O que pode impedir a queda acentuada da taxa de juros no Brasil
Se depender do mercado, os próximos cortes da Selic serão parrudos. Mas os economistas alertam que há fatores de risco no cenário adiante
atualizado
Compartilhar notícia
Se depender dos agentes econômicos, os juros básicos do país vão engatar forte sequência de quedas até o fim deste ano. Principalmente depois que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), anunciou, na quarta-feira (2/8), corte de 0,50 ponto percentual da taxa Selic, agora fixada em 13,25% ao ano.
É isso o que também indica uma pesquisa com 112 integrantes do mercado financeiro, realizada pela corretora independente BGC Liquidez, divulgada na quarta-feira (2/8) pelo Metrópoles.
No levantamento, 83% dos entrevistados apostaram num corte de 0,50 ponto percentual (p.p.) dos juros, em setembro. Outros 10% foram além: falaram em redução de 0,75 p.p. Em novembro, aumenta o número de integrantes do mercado que acredita numa redução de 0,75 p.p. Eles passam a representar 21% da mostra.
Ocorre que, na avaliação de economistas, há fatores que podem atrapalhar essa marcha rumo a uma redução veloz e firme dos juros no Brasil. Os entraves dividem-se em internos e externos. Veja a lista a seguir.
Inflação
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de -0,08% em junho, 0,31 ponto percentual abaixo da taxa de maio (0,23%). “Embora tenha caído no mês passado, a inflação doméstica ainda inspira atenção”, diz o economista Márcio Holland, professor da Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP).
El Niño
Holland observa que a pressão inflacionária pode ter origem no clima. “Há riscos de quebra de safra e alta de preços de alimentos, dependendo da intensidade da passagem do El Niño”, diz. Por enquanto, o alívio nos preços de alimentos tem favorecido fortemente a queda a inflação no Brasil. Mas, caso o fenômeno climático se mostre forte, novas pressões inflacionárias podem surgir em 2024, ou mesmo, no fim de 2023.
Combustíveis
O economista André Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), indica como fator de risco o preço do barril de petróleo, defasado em relação ao mercado internacional (em cerca de 9%). “Isso pode demandar um reajuste dos combustíveis e a gasolina tem peso grande, algo em torno de 5%, no IPCA”, diz. “Se o aumento vier junto com uma elevação do diesel, que movimenta o país com o transporte público urbano e rodoviário, pode haver um ‘espalhamento’ da pressão inflacionária.”
Serviços
Braz nota ainda que o setor de serviços tem dado sinais de aquecimento. “Esse segmento inclui despesas como pagar médicos, escolas, aluguel e condomínio, por exemplo”, afirma. “Esses preços estão cedendo, mas lentamente.”
Política
Para Holland, a política também é uma constante incógnita no Brasil. “Problemas entre o Executivo e o Congresso aumentam incertezas e produzem pressões inflacionárias”, diz. “Além disso, temos um excesso de estímulos da economia no curto prazo, com um governo que deseja maiores taxas de crescimento.”
Choques externos
Por fim, observam os economistas, há os choques externos. “Isso, em especial, via preços de petróleo, o que depende sempre de fatores alheios ao Brasil, como decisões da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo)”, diz Holland. “Contam ainda elementos como crescimento mundial e chinês, além do desenvolvimento da guerra na Ucrânia. Em resumo, ainda são muitas as pedras no caminho para um caminho tranquilo até juros mais baixos.”