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O que levou ao “boom” das fintechs de pagamentos no Brasil

Compra da brasileira Pismo pela Visa em transação bilionária é símbolo do fervilhante mercado de pagamentos, que disparou nos últimos anos

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Mulher negra, de máscara, observa maquininha de cartão enquanto segura o celular em um mercado - Metrópoles
1 de 1 Mulher negra, de máscara, observa maquininha de cartão enquanto segura o celular em um mercado - Metrópoles - Foto: Getty Images

Para onde quer que se olhe nas grandes cidades, eles estarão lá: QR codes, pagamentos por aproximação, Pix, carteiras no celular e muitas outras tecnologias que fazem com que oito em cada dez transações financeiras já ocorram por meio digital no Brasil.

Um dos sinais eloquentes dessa transformação do mercado é a aquisição da fintech Pismo pela gigante americana Visa, por US$ 1 bilhão no mês passado. A transação é uma das maiores da história do setor.

A Pismo oferece uma infraestrutura de pagamentos em nuvem para outras instituições financeiras e faz isso em um mercado em que há cada vez mais clientes. O Brasil vive o que o Banco Central chamou de “um amplo processo de digitalização dos meios de pagamento”: em três anos, o percentual de transações feitas só por celular saltou de 28% em 2019 para 79% em 2022, segundo o BC.

“A Pismo não traz o produto para o cliente final e sim para outras empresas. É um caso brilhante e representativo, porque essa é uma demanda que surgiu exatamente por esse aumento dos pagamentos digitais”, diz Ingrid Barth, presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) e cofundadora do banco digital Linker.

Os montantes envolvidos na transação da Pismo são fora da curva e não devem se repetir tão cedo. Ainda assim, as fintechs continuam a ser negócios atrativos no universo das startups. No ano passado, as fintechs no Brasil receberam mais de US$ 1,7 bilhão em aportes de capital de risco, segundo levantamento do Distrito, quase 40% de todo o volume destinado às startups brasileiras.

“O setor de pagamentos está fervendo globalmente, e o Brasil acelerou muito esse processo de digitalização na pandemia”, resume Ivan Habe, sócio líder de pagamentos da consultoria Ernst & Young (EY).

Muito antes do Pix

Especialistas do setor ressaltam que o cenário de hoje, apesar do crescimento recente, deu os primeiros passos há mais de uma década. O Banco Central capitaneou algumas das principais mudanças, sobretudo a partir de 2013, com o Sistema de Pagamentos Brasileiro, que abriu caminho para bancos e carteiras digitais, e o fim da exclusividade entre bandeiras e maquininhas de cartão.

“Tais inovações regulatórias, aliadas ao desenvolvimento tecnológico do setor de pagamentos, criaram as bases para o aumento da concorrência no setor”, diz o professor João Manoel de Lima Junior, coordenador do Núcleo de Estudos Avançados de Regulação do Sistema Financeiro Nacional da FGV Direito, no Rio de Janeiro.

De lá para cá, surgiram startups que são agora empresas bilionárias de capital aberto, como o banco digital Nubank, que começou com um cartão de crédito sem taxas, e nomes como PagSeguro e Stone, que nasceram com máquinas de cartão e hoje oferecem sistemas muito mais complexos a lojistas.

“Em 2013, quando o BC deu os primeiros passos para abrir o mercado, o Nubank mal existia, o Pix estava longe de ser lançado e havia duas, três maquininhas, que só passavam certas bandeiras de cartão. O mundo dos pagamentos era outro”, afirma Alexandre Ripamonti, professor de Finanças da ESPM, em São Paulo.

Todos querem ser fintech

Ao todo, o Brasil soma mais de 200 fintechs ativas, segundo mapeamento da Abstartups, a maioria delas criada depois de 2019 e com uma em cada cinco atuando diretamente na oferta de meios de pagamento. Na outra ponta, companhias de vários setores também têm lançado seus próprios produtos financeiros, que vão de pagamentos a carteiras digitais próprias, crédito e marketplace.

“O Brasil é um mercado super propenso a esse crescimento, porque a tecnologia dos bancos sempre foi muito avançada e a tecnologia das fintechs brasileiras também é”, diz Ripamonti, da ESPM. “É a receita perfeita para uma gigante como a Visa, que decidiu comprar a Pismo.”

Além do espaço aberto pela regulação, Regis Borges, diretor executivo da EY e especialista em fintechs e pagamentos, aponta que um fator específico no Brasil é o perfil do consumidor local, que abraça como poucos as novidades tecnológicas.

“É só ver a rapidez com que o Pix se popularizou”, diz Borges. “Isso ajudou muito as fintechs locais. É um mercado que já estava bombando, mas a facilidade com que a população tem usado essas novas tecnologias foi crucial.”

Para os próximos anos, apesar de um cenário muito mais desafiador com a alta de juros global, o setor segue otimista com as oportunidades no mercado de pagamentos brasileiro e em serviços relacionados. Estão no radar frentes como o avanço do Open Finance (que permite maior acesso a dados bancários para agentes menores), novos lançamentos no Pix, a bancarização acelerada dos brasileiros e a expansão de ativos digitais, como criptomoedas e o “Real Digital” estudado pelo BC.

Barth, da Abstartups, lembra que o Brasil já se aproxima com o Pix da proporção de transações da Índia, pioneira nos pagamentos instantâneos. “Eles levaram de sete a dez anos para atingir esse patamar, nós levamos três”, diz. “É uma mostra de que temos uma demanda muito grande do consumidor, que sempre viveu em um mercado muito concentrado. Não acredito que estamos próximos do platô de inovação para as fintechs. Na minha visão, está só começando”, afirma a executiva.

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