertiginosa, os papéis tiveram a negociação suspensa temporariamente, processo chamado de leilão pela Bolsa de Valores.
Empresa de capital aberto, a Americanas tem como principal acionista a gestora de investimentos 3G. O negócio, pertencente aos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, tem pouco mais de 30% das ações da varejista. Além da participação na Americanas, Lemann, Sicupira e Telles são sócios da Ambev e da Kraft Heinz.
Segundo o comunicado da varejista, o problema estaria no lançamento contábil de financiamentos com fornecedores. Na prática, a Americanas teria reportado um volume de dívidas menor do que o real. O comunicado diz que os problemas teriam acontecido no exercício de 2022 e em anos anteriores, mas não diz em qual período exato os números inconsistentes teriam sido lançados.
Analistas ouvidos pelo Metrópoles dizem que, com as informações divulgadas até aqui, é possível levantar duas hipóteses. A primeira é de que houve manipulação contábil – ou seja, a empresa teria “escondido” parte das dívidas de forma intencional. Isso poderia ter ocorrido, por exemplo, lançando débitos na linha de conta de fornecedores, ao invés de dívida.
Outra hipótese é que, na negociação com fornecedores, os pagamentos feitos foram maiores do que os efetivamente comunicados para a área financeira.
A Americanas informou ainda estar apurando o que realmente ocorreu. A confirmação das irregularidades e dos valores envolvidos será feita por uma auditoria independente.
Maior fraude da história
Ainda é cedo para dizer se alguma dessas hipóteses se confirmará, ou se algum outro evento poderá explicar uma diferença desse volume. O fato é que, se confirmada uma fraude, será possivelmente a maior já registrada em companhias privadas. Para se ter ideia, a fraude que resultou na falência do Banco Panamericano foi de R$ 4 bilhões.
O presidente recém-empossado na Americanas, Sergio Rial, pediu demissão. Ele foi acompanhado pelo diretor financeiro, André Covre. No cargo há apenas 10 dias, Rial e Covre renunciaram ao identificar os erros, que teriam acontecido em 2022, antes de os novo executivos assumirem os cargos.
Uma fonte a par do assunto confidenciou, em condição de anonimato, que os problemas estariam concentrados nos balanços dos últimos quatro anos, mas a investigação está varrendo o histórico da última década. No período, o presidente da Americanas era Miguel Gutierrez, executivo que ficou no cargo por mais de 20 anos e foi substituído por Rial na semana passada.
Rial fala
Em teleconferência convocada com analistas e gestores do mercado financeiro na manhã desta quinta-feira (11/1), Rial não avançou nos detalhes sobre as investigações internas. Segundo o executivo, ele não estaria em posição para afirmar que houve fraude na Americanas. Mas alguns sinais sobre a dimensão do problema foram dados.
“A Americanas tem mais dívida do que o imaginado pelo mercado”, teria admitido Rial, segundo um analista que acompanhou a fala e pediu anonimato.
O executivo confirmou apenas que o problema está no risco sacado, como é chamada a antecipação de recursos para fornecedores. Na visão de Rial, que também foi presidente do Santander, não há risco de liquidez para a empresa. Ou seja, o caixa não deverá ser impactado, a princípio.
O problema é que os bancos donos de dívidas com a Americanas podem exigir o pagamento antecipado dos financiamentos. Se isso ocorrer, aí sim a empresa terá um problema de liquidez.
Nos próximos dias, o executivo nomeado pelo conselho para substituir Rial, João Guerra deverá passar longas horas conversando com credores para tentar evitar que as dívidas sejam executadas.